Foto / Senado Federal

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

“Nós estamos há 2h30 aqui, três ou quatro senadores aqui querendo não instalar. Qual o medo da CPI? É o medo da CPI ou medo do senador Renan? Me diga você, é medo da CPI ou medo do senador Renan?”

A irritação é do recém-eleito presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19, Omar Aziz (PSD-AM), em meio a uma discussão com o senador Marcos Rogério (DEM-RO).

A CPI vai investigar possíveis omissões do governo federal e mau uso do dinheiro público repassado a governadores e prefeitos para o combate à pandemia.

Para alguns parlamentares da ala governista, a possível indicação do senador Renan Calheiros (MDB-AL) como relator da comissão não agrada.

Porém, acordo já selado leva em conta a proporcionalidade das bancadas. Por isso Calheiros, integrante do partido com maior número de membros, deveria ficar com a relatoria, enquanto Omar Aziz (PSD-AM), da segunda maior bancada da Casa, seria o presidente. A vice-presidência ficaria a cargo do líder da oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do primeiro requerimento de criação da CPI.

A base governista alega que Calheiros sequer poderia participar da comissão por ser pai do governador de Alagoas, Renan Filho (MDB). Isso porque um dos objetos de investigação da CPI é apurar eventual desvio de verbas federais enviadas aos estados.

O relator é o responsável por elaborar o relatório final do colegiado e tem certa influência sobre os trabalhos de uma CPI.

Toda essa discussão, porém, pode apenas ser “muito barulho por nada”, ou quase nada, no melhor estilo shakespeariano.

Desde a instalação da CPI, é claro que, pelas recentes declarações, Calheiros poderia se transformar em algoz da turma do Planalto, comprometendo a reeleição do presidente Jair Bolsonaro em 2022.

O caso foi parar no STF, que considerou válida a possível indicação de Calheiros. Senadores com mais proximidade do Planalto tentaram impedir a instalação da CPI. O presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), citou que o regimento interno do Senado proíbe que um mesmo senador participe de mais de uma CPI como titular.

Flavio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que, digamos, nunca foi muito favorável à adoção dos protocolos de segurança para a covid-19, defendeu o isolamento social de senadores. Trágico, se não fosse cômico.

Esta é a movimentação inicial de uma frente parlamentar de investigação que promete levar muita agitação aos bastidores da política nos próximos meses.

Por enquanto, as peças dão o pontapé inicial no tabuleiro do xadrez. Uma coisa é fato, parafraseando o Barão de Itararé: “Há algo no ar além dos aviões de carreira”.

 

> Isnar Teles é jornalista (MTb nº 22.533) há 34 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Adyana.