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Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Se você anda meio solitário –ou solitária–, ninguém liga para você, ninguém te dá atenção, existe uma solução para os seus problemas. Basta chegar o dia da sua aposentadoria pelo famoso INSS. Você irá se sentir uma das pessoas mais populares da cidade.

Acontece assim: antes mesmo de saber quando vai começar a receber a quase sempre minguada pensão mensal por aposentadoria, a notícia já chegou para muita gente do sistema financeiro. E esse pessoal vai começar a ligar no seu celular ou telefone fixo para oferecer empréstimos consignados.

Vai ser uma ou outra ligação? Se você disser que não tem interesse eles vão parar de ligar? Nada disso. Você conquistou novos amigos e amigas para o resto da vida. O telefone toca, você atende e já vem alguém chamando você pelo nome, dizendo que é “correspondente bancário de tal banco” e que você já tem um empréstimo aprovado”. Se tiver sorte, vai receber umas 10 ligações por semana. Se for azarado, serão quatro ou cinco por dia.

Antes de me aposentar, no início do ano passado, ouvia essas histórias e achava que eram paranoia de aposentado. Até que caí na mesma armadilha dos velhinhos e entrei para o time dos “populares”. Recebo ligações em nome de Santander, Bradesco, Itaú etc. etc. É claro que os números dos celulares são comuns, você não sabe que vai dizer “alô” e receber mais uma cantada para pegar dinheiro emprestado.

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Quando resolvi abordar esse assunto aqui no SuperBairro, fiz uma pesquisa rapidinha no Google para saber como isso funciona. Chamou a minha atenção uma reportagem de junho de 2017 publicada no jornal “Gazeta do Povo”, de Curitiba, reproduzida no site do Ministério Público do Paraná. Clique [aqui] e veja em detalhes como trabalha essa espécie de máfia dos dados ilegais.

É claro que ninguém tem culpa, todos se dizem inocentes. Corretoras de empréstimos, empresas de venda de informações, bancos, a agência governamental Dataprev, o INSS, enfim, todos são absolutamente inocentes. Mas o fato é que a prática do acesso e uso de informações pessoais consideradas sigilosas é crime. Pelo jeito, um crime sem culpados.

Já se passaram cerca de sete anos desde a publicação desta reportagem minuciosa do jornal paranaense, mas nada mudou. Isto faz a gente pensar que o vazamento dos nossos dados junto ao INSS são apenas a ponta do iceberg de todos os vazamentos possíveis e imagináveis sobre a sua vida pessoal e a dos seus familiares.

Isto também me faz quase dar razão a um amigo, igualmente aposentado, que atingiu o grau de neurótico em relação a tudo que possa expor a sua vida e imagem. Exemplos: não tem Facebook, nem Instagram, não gosta de ser visto quando vai tomar umas e outras e morre de raiva se alguém tentar fazer uma foto sua. Parece até aquele ex-presidente da República que, perguntado sobre o que esperava do povo ao final do seu governo, respondeu na lata: “Que me esqueçam!”.

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Mas como dizem que para cada problema existe uma solução, e que o brasileiro é muito criativo, vamos lá com algumas ideias para você se livrar dessas “amizades” telefônicas. 1 – Seja educado com quem te ligar, diga que não tem interesse e peça para o vendedor registrar isso. 2 – Tente memorizar o número que ligou para não atender mais se voltar a ligar. 3 – Quando receber a ligação e começar a ouvir a mesma ladainha, desligue e, imediatamente, bloqueie o número daquele telefone. Adianto a você que já tentei as três alternativas e nenhuma funcionou.

E tem um outro prejuízo que os novos e velhos aposentados sofrem com essas malditas ligações. Chega um ponto em que você simplesmente não atende mais nenhum telefonema se a chamada não vier identificada com quem está do outro lado da linha. E aí você acaba deixando de atender ligações de consultas médicas, prestadores de serviços e até de amigos e parentes.

Vou finalizando por aqui e me solidarizando com todos que são vítimas dessa “indústria do consignado”, onde atua desde o governo até os maiores bancos do país, todos absolutamente inocentes, repito.

Mas, convenhamos, não deixa de ser irônico que depois de passarmos a vida atrás de quem nos desse crédito para comprar casa própria, carro novo, viagem de férias etc., hoje temos que nos esconder de quem liga para nos oferecer dinheiro. Isso é que é modernidade…

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 23 anos.