Acesso ao hospital Francisca Júlia, de onde a paciente saiu desacompanhada e caminhou até a rodovia dos Tamoios. Foto / SuperBairro

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Segundo o hospital Francisca Júlia, a equipe de Apoio Social da Prefeitura deixou o local antes que paciente que conduzia fosse internada

 

DA REDAÇÃO

O hospital Francisca Júlia CVV responsabiliza o serviço de Apoio Social da Prefeitura de São José dos Campos pela fuga de uma paciente que, depois de ser levada até lá, foi vista andando desorientada a cerca de 1 km, próximo à rodovia dos Tamoios, no acesso à estrada Bezerra de Menezes, na região sudeste da cidade. O fato ocorreu no sábado (21) por volta das 16h.

A jornalista Maria D’Arc da Silva passava de carro pelo local com uma amiga quando viu uma mulher vestida apenas com calcinha e uma camiseta listrada de vermelho e branco. Pela proximidade do Francisca Júlia, uma instituição de atendimento a portadores de transtornos mentais e dependentes químicos, concluiu que deveria ser uma paciente em fuga.

D’Arc foi ao hospital comunicar o fato e pedir ajuda. Ela chegou à janela de atendimento da entrada quase ao mesmo tempo que outra mulher que viu a mesma cena e foi, junto com o marido, pedir providências. Ambos se identificaram como argentinos moradores em São José.

“Os funcionários explicaram que ela havia fugido de lá, que o próprio carro do Apoio Social a levou até o hospital, mas não foi resgatá-la após a fuga, mesmo a equipe tendo sido alertada para isso”, relata a jornalista. “Nos mandaram ligar para o 192 (Samu) e 153 (Guarda Municipal), a quem está ligado o serviço de Apoio Social.”

 

Paciente sendo conduzida de volta ao hospital por uma munícipe e por seu marido (no automóvel). Foto cedida

Continuando seu relato, ela conta que, ao ligar para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), ouviu um não como resposta e a orientação de ligar para o número 153.  Também nesse serviço, segundo D’Arc, “passei por todas as explicações solicitadas, nome, local, descrição da situação e, no fim, me disseram que não poderiam fazer nada. A atendente me perguntou apenas se nenhum enfermeiro estava acompanhando, informei que não”. Ao dizer que gostaria de registrar uma reclamação, a atendente lhe indicou ligar para a ouvidoria da Prefeitura.

Sem atendimento do Francisca Júlia, Samu e Apoio Social, o caso foi resolvido pelo casal argentino, que conduziu a mulher até o hospital caminhando pela estrada. A paciente caminhou pela pista amparada pela argentina, vindo o marido atrás delas com o pisca-alerta do carro ligado.

Antes de ser reconduzida ao hospital, a paciente se identificou pelo nome (as iniciais são R.A.L.), respondeu que mora nas ruas e que duas netinhas viveriam com ela. Disse ainda que não pode ir para casa porque, lá, apanha de um irmão.

Terminado o episódio, Maria D’Arc deixou o local e escreveu uma crônica relatando tudo o que viveu, publicada na segunda-feira (23) no SuperBairro. Em seu texto –utilizado para compor as informações desta reportagem–, ela questiona o comportamento das instituições.

“Por que o Apoio Social, embora alertado pelo hospital, não foi buscar a mulher? Por que os serviços 153 e 192 não podiam atender e não tinham protocolo para nos orientar sobre o que fazer? Por que nem mesmo um enfermeiro do hospital foi destinado para nos acompanhar e dar ajuda profissional na abordagem, já que dissemos que sabíamos onde ela estava?”, pergunta.

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Hospital explica

Portaria do hospital Francisca Júlia; segundo a direção, a unidade não possui muros. Foto / SuperBairro

Contatado pelo SuperBairro, o hospital Francisca Júlia CVV informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que está apurando o ocorrido, porém adiantou que “a paciente chegou até a Unidade de Emergência de Saúde Mental (UESM) Francisca Julia encaminhada por profissionais do apoio social da Prefeitura de São José dos Campos e por estes acompanhada”.

A nota informou ainda que R.A.L. ainda aguardava por atendimento médico quando deixou a unidade sozinha e responsabilizou o Apoio Social da Prefeitura, que a conduziu até lá, por não ter aguardado que a internação da paciente fosse finalizada.

“A Francisca Júlia reconhece o equívoco pela saída da paciente e reforça que o protocolo de atendimento preconiza que, no momento da entrada na unidade e até que seja atendido por um especialista, o(a) paciente deve estar sob os cuidados de um acompanhante. A Francisca Júlia irá tomar as providências cabíveis juntos aos órgãos de atendimento em saúde mental para que fatos como este não ocorram novamente”, disse a nota.

O hospital também informou que, na quarta-feira (25), a paciente R.A.L. seguia na unidade, “sendo assistida por médicos psiquiatras, psicológicos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, entre outros profissionais, com tratamentos terapêuticos para sua recuperação”.

Prefeitura responde

O SuperBairro também enviou perguntas para as secretarias de Apoio Social ao Cidadão e de Saúde pedindo esclarecimentos sobre o que fizeram o Apoio Social e o Samu, respectivamente, no episódio da fuga. A resposta, também enviada na última quarta-feira, veio em uma única nota e foi a seguinte:

“A Prefeitura de São José dos Campos tem o melhor atendimento integrado da região, com profissionais dedicados e bem preparados para acolher a população. Os serviços públicos amplamente utilizados pelos munícipes seguem os critérios de urgência e emergência para o atendimento às demandas.

Respeitando o sigilo de informações garantido pela Lei Geral de Proteção de Dados, a Prefeitura informa que a paciente em questão foi socorrida pelo atendimento social, Guarda Civil Municipal, acionados pelo CSI (Centro de Segurança e Inteligência), UPA [Unidade de Pronto Atendimento] do Putim e Saúde Mental/Hospital Francisca Júlia.”

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Íntegra das respostas

Veja, abaixo, a íntegra das perguntas do SuperBairro e das respostas do hospital Francisca Júlia e da Prefeitura de São José dos Campos.

Francisca Júlia

Qual é o protocolo adotado pelo hospital em caso de fugas de pacientes?

É realizada uma busca e acompanhamento do paciente. Imediatamente é feito registro policial, em seguida a família é informada e acompanhamos se o paciente retorna até os parentes. Também orientamos e acompanhamos o paciente para que ele retorne ao tratamento.

Os familiares dos pacientes são avisados sobre ocorrências desse tipo? Os familiares da paciente R.A.L. foram avisados?

O contato da paciente na Francisca Júlia foi através da casa de apoio do município. Não dispomos de contatos de familiares dessa paciente.

De quem é a responsabilidade pelos pacientes desde o seu deslocamento até a entrada no hospital?

A responsabilidade pelo paciente nesse deslocamento e, até que seja atendido por um profissional de saúde da Francisca Júlia, é de quem está acompanhando o paciente. Pode ser uma pessoa da família, um amigo, profissional da segurança pública ou servidor público de serviços de saúde do município. Esse acompanhante não pode ser liberado até que o paciente seja atendido pela Francisca Júlia e esteja devidamente assistido.

O que o hospital aconselha a população a fazer no caso de encontrar um paciente fora de seus muros?

Importante reforçar que não houve uma evasão da unidade, uma vez que a paciente ainda não estava sendo assistida pelos profissionais de saúde da Francisca Júlia e não estava sob os cuidados da UESM. A Francisca Júlia não utiliza o termo “fuga”, uma vez que toda a área de internação e atendimento emergencial é de livre acesso a pacientes e profissionais. Além disso, a Francisca Júlia preza por um atendimento humanizado, por isso o conceito de “fuga” não se aplica a pacientes, que não são pessoas fugitivas, mas pessoas que necessitam de tratamento em saúde mental. Reforçamos que não há muros no entorno do hospital.

A orientação é buscar atendimento do Samu e outros recursos municipais em saúde mental, como casa de apoio da prefeitura, bombeiros, polícia militar, para que esses profissionais capacitados encaminhem a pessoa até uma unidade de saúde mental especializada.

Apoio Social e Samu

Perguntas à Secretaria de Saúde:

– Poderia descrever o que ocorreu no atendimento à ligação feita ao Samu?

– Por que motivo o Samu não pôde atender à solicitação de resgate?

– Qual é o protocolo adotado pelo Samu nesse tipo de ocorrência?

– O que a Secretaria de Saúde e o Samu aconselham a população a fazer no caso de encontrar pessoas em estado de necessidade nas ruas? O que fazer no caso específico de pessoas com evidências de transtornos mentais?

Perguntas à Secretaria de Apoio Social ao Cidadão:

– Poderia descrever o que ocorreu no deslocamento da paciente? Quem solicitou a condução dela até o hospital?

– Onde a paciente foi entregue na chegada ao hospital?

– Quem a recepcionou e fez o acolhimento?

– Qual era a situação quando a equipe do Apoio Social deixou o hospital?

– Quando cessa a responsabilidade do Apoio Social no transporte de pacientes até unidades de saúde?

– Qual é o protocolo adotado pelo Apoio Social para o telefone 153 nesse tipo de ocorrência?

– O que a Secretaria de Apoio Social ao Cidadão aconselha a população a fazer no caso de encontrar pessoas em estado de necessidade nas ruas? O que fazer no caso específico de pessoas com evidências de transtornos mentais?

Resposta da Prefeitura em uma única nota:

“A Prefeitura de São José dos Campos tem o melhor atendimento integrado da região, com profissionais dedicados e bem preparados para acolher a população. Os serviços públicos amplamente utilizados pelos munícipes seguem os critérios de urgência e emergência para o atendimento às demandas.

Respeitando o sigilo de informações garantido pela Lei Geral de Proteção de Dados, a Prefeitura informa que a paciente em questão foi socorrida pelo atendimento social, Guarda Civil Municipal, acionados pelo CSI (Centro de Segurança e Inteligência), UPA [Unidade de Pronto Atendimento] do Putim e Saúde Mental/Hospital Francisca Júlia.”

APOIO SUPERBAIRRO
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