− Puxa, vô, eu quero ter um carro, ir pra onde eu quiser. Ah! Eu queria ter dezoito anos agora!
Pensei logo, mas não falei: − Eu também, cara-pálida!
Assim conversávamos, eu e meu neto em início da adolescência, num chuvoso dia de verão, à espera de dias vindouros, o feriado prolongado da Páscoa logo aí. Ele desejando ser mais velho, eu fantasiando com a mocidade!
Lembrei-me da excepcional obra do poeta, teatrólogo e escritor irlandês Oscar Wilde, de língua inglesa, no final dos anos 1800, “O Retrato de Dorian Gray”. É a história de um homem rico e bonito que vende a alma em troca da eterna juventude. Ele sempre permanecia jovem enquanto o seu retrato envelhecia. Leitura essencial, clássico da literatura, não conto o fim. Mas voltarei ao tema.
No entanto, nada a ver comigo, simples mortal, nunca tive essa vaidade, nem nada que justificasse isso. Meu desejo era outro, pasmem: eu queria ser mais velho. Bem, até que consegui, né? Que tolice, não?
Hoje, na maturidade e avançando aos trancos, na idade do condor, não penso mais assim. Já que tudo, na verdade, tem o seu tempo, desfrute o dia de hoje. A juventude passa rápido.
Mais que isso –e isso vale para os atuais famosos da TV– a notoriedade, bem como o poder, é fugaz, desaparece logo (“gloria mundi, sic transit”). Daqui a alguns anos ninguém vai saber quem era Anitta, Mc alguma coisa, não sei o que Todinho, assim como as atrizes e atores bonitinhos das novelas.
Não é? Pergunte a alguém com mais de setenta anos –e na atualidade são muitos– quem foi Elza Laranjeira, Odete Lara, Almir Ribeiro, David Nasser, Roberto Luna, Jair Amorim (não é treinador de futebol) ou Dunga (não é o capitão vigoroso do tetra). Não sabem? Pois foram algumas das pessoas famosas –e muito− na década de 1950.
E as artistas de cinema na minha adolescência, Brigitte Bardot, Sophia Loren e Claudia Cardinale, entre outras belíssimas atrizes do cinema mundial? Morreram? Não, estão vivas, mas não aconselho contemplar suas fotos atuais.
Outro dia caí na besteira de ver uma rara fotografia da Brigitte –com todo respeito–, uma decadência natural, porém chocante, no entanto nada mais que o mero passar do tempo. Inclemente, como é para todo mundo, inclusive para este escriba. A beleza −o viço, que seja−, a pessoa desfrutou num pequeno período de sua vida, vivendo a maior parte desta na maturidade.
A notoriedade e o poder também desaparecem no ar, é preciso não se iludir e ter convicções virtuosas e fundadas, sobretudo tentar aprender o que importa na vida, começando por conhecer a si próprio.
Os muitos famosos artistas masculinos não ficaram para trás no fatal decaimento. Alain Delon, aclamado o homem mais bonito do cinema, hoje lamentavelmente é um caco –nenhuma ponta de inveja, gente. E notícia terrível é de que quer se matar. O tempo vem para todos, e se a pessoa não encontra respaldo no intelecto e no espírito, poderá ficar em apuros, numa vida sem sentido.
Só não quero agora ficar mais velho e acabado –mais moço não desejo nem posso. Só me livre o Senhor da rabugice extrema e da inconveniência de um velho sem noção, dando sossego aos ouvidos alheios. Como sempre diz minha zelosa mulher:
− Pare de falar, Zé, ouça um pouco! Segure a ansiedade.
Sim, aceito. Pelo menos fico com menos rugas de preocupação!
> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.