Você não vai ver notícias do conflito entre Israel e o Hamas palestino aqui no SuperBairro, portal de notícias do qual eu sou editor. Da mesma forma, não viu nada sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, assim como milhares de outros acontecimentos que ocorrem no mundo o tempo todo.
Isto acontece porque o SuperBairro, apesar de procurar selecionar os fatos mais importantes e levá-los até você, optou por não cobrir acontecimentos internacionais. O motivo é simples: toda a imprensa brasileira que cobre o que ocorre no mundo faz isso assinando os serviços de agências internacionais que distribuem o noticiário.
Isso custa caro. Daí a nossa decisão de levar até você notícias da região do SuperBairro (centro novo e parte da região oeste), da cidade de São José dos Campos, da RMVale, do estado de São Paulo e do país. Tudo de forma muito sucinta, é claro, do tipo “a notícia mais importante do dia”. Afinal, quem deseja se aprofundar no noticiário pode ter acesso a portais de notícias das grandes empresas de mídia. O SuperBairro aposta no jornalismo hiperlocal, ou seja, no que está acontecendo a poucos metros ou a poucos quilômetros de você.
Dito isto, vou colocar aqui a minha colher na briga entre israelenses e palestinos, porém como opinião, não como notícia. Vou evitar entrar no aspecto mais cerebral desse confronto, ou seja, os objetivos políticos e militares dos dois lados. Também não vou recuar à criação do Estado de Israel, lá no longínquo ano de 1947, para dizer quem tem razão. Mesmo porque, esta é uma pergunta quase impossível de ser respondida.
Só vou fazer aqui algumas constatações que, já aviso, são fruto de leituras durante toda a minha vida adulta sobre o que acontece no Oriente Médio:
– Após o final da Segunda Guerra Mundial, quando o povo israelense foi juntado e, parte dele exterminado, como um rebanho pelo famigerado III Reich e seus asseclas, seria uma monstruosidade não reconhecer o direito a um território aos milhões de sobreviventes que não tiveram o mesmo fim de estimados 6 milhões de mortos no Holocausto. E onde mais exercer esse direito que na região histórica na qual esse povo teve origem?
– De outro lado, nessa região estava o povo palestino, com iguais direitos a vida, terra e liberdade. E o que deveria ter sido feito naquele momento? No meu modo de ver, o estabelecimento de fronteiras claramente definidas com o respeito à soberania dos dois lados. Simplificando, mais ou menos como acontece com Brasil e Argentina aqui na América do Sul. Qualquer um sabe se está em território brasileiro ou em território argentino. E ambos os lados têm total soberania.
– Porém, a recém-criada, na época, Organização das Nações Unidas (ONU), não obteve na prática o mesmo sucesso que encontrou nos papéis e a solução para dar um território a Israel não foi bem aceita por todo o mundo árabe, que se solidarizou com o povo palestino.
– O que resultou desse acordo mal costurado é o que explica os intermináveis conflitos que têm ocorrido desde então, começando pela Guerra dos Seis Dias, em 1967, passando por conflitos em sequência com intervalos de poucos anos entre eles, por assassinatos de líderes dos dois lados, até chegar aos dias de hoje.
– E como estão os dias de hoje? De um lado, temos Israel próspero, rico, tecnológico, científico e poderoso mundialmente. Do outro lado, o Estado da Palestina, com independência declarada em 15 de novembro de 1988, mas que até hoje vive em dois territórios não exatamente soberanos, um na Cisjordânia e outro na Faixa de Gaza.
– Se existem territórios para israelenses e palestinos viverem, você e eu perguntaremos: Por que não se chegou a um acordo satisfatório até agora? Uma boa pergunta, porém, com péssimas respostas. Uma delas, com certeza é a disparidade existente entre os dois lados, um próspero e o outro quase miserável; um com padrinhos poderosos como os Estados Unidos e líderes da Europa, e o outro tratado como o “primo pobre” da relação.
– Qual é, na sua opinião, o principal entrave para uma paz duradoura entre israelenses e palestinos? Na minha, é o fato de os palestinos serem usados como “vitrine” do ódio que boa parte dos árabes nutre por Israel. Não é à toa que o ataque do grupo terrorista Hamas a comunidades no sul de Israel coladas na Faixa de Gaza ocorreu em seguida a uma tentativa de aproximação entre a Arábia Saudita e Israel. E na briga do rochedo (Israel) contra o mar (árabes), quem sofre é o marisco (Palestina).
Você vai dizer que eu estou entrando em uma seara da qual não entendo, estou me metendo em assunto sério demais para o meu tamanho, que estou esquecendo de analisar uma série de motivações desse conflito. De certa forma, concordo. Mas respondo a você, então me apresente o resultado das análises e propostas dos gênios envolvidos nesse problema nos últimos 70 e poucos anos. Falharam do mesmo modo que eu posso estar falhando, não é?
Vou terminar aqui dizendo que, após quatro dias de guerra e milhares de mortos dos dois lados –ninguém sabe exatamente quantos porque uma das armas de qualquer guerra é a mentira–, dá para tirar algumas conclusões também pouco conclusivas:
– Não há uma guerra entre dois países. O que existe é um conflito armado entre um país (Israel) e um grupo terrorista (Hamas);
– A deflagração do conflito armado –não das questões pendentes ao longo desses mais de 70 anos– foi feita pelos terroristas do Hamas;
– A captura de vítimas civis israelenses pelo Hamas viola todas as regras e condutas aceitáveis;
– A estratégia de reação das forças armadas de Israel, por sua vez, sufoca a população civil palestina, que já tem sido sufocada nos “guetos” criados na Cisjordânia e Faixa de Gaza;
– A comunidade internacional, como sempre, aciona seu “piloto automático” de solidariedade em um flagrante desequilíbrio: os países ocidentais mais desenvolvidos apoiam Israel e o mundo árabe apoia os palestinos;
– A ONU, por sua vez, mostra que dá os últimos suspiros antes de uma morte por inanição e por falta de relevância.
Peço desculpas aos especialistas e intelectuais dos dois lados, repetindo, porém, que todo o saber acadêmico dedicado ao tema não tem sido capaz de gerar nenhum resultado prático. Fica o convite para que você dê sua opinião sobre o assunto aqui na página do SuperBairro no Facebook.
Fica, por fim, um apelo –que nunca vai chegar– aos líderes de cada lado: respeitem os civis, principalmente as crianças. São as vítimas de sempre.
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 22 anos.
Retificação – Diferentemente do que afirmei no décimo parágrafo deste texto, a Palestina ainda não é considerada um Estado. Na década de 1990, por meio do Acordo de Oslo, ficou garantido à Palestina o domínio territorial de algumas áreas –a Faixa de Gaza e a Cisjordânia–, mas não a criação de um Estado nacional. Como resultado, foi criado o governo provisório da Autoridade Nacional Palestina (ANP). A população palestina atual estabelecida em Gaza e na Cisjordânia soma 5,1 milhões de habitantes. Veja mais sobre a “Palestina” em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/palestina.htm