Não há como escapar do tema. Acordamos pandemia, dormimos pandemia, ligamos a TV, mais pandemia, o assunto em casa é pandemia.
Minha relutância em aceitar o convite para compor o staff de colunistas do SuperBairro, feito pelo supercolega Wagner Matheus, foi baseada justamente na dificuldade que eu teria em encontrar temas leves, divertidos aos leitores do veículo, mesmo que a proposta seja para falar de praia.
A colega colunista Vana Allas abordou bem a questão da dificuldade de encontrar leveza em tempos tão difíceis como o que vivemos hoje.
Pois bem, aceito o convite para falar de questões praianas, afinal estou morando a duas quadras do oceano, e conformada em não ter outra opção a não ser falar de pandemia, aí vão minhas reflexões.
Mesmo estando reclusa por muito tempo e procurando ao máximo ter um mínimo de reserva de sanidade mental, consigo ouvir a brisa balançando meu coqueiro, solene e indiferente a todo o caos sanitário. Consigo, no silêncio das tardes, ouvir as ondas do mar quebrando.
O que vem me sobressaltando e causando uma angústia avassaladora é o barulho ensurdecedor de uma sirene que, pelo menos três vezes ao dia, parece avisar que o avião inimigo está chegando em voo rasante e vai largar uma bomba para arrasar toda a cidade litorânea.
Da minha rede, esticada à sombra das árvores, tento me convencer que se trata de um pesadelo. Mas é realidade, infelizmente. Com uma única diferença. A sirene é de um veículo da Prefeitura que toca terror nos transeuntes, solicitando que todos usem máscara, que todos se mantenham em casa, que todos respeitem e temam essa doença, pois ela mata. Mata mais que bomba.
> Márcia Regina de Paula é jornalista (MTb nº 20.450/SP) há 37 anos. Mora em Caraguatatuba há quatro anos, depois de ter vivido por 28 anos em São José dos Campos.