Chico Buarque
Se tu falas muitas
Palavras sutis
Se gostas de senhas
Sussurros ardis
A lei tem ouvidos
Pra te delatar
Nas pedras do teu próprio lar
Se trazes no bolso
A contravenção
Muambas, baganas
E nem um tostão
A lei te vigia
Bandido infeliz
Com seus olhos de raios X
Se vives nas sombras
Frequentas porões
Se tramas assaltos ou revoluções
A lei te procura amanhã de manhã
Com seu faro de doberman
E se definitivamente a sociedade
Só te tem desprezo e horror
E mesmo nas galeras és nocivo
És um estorvo, és um tumor
A lei fecha o livro
Te pregam na cruz
Depois chamam os urubus
E se pensas que burlas
As normas penais
Insuflas, agitas
E gritas demais
A lei logo vai te abraçar, infrator
Com seus braços de estivador
Se pensas que pensas
Estás redondamente enganado
E como já disse o doutor Eiras
Vem chegando aí, junto com o delegado
Pra te levar
Pra, pra pqp…
Francisco Buarque de Hollanda, mais conhecido como Chico Buarque, é cantor, compositor, dramaturgo e escritor. Nasceu em 19 de junho de 1944 na cidade do Rio de Janeiro (RJ). É conhecido por ser um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira. Fonte: Wikipédia
> Júlio Ottoboni é jornalista (MTb nº 22.118) desde 1985. Tem pós-graduação em jornalismo científico e atuou nos principais jornais e revistas do eixo São Paulo, Rio e Paraná. Nascido em São José dos Campos, estuda a obra e vida do poeta Cassiano Ricardo. É autor do livro “A Flauta Que Me Roubaram” e tem seus textos publicados em mais de uma dezena de livros, inclusive coletâneas internacionais.