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Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Você que pensou que houve engano no título, diante da atual canícula, está enganado. Bastaria ouvir a rabugenta tia Filoca:

− Eu vou ferver com esse calor dos infernos! O sol está queimando em maio, Zezinho, você já viu isso? Roubaram o frio. É o fim do mundo, comece a rezar, estafermo, é o sinal dos tempos. Está na Bíblia.

− Calma, tia –, respondi.  Pode não ser bem assim, em maio costumava haver um veranico, não? Veja que outros fenômenos estão desde muito interferindo no clima, como los niños da vida, placas tectônicas, vulcões no Pacífico e outros, que acabam por influenciar o regime de chuvas. Já faz tempo que os meteorologistas fazem tais previsões, os políticos é que não prestam atenção ou fingem que não ouviram.

De fato, de maneira até cíclica a Terra sofre alterações naturais, porém nos dois últimos séculos estas estão sendo muito agravadas pela ação humana, como o lançamento de uma quantidade absurda de dióxido de carbono na atmosfera, concorrendo para o aquecimento global. Mas isso parece não ter jeito fácil. Os cientistas, organizações preservacionistas e pessoas de bem −até a mocinha chamada de fedelha− não são ouvidos pelos líderes mundiais.

No entanto, esse pânico escatológico por enquanto não se justifica no sentido religioso. Antes de começar a ver e escutar espertinhos que surfam nessas tragédias ecológicas, para obter sucesso ou dinheiro com postagens oportunistas, melhor é somar na luta pela resolução desse grave problema. A tarefa que se impõe a cada um é fazer a sua parte e se esforçar para convencer os políticos a agir na cessação desses fatores humanos.

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Voltando ao calor, digo, ao frio, os mais jovens não acreditam o friozinho bravo que fazia nesta amada São José dos Campos, de resto em todo sul-sudeste, nos anos 1960-70!

Lá vai ele para a hora do passado, diria o leitor, mas isto serve para, por assim dizer, refrescar um pouquinho a sua cabeça.

Gente, que friozinho gostoso!

Lembro-me particularmente do inverno de 1965, rolava na cidade o campeonato brasileiro juvenil de vôlei. Destaque para o então alto jogador Moreno, depois capitão da seleção brasileira. Eu morava na Rua Santa Clara, Vila Adyana, no atual centro expandido de São José, tudo de terra a partir do largo da Faculdade de Direito. Os jogos se davam no ora provecto –e ainda em atividade– Ginásio da Associação, atual Linneu de Moura, palco de atividades esportistas, bailes e eleições que estão na memória dos mais maduros.

Meu pai mandou fazer para mim um providencial sobretudo de lã, camelo, que me protegeu pela andança à noite e madrugada sem crime pelas ruas desertas da cidade, João Guilhermino, Major Antônio Domingues, Adhemar de Barros, com frio de quatro graus! Imagine onde nesta cidade poderá fazer hoje quatro graus de temperatura?

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Em 1969, um dia antes do meu casamento, trabalhei ajudando a fazer boletins dos Jogos Abertos do Interior. Na madrugada muito fria, com tal casacão salvador até a canela.

Por volta de 1976, eu já com minhas duas filhas, passava sufoco para fazê-las ficar debaixo do lençol frio, com vários cobertores, tendo mesmo de acender álcool na bacia e praticamente calafetar as janelas. E esse frio não era por um ou dois dias não.

Mas não escapei do finalmente da tia Filoca:

− Não adianta você ficar aí rabiscando que havia frio, porque ele não volta mais! Vamos esquentar a carcaça e acostumar com o calorzão, não seja sonhador! Isso se o capeta não vier buscar a gente antes, viu?

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.