− Oi, Zé. Mas como você está gordo, hein?
Era assim que uma pessoa me cumprimentava de maneira nada agradável –não digo o nome, não digo quando, não digo onde. Mesmo depois de mais de ano sem contato. Não refrescava, não tinha “como vai?”, “que bom te ver”, nada disso.
Não era só comigo, que alívio, mas confesso a sensação desagradável. O que a bendita não tinha é nenhum constrangimento, o outro que se consumisse com a abordagem. Talvez escondesse alguma mágoa, ou queria se vingar do mundo, ou de uma infância infeliz. Ou simplesmente não gostava de mim, não falo nem em despeito ou inveja. Sei lá. Há pessoas que têm a habilidade de cutucar até quando aparentemente elogiam. Dão arrepios.
Como muitas vezes falta a nós, seres humanos –nuns mais, noutros menos–, inteligência empática. Empatia, aquilo de se colocar no lugar da outra pessoa, compreendendo essa outra individualidade. Saindo do seu quadrado de egoísmo, tentando entender o que o outro sente ou pode sentir. Como você deve ter ouvido: calçar os sapatos do outro. Não me gabo de alto nível nessa qualidade. Mas essa tal era especialista na área.
Aliás, com respeito à minha situação com a balança, na época, não estava nem tão gordo. Porém, gordo ou gordinho, ninguém gosta de ser lembrado do peso, para mais ou para menos. Quem quer engordar não vai gostar que se lembrem de sua magreza; e o gordo odeia ser lembrado de seu fracasso diante da balança.
Existem até as observações –de impertinentes, invejosos ou sem noção– de que você emagreceu. Não emagreceu, pelo contrário. A pessoa é que imagina você mais gordo do que é: significa que não lhe dá muita atenção. De qualquer modo, tudo muito irritante e ofensivo.
Diante daquela cutucada, não retribuí a malcriação, até porque meus pais se levantariam de seus túmulos. Fiquei quieto. Ao longo da vida descobri que não se deve passar recibo –como se diz−, o que frustra o agressor. Fingir que não entendeu, não revelar o sentimento. A pessoa acha que você é burro, ingênuo ou mesmo que aceitou; só que não, apenas não demonstrou que a ofensa o atingiu. Aí, quem sai mais ferido é o ofensor.
Apenas aquelas pessoas dotadas de um espírito pronto, as chamadas espirituosas, devem responder. Conheço algumas poucas, boas nas respostas prontas contra qualquer tipo de situação, com muita ironia e fineza. Nada a ver com grosseria e sim com inteligência, que só o espirituoso tem aguçada. Como tia Filoca, que falou quando lhe contei:
− Ah, meu filho, se fosse comigo ela ia ver. Você deveria ter respondido no mesmo pé, perguntando:
− E como você está velha, hein?
Não tente fazer isso em casa.
> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.