Memorial das vítimas de 11 de setembro (EUA). Foto / Ged Lawson/Unsplash

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

A vida é cíclica, já dizia Prem Baba, e tantos outros filósofos, todos, provavelmente, parafraseando a Bíblia, em Eclesiastes, no começo do capítulo três: há tempo para sorrir e tempo para chorar, junto a descrição de tantos outros ciclos. O versículo oito, por exemplo, diz que há tempo de guerra e tempo de paz.

Ao que parece, o tempo do amor e da paz passa por nós tão suavemente que nem o notamos. Nos distraímos com as delícias do cuidar de uma festa de casamento, o planejamento de uma viagem, o jantar de sábado para receber os amigos. Até que a primeira bomba explode anunciando o tempo da guerra.

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Os habitantes do Afeganistão têm vivido esse ciclo de guerra e paz com uma violência que choca a maioria dos habitantes do planeta, ainda mais com tanta facilidade hoje do compartilhamento de imagens. Uma história sangrenta da qual se tem notícias desde o comecinho da década de 1970 e envolve conflitos ideológicos internos, duas grandes potências mundiais –União Soviética (Rússia) e Estados Unidos– e muito, mas muito mesmo, uso da religião como fundamento para dominação cultural e política.

Enquanto a União Soviética apoiava o governo comunista do Afeganistão, os EUA passaram a financiar os grupos rebeldes islâmicos conhecidos como mujahidin, dando a eles treinamento militar e armas, por meio da CIA. Roteiro de cinema perde feio para tanta intriga.

Derivado dos mujahidin, o Talibã, de que tanto ouvimos falar há vinte anos, aparece na história no início da década de 1990, quando a União Soviética, enfraquecida e envolta em seus problemas domésticos que a levariam a se tornar a Rússia, deixa o cenário afegão.

Nos anos seguintes, o Talibã domina o Afeganistão com mão de ferro, impondo a interpretação mais rigorosa possível das leis islâmicas; visão religiosa que subjuga a todos com restrições, mas, especialmente, as mulheres, transformando-as em sombras, cobertas com burcas, sem direito a escola, voz ou a vida.

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Como os iguais tendem a se encontrar e se juntar, no final da década de 90, o líder do Talibã se torna aliado de Osama Bin Laden, fundador da Al-Qaeda, outro grupo extremista islâmico que, adivinha, também surgiu a partir dos mujahidin. Aqueles mesmos que receberam treinamento militar e armas dos EUA por muito tempo e que protagonizaram o monstruoso atentado de 11 de setembro de 2001 nas torres gêmeas dos EUA.

Em resposta ao atentado, o governo Bush entrou no território afegão para caçar Osama Bin Laden. Mas ele só foi capturado e morto em 2011, durante o governo de Barack Obama. As tropas americanas ficaram por lá, garantindo uma paz frágil, enquanto os integrantes do Talibã aguardavam pacientemente em seus bunkers. A hora de voltar à superfície chegou no último domingo, 15 de agosto.

É tempo de guerra novamente e muito sangue inocente deve encharcar o solo até que a paz ganhe outra oportunidade.

Eu que comecei o texto com citações bíblicas, encerro com ditados populares prosaicos, mas nem por isso menos importantes. Nada é por acaso; quem cria cobras quase sempre acaba picado por elas. Essa retomada do Talibã, pelo que nos conta a história, eram favas contadas. Apenas um novo ciclo da teimosia e sede por violência e poder que, tristemente, afeta uma grande parcela da humanidade.

 

> Maria D’Arc Hoyer é jornalista (MTb nº 23.310) há 28 anos, pós-graduada em Comunicação Empresarial. Mora na região sudeste de São José dos Campos. É autora do blog recortesurbanos.com.br.