Estava a assar sossegadamente a minha batata doce na grande fogueira, no dia de São João, quando um malvado resolveu soltar um buscapé ali próximo. Não preciso dizer que foi uma correria louca da molecada, o bendito buscapé zunia queimando de um lado para o outro, passou rente à fogueira, jogando brasa para todos os lados e arruinou a minha batata, que já estava quase pronta.
Isso, evidentemente, há muitos anos atrás, quando era mais livre o manuseio de fogos, com mais perigo é claro, porém com muita emoção. Sem falar nos incontáveis balões a encherem o céu, hoje inaceitáveis.
Nós garotos adorávamos fazer foguetes improvisados e soltar gordas bombas para arremessar latas aos ares, assim como assustar as pessoas. Sempre havia uma fogueira em um terreno baldio, em todos os bairros e eu diria: em todas as ruas, geralmente de terra.
Como eram gostosos os quitutes das festas juninas em São José dos Campos, se não feitos em casa, reunindo a parentada, principalmente em alguns lugares públicos, como ocorre até os dias atuais. Comida simples e deliciosa, o mais gostoso o bolinho caipira, secundado por cuscuz, pastel, milho cozido, pinhão, pipoca doce e salgada. Os doces, caseiros, divinos, como de abóbora, de coco, de mamão, laranja, banana. Havia o impagável arroz doce, o indefectível curau, a saborosa canjica, mais o sagu e bolos variados, prevalecendo os de fubá. Não me esqueço das cocadas e dos pés de moleque, sem falar na paçoca socada no pilão, meu doce preferido, com ou sem banana. Bebidas para esquentar, além da malvada caninha, o quentão e o vinho quente.
Os enfeites e as roupas de caipira davam o visual, bandeirolas e postes com gravuras dos santos, especialmente aquele São João de cabelos encaracolados, com o carneirinho. Erguiam-se paus de sebo, para disputas pelas prendas e outras diversões, os flertes e namoros correndo soltos. Quanto casamento não surgiu nessas festas. O ponto alto era a dança de quadrilha, com a encenação do casamento na roça, atuando uma noiva dengosa e insistente, um noivo renitente, o bravo pai da nubente e o furioso delegado completando a pantomima.
A música fazia seu papel com as profusas e tradicionais canções de temas juninos. Cai, cai, balão; Pedro fugiu com a noiva…
Em São José, festa tradicional era a do Padre João, no início perto da Igreja da Matriz, depois no Asilo Santo Antônio, cujo bolinho caipira sempre fez sua fama. O mesmo, depois, na Catedral de São Dimas, concorrida festa, assim como nos Vicentinos, com seu Arraiá do Frederico.
Mais recentes, as festas da Paróquia da Sagrada Família, na Vila Ema, atraindo público numeroso, com a apresentação de música sertaneja, além da festa da Capela de Nossa Senhora de Fátima, no Jardim Nova América. Isto apenas para ficar na zona central da cidade, havendo festas em todas as paróquias. Não se pode esquecer ainda a sempre aguardada festa junina do Clube de Campo Santa Rita, em ambiente muito bonito, sem falar daquelas que as escolas organizam nas suas dependências.
Certo é que não se ombreiam às festas juninas do Nordeste, mas bastam para dar um clima muito agradável a essa época do ano, nos meses de maio a julho, enfrentando-se o friozinho com muita bebida quente.
Voltando ao tema de fogos, que hoje estão quase proibidos pelo barulho que provocam, apavorando animais domésticos, assustando crianças especiais, recordo-me bem das pequenas queimaduras que sofríamos na infância, coisa de nada, fazia parte. Já assar a batata pelava o dedo.
Má sorte teve meu sogro, que sem entender bem de soltar fogos, foi inocente soltar um rojão, aquele de varinha grande, que sobe a grande altura e faz estrondosa explosão. O caso foi que o infeliz segurou o bendito rojão de cabeça para baixo. Não deu outra, ele disparou para o chão e para os lados, queimou o imprevidente e curiosos, ensurdeceu todo mundo. Nunca mais quis ouvir falar em fogos, nem à distância. Preferia ficar comendo bolinho e tomando quentão, no seu canto.
> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.