Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Vocês não vão acreditar, mas eu conheci uma Elvira lá no Ipiranga, em São Paulo. Isso pelo início dos anos de 1960, eu mocinho, a danada bonita e trabalhava de secretária do lar em casa de família nos Jardins.

Tempos bons aqueles, oh que saudades que eu tenho. Aliás, não tenho muitas saudades do poema “Meus Oito Anos”, do Casimiro de Abreu. Escalado pela professora, no ginásio, para declamar o bendito, fui um fiasco, por conta da minha timidez, saiu uma poesia tatibitate, quando a obra é belíssima.

Elvira era uma morena cheirosa e bonitinha –me perdoem os politicamente corretos–, graciosa e educada. Muito amorosa, me iniciou nos segredos do amor. Ah, Elvira do Ipiranga. Ou era Sacomã? Agora não sei bem, melhor Ipiranga. Eu pegava o ônibus Moema e saltava com ela perto do trabalho, bastava uma pernada. Lá nos deparávamos com o porteiro, mordomo, sei lá, com uma má catadura. Não fui mais.

Garotão ainda, estava acostumado a perambular pelos parques, com colegas, depois de matar aula –não contem para as crianças e jovens–, mas eu acordei a tempo. Pegava carona fácil para o Ibirapuera, naquele tempo não tinha a criminalidade de hoje, e ficava vagabundeando pelas novas Fenit, UD e Salões do Automóvel que estavam em evidência.

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Certa feita, pegamos carona com a mulher daquele professor famoso na época, autor de um livro amplamente adotado, Osvaldo Sangiorgi, de matemática, matéria terror no ginásio. No sistema anterior não havia a salvadora recuperação ou trabalho para somar os pontos para passar. Era um tal de exame de segunda época, em fevereiro, ninguém lhe ajudava e você abria o livro e não entendia nada. Resultado: bomba!

A Elvira do Ipiranga, agora famosa por força do cantar recente e iluminado de uma cantora brasileira −hoje um meme−, eu conheci justamente num parque, aquele do Museu do Ipiranga. Conversa vai, conversa vem, ficamos −como se diz agora.

Isto me faz recordar como tínhamos de aprender poemas e as letras dos hinos, não digo com perfeição, mas quase. Havia as paródias, que nós gostávamos e hoje os jovens não sabem nem o que são. O Nacional começava com a introdução do “laranja da china”, o da independência era o “japonês tem quatro filhos, todos eles são irmãos”, e havia o impagável “sonhei com a imagem sua, tirei…”, e mais não digo em homenagem ao pudor, ressuscitando esta palavra.

Mas Elvira do Ipiranga só aquela gatinha que eu conheci…

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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