Deputada Carla Zambelli nega acusações: "não participaria de uma piada de mau gosto com Alexandre de Moraes". Foto / Lula Marques/EBC

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Deputada, que foi alvo de busca e apreensão e teve a casa e o gabinete vistoriados pela Polícia Federal nesta quarta-feira, nega as acusações; hacker foi preso preventivamente

 

DA REDAÇÃO*

Em depoimento na Polícia Federal (PF), o hacker Walter Delgatti Neto disse que recebeu pagamentos da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) para prestar serviços cibernéticos, e que a parlamentar pediu que ele invadisse o telefone celular e o e-mail do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Antes, a parlamentar teria solicitado a invasão à urna eletrônica ou aos sistemas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Delgatti, porém, declarou não ter conseguido acesso aos sistemas eleitorais.

Segundo a PF, no depoimento, Delgatti contou ter se encontrado com a deputada em um posto de gasolina na Rodovia dos Bandeirantes, em setembro de 2022, e que ela lhe teria dito que, “caso o declarante conseguisse invadir os sistemas, teria emprego garantido, pois estaria salvando a democracia, o país, a liberdade”.

Delgatti foi preso preventivamente nesta quarta-feira por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Já a deputada Zambelli foi alvo de busca e apreensão e teve a casa e o gabinete vistoriados pela Polícia Federal (PF).

Segundo o despacho de Moraes, a PF informa que Walter Delgatti teria recebido R$ 13,5 mil, “possivelmente como contraprestação pelos serviços prestados, por meio de interpostas pessoas próximas da deputada federal Carla Zambelli”.

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Com Bolsonaro

Delgatti afirmou ainda ter se encontrado com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no ano passado, no Palácio da Alvorada. Na ocasião, Bolsonaro teria perguntado se o hacker conseguiria invadir a urna eletrônica caso tivesse o código fonte, segundo o depoimento. De acordo com a Polícia Federal, o hacker explicou que “isso não foi adiante, pois o acesso que foi dado pelo TSE foi apenas na sede do Tribunal e o declarante não poderia ir até lá”. Tal visita já havia sido revelada pela revista “Veja”.

Na decisão em que autorizou a prisão preventiva de Delgatti, em Araraquara (SP), Moraes cita a reportagem de “Veja”, com áudios segundo os quais o hacker diz ter contatado funcionários da operadora TIM com o objetivo de invadir o chip do celular do ministro, mas que estes não teriam topado seguir adiante.

Em seguida, Delgatti disse ter invadido o Banco Nacional de Mandados de Prisão, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de modo a demonstrar suas habilidades, e que a própria Zambelli redigiu o mandado falso de prisão contra Moraes. O acesso ao sistema teria sido feito por meio de uma credencial eletrônica roubada.

A PF também investiga a inserção de 10 alvarás de soltura no sistema do CNJ em benefício de criminosos espalhados pelo país. Cada inserção corresponde a ao menos um crime de falsidade ideológica, destacam os investigadores.

Delgatti é conhecido como hacker da Vaza Jato por seu envolvimento no vazamento de trocas de mensagem entre o ex-juiz responsável pela Operação Lava Jato, Sergio Moro, e o ex-procurador da República Deltan Dallagnol. O caso culminou na anulação de diversas condenações judiciais.

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Outro lado

Em nota, a defesa de Carla Zambelli confirma a realização de mandados de busca e apreensão em seus endereços e diz que “a medida foi recebida com surpresa, porque a deputada peticionou, através de seu advogado constituído, o Dr. Daniel Bialski, colocando-se à disposição para prestar todas [as] informações necessárias” e que “em nenhum momento a parlamentar deixou de cooperar com as autoridades”.

Em entrevista à imprensa, na Câmara dos Deputados, a deputada negou ter pagado o hacker Delgatti para invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e de outros tribunais. Ela disse que fez um pagamento de R$ 3 mil a Delgatti para que ele fizesse melhorias em seu site, além de interligar a página com suas redes sociais.

“Eu pagaria R$ 3 mil para me arriscar dessa forma? Para fazer uma brincadeira de mau gosto? Porque essa questão do CNJ foi uma brincadeira de mau gosto. Eu sou uma deputada séria, eu sei o que é certo e o que é errado, e eu acho que não participaria de uma piada de mau gosto com Alexandre de Moraes”, afirmou a deputada.

A parlamentar disse que conheceu o hacker saindo de um hotel e que o teria apresentado ao presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, e ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Zambelli disse que o hacker queria oferecer os serviços dele ao PL para participar de uma auditoria nas urnas eletrônicas. Porém, Zambelli disse que o negócio não foi fechado.  “Eu não sabia como ele estava naquele momento, em que espectro ideológico”, justificou.

Em nota, a defesa de Walter Delgatti informou que ele foi transferido da Delegacia da Polícia Federal em Araraquara para o centro de Detenção Provisória da cidade.

 

*Com informações da Agência Brasil.

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