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Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

O agronegócio brasileiro vai muito bem, obrigado. Dá orgulho ver. Mas tem uma outra “indústria” que está crescendo assustadoramente no país: a indústria do golpe. Dá revolta ver. É isto mesmo. Parece que uma parcela da população desistiu de vez de acreditar no Brasil como país do futuro e enveredou pelo crime para tirar dinheiro dos outros.

Na semana passada, uma senhora muito próxima a mim, do alto dos seus 87 anos, passou por maus momentos ao receber uma ligação de um suposto sobrinho com o qual ela não tinha contato há mais de 15 anos. Distraída, ela logo tentou adivinhar quem era: – Paulinho? – Pronto, é claro que o golpista incorporou imediatamente o tal Paulinho.

Minutos depois, minha parente já havia passado o nome dos filhos, o endereço dela e tudo o mais. O rapaz foi direto ao ponto: tinha se envolvido em um desastre de automóvel aqui por perto, se feriu levemente, machucou gente, estava no hospital, tinha que pagar a conta e disparou:

– Com quanto a senhora pode me ajudar? É só até por volta de 1 hora da tarde, quando eu resolver tudo por aqui, compro uma comidinha e levo até aí pra gente comer e conversar.

Moral da história. A mulher disse que tinha somente uns R$ 550 em casa, mas o “sobrinho” não desistiu.

– Tá bom, tem um amigo advogado aqui comigo, ele está indo até aí buscar o dinheiro.

Foi quando começou a cair a ficha para a distraída senhora. Ela começou a ficar com medo daquela situação e disse que iria avisar um filho que morava próximo. Dito isto, recebeu como resposta que não precisava avisar a ninguém, deixar o assunto só entre eles. Alertado, o filho voou para a casa da mãe, a tempo de ainda atender uma nova ligação do meliante. Avisado de que o número do telefone dele já estava com a polícia, desistiu, desligou e escafedeu-se.

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Pois é. Depois de ler toda a história desse golpe você vai dizer que jamais cairia nele, que é um absurdo ainda haver gente ingênua neste mundo etc. etc. Mas não é bem assim. Veja o que eu quero dizer:

– Primeiro: os golpistas passam horas e horas do dia e da noite repetindo seus golpes e aperfeiçoando suas técnicas. São profissionais.

– Segundo: hoje em dia, é muito fácil coletar alguns dados básicos da maioria das pessoas nas redes sociais, descobrindo parentes, amigos, hábitos, lugares que a vítima frequenta etc.

– Terceiro: as vítimas preferenciais são os idosos, a maioria com pouca habilidade com internet, pouco contato com parentes mais distantes e, principalmente, pegas de surpresa, diferentemente dos golpistas.

Pronto. Está armado o cenário ideal para um crime bem sucedido. No caso da minha parente, foi por pouco que mais uma grana deixou de aumentar o faturamento da indústria golpista no Brasil.

Este fato ocorreu há quase uma semana. O curioso é que, depois de saber dos detalhes, comentei com um amigo enquanto tomávamos a cervejinha semanal. E não é que o amigo me disse que o tio de dois filhos dele caiu em golpe semelhante, em uma cidade do litoral catarinense, e transferiu nada menos que R$ 12 mil para os bandidos?

Quando o amigo me disse isso entre um copo de cerveja e uma calabresa acebolada, veio à minha memória a conversa que tive com outro amigo, uns 15 dias antes, quando ele me confidenciou que sua mulher também transferiu dinheiro para alguém que acreditava ser, simplesmente, o seu irmão. O incrível é que a quantia perdida foi a mesma: R$ 12 mil!

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Nem é preciso dizer que aqui em casa não temos sido poupados. Minha filha está morando temporariamente em São Paulo e já recebemos pelo menos três pedidos de pix para ela porque ela estaria com problemas na conta bancária. Felizmente, estamos mais ou menos vacinados contra esses pilantras.

O mesmo tem acontecido em todo o país, nas redes sociais, principalmente no Facebook, em e-mails e outros meios, com avisos de que o celular vai ser bloqueado, boletos de pagamento de contas inexistentes, ameaças de corte de crédito e outras maracutaias.

O pior de tudo é que a sensação de insegurança que cada um de nós está sentindo deve ser só a pontinha do iceberg da indústria do golpe. Como todos nós sabemos, os bancos e as grandes empresas jamais admitem que eles e seus clientes tenham sido vítimas dos bandidos. Ou seja, o problema deve ser muito mais grave do que a gente pensa.

O que nós podemos fazer para evitar o máximo possível de sermos vítimas de crimes desse tipo? Para começar, é deixar de lado a timidez e trocar informações com familiares e amigos quando sofrer tentativa de golpe. Depois, é importante denunciar para empresas de internet como Facebook, Instagram, X, Youtube etc., bancos e outras empresas sempre que for vítima desses criminosos –e exigir providências. Vale a pena, em casos mais graves, fazer boletim de ocorrência para que a polícia tome conhecimento da variedade e quantidade de golpes.

É bom lembrar que nós ainda não vimos quase nada em matéria de golpes via internet. Já estão acontecendo vários crimes com o uso da Inteligência Artificial (IA), nos quais, por exemplo, uma pessoa que pode ser sua avó, neta, mãe, mulher, namorada, aparece com o rosto em um vídeo e fala com você como se fosse ela. Já imaginou?

Finalmente, fica a dica principal: reconheça que o seu inimigo –o golpista –está muito mais preparado que você. Desligue o telefone quando não tiver certeza com quem está falando, não aperte botão nenhum que os sites e aplicativos mandarem você apertar, respire fundo e se dê um bom tempo para raciocinar sobre o que está acontecendo. Na dúvida, não faça nada. Você não precisa decidir nada naquele momento.

Diga não à indústria do golpe no Brasil.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 23 anos.

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