Foto / Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Mia Couto

 

Na minha terra

há uma estrada tão larga

que vai de uma berma à outra.

Feita tão de terra

que parece que não foi construída.

Simplesmente, descoberta.

Estrada tão comprida

que um homem

pode caminhar sozinho nela.

É uma estrada

por onde não se vai nem se volta.

Uma estrada

feita apenas para desaparecermos.

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Para Ti

 

Foi para ti

que desfolhei a chuva

para ti soltei o perfume da terra

toquei no nada

e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras

e todas me faltaram

no minuto em que talhei

o sabor do sempre

Para ti dei voz

às minhas mãos

abri os gomos do tempo

assaltei o mundo

e pensei que tudo estava em nós

nesse doce engano

de tudo sermos donos

sem nada termos

simplesmente porque era de noite

e não dormíamos

eu descia em teu peito

para me procurar

e antes que a escuridão

nos cingisse a cintura

ficávamos nos olhos

vivendo de um só

amando de uma só vida.

 

Mia Couto, pseudônimo de Antonio Emílio Leite Couto, é um escritor, poeta e biólogo moçambicano. Nasceu na cidade de Beira, em 5 de julho de 1955. Adotou seu pseudônimo porque tinha paixão por gatos. Dentre os prêmios literários que recebeu, destacam-se o Neustadt, tido como o “Nobel Americano”, e o Prêmio Camões, o mais importante dos países de língua portuguesa. (Fonte: Wikipédia)

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> Júlio Ottoboni é jornalista (MTb nº 22.118) desde 1985. Tem pós-graduação em jornalismo científico e atuou nos principais jornais e revistas do eixo São Paulo, Rio e Paraná. Nascido em São José dos Campos, estuda a obra e vida do poeta Cassiano Ricardo. É autor do livro “A Flauta Que Me Roubaram” e tem seus textos publicados em mais de uma dezena de livros, inclusive coletâneas internacionais.