Ilustração / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Os últimos dias nos têm feito reviver a nova realidade climática que chegou para ficar no planeta Terra. A cada ano, mais calor. A cada verão, mais estragos causados por chuvas torrenciais, alagamentos, deslizamentos e mortes, muitas mortes. Definitivamente, este é o nosso “novo normal”.

O problema é que os governos estão sendo lentos para fazer alguma coisa a respeito. Até parece que as mudanças climáticas não mexem em nada com a vida das pessoas, da fauna, da flora e até da economia dos países mais afetados.

Nós, pobres mortais, não precisamos apresentar grandes projetos para tentar, se não reverter, ao menos amenizar a escalada das temperaturas, seja no Hemisfério Sul, seja no Norte. Como se diz por aí, podemos dar os nossos corres e tentar salvar as nossas peles.

Por exemplo, um costume que já existe há séculos em países mais afetados pelas altas temperaturas é a adaptação do horário das atividades produtivas, como o comércio, a indústria e os serviços. Em alguns lugares, se dá a esta prática o nome de “siesta”. É muito simples: as pessoas fogem das horas mais quentes do dia e trabalham nos períodos mais amenos.

Imagine isto em São José dos Campos. O cidadão apanha o busão no seu bairro lá pelas 6h da manhã, vai até o Centro e já encontra lojas abertas. O Calçadão da Rua Sete já estará fervilhando. A muvuca vai se estender até cerca de 11 horas, quando todo o comércio e serviços começam a fechar as portas.

Entra em vigor, então, uma trégua. Que o sol queime o que bem entender porque, a esta altura, todos estarão dentro de casa procurando se refrescar da melhor maneira possível. Na piscina, na ducha, no ar-condicionado ou à frente de um ventilador possante. De preferência, com pouca roupa e bebendo muita água.

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A trégua termina por volta das 18 horas, quando todos voltam para seus locais de trabalho e funcionam até as 22, 23 horas e por aí afora, dependendo do ramo de atividade. No dia seguinte, começa tudo de novo.

Cada qual à sua maneira, esse sistema já funciona em vários países do mundo. E funciona mesmo, porque, apesar de ser necessária alguma regulamentação dos governos locais, o mais importante é que o hábito atende a uma necessidade vital: o bem-estar. Perceba que os nossos shopping-centers já funcionam mais ou menos assim, apesar de o clima afetar mais o comércio de rua.

O maior problema do ser humano é a indecisão na hora de tomar atitudes. É o que está acontecendo com a crise climática global. Será que vai ser preciso ficar esperando as tais Conferências das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, as COPs, que andam a passo de tartaruga enquanto o sol castiga ao ritmo de coelho? Sem falar que um certo canastrão que assumiu a presidência dos Estados Unidos já adiantou, bem ao seu estilo negacionista, que tudo isto é uma grande bobagem e deve chutar para longe os compromissos de seu país com o clima.

O ser humano, enquanto isso, aguarda pacientemente. Já que estamos falando em algumas espécies da fauna nesta crônica, imagino que nosso comportamento lembre o dos sapos que, todos sabem, podem ser cozidos até a morte caso sejam colocados em uma bacia com água, que vai sendo aquecida pouco a pouco. Nossa passividade atual é igual à desses sapos bobões.

APOIO SUPERBAIRRO

O que o brasileiro deve fazer? Primeiro, pressionar seus representantes federais, estaduais e municipais para que tomem atitudes urgentes para ao menos mitigar os efeitos do aquecimento global. O prefeito Anderson Farias, por exemplo, pode muito bem ir estudando algumas mudanças de horários nas repartições públicas e, ao mesmo tempo, conversando com o pessoal da Associação Comercial e Industrial, do Sindicato do Comércio Varejista, do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes, para começar aos poucos a adaptar os horários humanos aos horários das atividades.

Eu, que não sou bobo nem nada, já estou de olho em um bom sombrero para, em qualquer lugar onde sinta o furor inclemente do nosso sol, me agachar e me cobrir com aquele chapelão. No momento, é a melhor ideia que passou pela minha cabeça. Vai parecer filme mexicano dos velhos tempos? Vai. Mas a essa altura do campeonato, vale tudo para não virar sapo cozido.

E você, muchacho, já está escolhendo o seu sombrero?

 

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 49 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 24 anos.