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Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Estava eu posto em sossego, como Inês, quando ouvi o diálogo entre jovens a respeito de um desejado programa no litoral. Diziam assim:

− Sexta nós descemos pra São Sebá. Vou surfar tudo o que tenho direito e mais alguma coisa. Estou levando um equipamento pra um “stand up paddle”.

Ao que o outro respondeu, entusiasmado:

− Legal, acho que vou surfar também. Eu sempre levo minhas pranchas e bolas. Uma peladinha na praia com a turminha é tudo de bom!

Desde logo explico que tratavam com intimidade de São Sebastião, aqui no nosso Litoral Norte, terra do campeão Gabriel Medina, e “stand up paddle” seria o tal remo em pé, na língua tupiniquim.

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Não estranhei −como não estranho−, embora isso nada tenha a ver comigo. É a velha e aparente dicotomia entre dois perfis: o do introspectivo ou inibido, sonhador, pensativo e contemplativo, em contraste com o dinâmico, extrovertido, instintivo e ativo.

Para um, basta o olhar e o pensar, ver e matutar, desfrutar da beleza sem um retorno material maior, a satisfação estética, o uso do lado direito do cérebro. A não ser como, por exemplo, no caso aventado, refrescar-se no mar, tomar uma cervejinha.  Mas o essencial é contemplar a natureza forte, exuberante e bela, a satisfazer de leve o corpo, ao espírito com mais profundidade, esvaziando a mente dos problemas.

Para o outro perfil, essencial é a coisa dinâmica, material, muitas vezes utilitária ou de risco, adrenalina pura, um desfrute corporal, não interessando nem o olhar, nem o espírito, mas aquilo que se pode obter com o esforço muscular e suas consequências: o sabor da vitória, a exibição, o ego satisfeito.

Quando não uma cervejada na areia, um churrasquinho maneiro, um papo entre gargalhadas e piadas, além de fofocas, bem assim a paquera inevitável. Pandulho cheio, papo em dia, instintos acalmados. Aparentemente um conflito entre o materialismo e a espiritualidade.

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Só que não, compadre!

Como toda atividade humana, as coisas se confundem se entrelaçam e comportam gradações.

Em pequeno, de casa eu era o mais ativo, mais da rua, dentre os limites rigorosos da casa, com mãe vigilante e austera. Não sei se o menos pensativo, talvez alguma hiperatividade. Tudo indica que isso tenha se cristalizado, no âmbito familiar, no meu estereótipo de moleque, que na verdade acabou logo com o casamento.

Para pagar o meu atual sossego e contenção, em contraste com a minha infância, sou punido pela Providência com ocasionais boladas desferidas por rústicos banhistas na praia, pranchadas de “bodysurf” ao tomar banho de mar, ou perigosas estocadas de surfistas, senão fininhas de motos aquáticas.

Outro dia, fugindo das atividades de risco, quase vou desta para melhor ao ser atropelado por uma simples prancha de um menino, que ainda reclamou:

− Ei, tio, cê tá no lugar errado!

Não respondi: fui para o quiosque dos coroas e permaneci na minha contemplação, tomando uma Brahma gelada!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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