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Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Toda vez que queima uma luz em casa e tenho que trocá-la minha mulher começa a rezar temendo que eu caia da escada, provoque um curto-circuito ou sofra uma descarga elétrica.

Exageros à parte, o que quero dizer é que graças a uma notável falta de jeito para pequenos consertos e reparos domésticos estou anos luz distante de ser o “marido de aluguel” ideal em minha própria casa. Quando preciso, chamo um para resolver os problemas mais simples.

Dada essa gritante inabilidade, um sifão entupido, uma resistência queimada ou um vazamento na bacia da privada acabam virando, para mim, contratempos insolúveis. Um pouco também por não ter a ferramenta adequada.

Como minha casa não é nenhuma jovem construção –exceto pela laje prestes a completar um ano– não estou livre de contragostos, principalmente nas redes elétrica e hidráulica, afeitas a desgastes naturais. Some-se a isso o relaxamento –também natural– do dono quanto a ações preventivas. Junta-se então a fome com a vontade de comer, se é que cabe aqui o brocardo popular.

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Cerca de um mês atrás, fui alertado para um desses infortúnios pela dona da pensão, esperançosa por uma rápida solução.

– A torneira do tanque da área de serviço está pingando!!

Corri checar e o que vi justificava a apreensão. A torneira não pingava, jorrava. A solução teria que ser imediata. Levei a mão à borboleta de regulação. Nada! É a borrachinha!, cravei, de cima do meu pote de experiência. Eu só precisava de uma chave de grifo e um anel de borracha do tamanho de uma moeda de dez centavos. Está fácil, pensei.

Mas para dar cabo do constante gotejar era preciso sustar a vazão do cano de alimentação da rede, do contrário não teria êxito e ainda provocaria grande inundação. Seria o caos! Corri fechar o registro na parede do banheiro social que regula o fluxo de água do toalete, da cozinha e da área em questão, foco de minha tribulação.

Quem disse que o registro fechava? O dito simplesmente girava em falso. Nesta minha casa velha uma hora o danado tinha que pifar. Pois pifou junto com a torneira do tanque. O que fazer? Minha mulher queria logo chamar um especialista. Tive que dissuadi-la. Afinal, a torneira vazava por causa e exclusivamente do desgaste da borrachinha. Pedi um tempo para resolver.

Como não consegui fechar o registro e o dia acabou, recorri à velha gambiarra para que a água não jorrasse a noite inteira –nessas horas todo mundo apela! Peguei pouco mais de um metro de barbante, dobrei-o e fiz um amarrio na torneira pressionando a parte de cima à de baixo. O “serviço” tinha ficado muito bom, mas a torneira, inútil. Esqueci a pendenga, mas dona Maria, não!

– Aquela torneira vai ficar amarrada e inutilizada até quando? Eu preciso do tanque!!

Ela tinha razão, pois passava uma semana. Eu temia chamar alguém do ramo e ele dissesse ser preciso trocar a válvula de controle e, para isso, quebrar a parede. Pensei nos azulejos antigos que não tinha para repor, na sujeirada… olhe o tamanho da encrenca! Então, esqueci; mas a minha mulher, não. De vez em quando ela exibia sua zanga e eu fingia-me de morto.

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Assim, fui empurrando com a barriga. Até o dia em que, ao chegar de minha caminhada vespertina, recebi a notícia de que o Lucas, meu filho, morador na recém-construída laje, tinha arrumado a torneira sem desperdiçar um pingo de água.

– Mas como?, perguntei surpreso.

Eu tinha esquecido –mas ele, não!– de que na construção do apartamento sobre minha velha casa, o pedreiro levou as duas caixas d’água para o sótão do sobrado onde, diligentemente, colocou em cada uma um dispositivo para fechar a vazão quando necessário. Ainda bem, pois não tive que quebrar a parede do meu banheiro social.

Voltando ao primeiro parágrafo, fio do novelo desenrolado nesta crônica, pesquisei junto aos meus parcos leitores aqui o que pode acontecer comigo caso precise, de novo, trocar uma lâmpada em casa.

Entre as possibilidades aventadas no início deste texto deu-se um empate técnico dentro da margem de erro. Segundo o levantamento, 10% apostam que do chão não passo, e 8% que reúno todas as credenciais para pôr fogo na casa. Para outros 82%, a melhor escolha é a de dona Maria que, como disse, reza para que eu saia ileso ante a difícil tarefa de substituir uma lâmpada queimada.

 

> Carlos José Bueno é jornalista profissional (MTb nº 12.537). Aposentado e no ócio, brinca. Com os netos e as palavras.

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