As florestas gestam vida, muita vida. Dos micro-organismos que cuidam da decomposição de material orgânico aos animais maiores. Onças, guaribas, quatis, macacos, antas, tatus, capivaras, ursos, gorilas, elefantes, girafas, leões, pumas e tantos outros, no mundo todo. Bichos que ainda podem ser descobertos ou reencontrados, após serem julgados extintos, como presentes das florestas.
E pássaros então? Só a nossa mata atlântica tem mais de 800 espécies. O que representa cerca de 45% de todas as espécies encontradas no Brasil, segundo pesquisa da Fapesp. Um quarto desse total está ameaçado de extinção e os motivos são vários. Desmatamento, especulação imobiliária e poluição estão entre os principais. Uma lástima.
Segundo o Serviço Florestal Brasileiro, do Ministério da Agricultura, as florestas contribuem com mais de 70 bilhões de reais em geração de renda para um universo de 3,4 milhões de empregos diretos e indiretos. Nem todos esses números representam desenvolvimento sustentável, mas dão uma ideia da importância das florestas para a economia.
Dia 21 de Março é o Dia Internacional da Floresta. A data foi criada em 1971, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) com o propósito de conscientizar as pessoas sobre o valor de uma floresta em pé.
A data talvez tenha sido escolhida por marcar o início da primavera no hemisfério norte. Por aqui, mais ao sul, ela coincide com o começo do outono. Período em que muitas árvores vão se despir, sem cerimônia, para economizar a energia da rebrota após o inverno e fertilizar o solo com a decomposição de suas vestes.
Tanto faz a estação em que se comemora o Dia da Floresta, hoje ele deveria ser um dos mais importantes do calendário. Criado há 50 anos, no entanto, não parece ter surtido muito efeito de conscientização.
Os tratores e serras elétricas avançam com fome sobre as fronteiras das matas com o urbano. Tudo vai virando pasto, plantação ou condomínio.
Me surpreende sempre que vejo nas redes sociais pessoas espantadas com a presença de um lobo-guará ou até de uma onça perambulando em ruas de condomínios que avançaram sobre a floresta. Eles têm o sagrado direito de ir e vir sobre suas quatros patas, tanto quanto nós.
Fico indignada quando vejo gente reclamando de mosquitos, mas acha sapo nojento e se encontra um no quintal joga sal nele. O que dizer de pessoas que temem escorpiões, mas não hesitam em matar um gambá? Temem os ratos e as doenças que podem transmitir, mas esmagam a cabeça de qualquer cobra que encontrar.
Claro que não devemos criar esses bichos em casa, mas é preciso respeitá-los e preservar os ambientes naturais que habitam. Entender que limites entre nossos espaços e os deles são necessários.
Não se convenceu ainda que é importante preservar florestas e respeitar todas as formas de vida para o equilíbrio do meio ambiente e nossa sobrevivência?
Vamos lembrar então que as florestas são as grandes responsáveis pelos mananciais de água. Dia 22 de março é o Dia Mundial da Água. Mais uma data de conscientização que passa batido pelas grandes multidões.
As florestas são as grandes responsáveis pelo ciclo da água. Evaporação, chuva, infiltração no solo, alimentação do lençol freático… E começar tudo de novo. É matéria de ensino fundamental, mas todos nos esquecemos muito rápido disso, infelizmente.
Florestas urbanas, parques arborizados, ruas e avenidas urbanizadas contribuem para manter a umidade do ar, realimentar nascentes, frear a velocidade das gotas de chuva que despencam para o solo e, assim, ajudar a controlar inundações nas áreas urbanas.
Por isso tudo, falando do verde mais perto da gente, áreas como o Parque da Cidade, Vicentina Aranha, Parque Natural Municipal Augusto Ruschi, Parque Santos Dumont e o Bosque Bethânia são guardiões da vida. Devem ser multiplicados, jamais suprimidos.
Além de nos alimentar de tantas formas, as florestas acalentam, ainda, nossas fantasias mais primitivas e apaixonantes. O que seria dos contos de fada sem o mistério dos troncos retorcidos, o espetáculo das copas frondosas, o gorgulhar da água nas pedras de um riacho, a ternura das clareiras floridas? Floresta é abrigo das fadas, esconderijo das bruxas, morada de ogros, magos e tantas outras personagens que povoam os sonhos e o imaginário da gente desde pequeninos e nos ensinam que uma vida boa é feita de luz e sombra na medida certa.
Floresta em pé é água, é agro, é renda, é vida em abundância. Preserve, defenda, usufrua.
> Maria D’Arc é jornalista (MTb nº 23.310) há 28 anos, pós-graduada em Comunicação Empresarial. Mora na região sudeste de São José dos Campos. É autora do blog recortesurbanos.com.br.