O sensacionalismo nas emissoras de TV é o fio condutor deste ótimo filme. Louis Bloom (Jake Gyllenhaal: “O Segredo de Brokeback Mountain”, “Os Suspeitos”, “Demolição”) é um jovem desempregado e sem profissão definida que, dirigindo seu velho automóvel na madrugada de Los Angeles, a caminho de casa, presencia um acidente.
Mais do que os destroços e o estado da vítima, o que desperta o interesse de Louis é a chegada de cinegrafistas independentes disputando os melhores ângulos e cenas; sem nunca ter manuseado uma câmera, ele enxerga ali a oportunidade de um trabalho.
Los Angeles, Chicago, São Paulo, Rio de Janeiro, não importa a cidade, o fato incontestável é que o registro de imagens chocantes dos mais diversos tipos de crimes, perseguições policiais e acidentes de trânsito ainda são muito lucrativos para a mídia. Lançado em 2014, “O Abutre” (Nightcrawler) mostra que a audiência dos telejornais do café da manhã norte-americanos é medida pela dosagem de sangue e desgraça alheias; sensacionalismo, portanto, não é privilégio dos fins de tarde da televisão brasileira.
Uma das cenas marcantes é a do protagonista agachado sobre o capô do carro, no meio da noite, aguardando a captação das chamadas da linha 911 (por meio de um rádio amador instalado ilegalmente no veículo); representando precisamente aquele momento, a pose dele é idêntica a um abutre à espera de carniça.
Esse é o método utilizado por Bloom para chegar ao local do crime antes dos policiais e obter as imagens –ainda que seja necessário alterar a cena do crime– que agradarão sua cliente Nina (Rene Russo: “Um Senhor Estagiário”, “O Preço de Um Resgate”), uma inescrupulosa diretora do programa televisivo de notícias.
Assisti no cinema e revi no streaming Prime. Se você ainda não viu “O Abutre”, corra para fazer a pipoca… Esse é o tipo de filme em que sequer piscamos os olhos!
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GIPSY
A psicóloga Jean (Naomi Watts: “O Impossível”, “Diana”, “O Despertar de Uma Paixão”) tem uma compulsão à intromissão oculta na vida dos pacientes, o que já lhe causou problemas jurídicos no passado. Casada e mãe, ela trabalha numa clínica com outros psicólogos, mas nas reuniões semanais de discussão sobre o andamento dos atendimentos, Jean esconde dos colegas a real situação de seus pacientes, inclusive alterando prontuários. “Gipsy” (Cigana) é um título bem adequado para esta série de suspense da Netflix, em que a protagonista vai mudando de identidade (conscientemente) e circulando pelos diferentes ambientes e relacionamentos de seus pacientes, na tentativa de (des)ajustá-los.
> Tila Pinski é jornalista (MTb 13.418/SP), atua como redatora e revisora de textos, coordenadora editorial e roteirista. Cinéfila, reside há nove anos na Vila Ema.