É difícil admitir isto, mas os três Poderes que deveriam fazer do Brasil uma das potências mundiais, pois tem todas as condições para isso, é uma piada de mau gosto. Dia após dia, Executivo, Legislativo e Judiciário revivem uma espécie de comédia farsesca, um espetáculo de péssimo gosto e, pior, de péssimas intenções.
Para entender o que se passa com o país atualmente, basta dar uma repassada nos acontecimentos mais recentes. Perdeu-se completamente a noção de decoro, acabou-se a seriedade e implantou-se uma República baseada no golpe, no crime, na falta absoluta de caráter.
O Poder Executivo, é preciso reconhecer, tem sido o menos mal-intencionado em relação aos interesses do país. Não tanto pelos seus méritos, mas porque vive completamente dominado por um parlamentarismo de fachada que impede o governo de governar sem que seja necessário abrir os cofres para uma gente sem projeto, sem seriedade e sem compromisso com o futuro.
Quem é esta gente? É o Poder Legislativo. Para esses deputados e senadores, pouco importa se o país vai bem ou vai mal. O que importa é que eles estejam no poder, à custa de chantagem eleitoreira. Para o Legislativo brasileiro dos dias de hoje, pouco importa se o presidente é Lula, Bolsonaro ou o Tiririca, desde que eles tenham o poder de negociar suas emendas parlamentares, a cada dia mais obscuras e inexplicáveis.

Mas aí vem o nosso terceiro Poder da República, o Judiciário, aquele que deveria colocar ordem, justiça e ética nesta bagunça toda. E o que esta gente faz? Acorda e vai dormir à noite pensando somente “naquilo”. E o que é aquilo? É meter a mão boba no Tesouro Nacional, usando os mais variados artifícios para ganhar dinheiro. Isto mesmo: ganhar dinheiro. Pouco importa a situação do país, o que importa mesmo para a Justiça é ganhar dinheiro.
É até ridículo em um artigo como este, que pretende ser sério, ter de exemplificar o caso do “vale-peru”, uma expressão que, por si só, já demonstra a que ponto chegamos na imoralidade da República brasileira.
Relembrando rapidamente: o Tribunal de Justiça de Mato Grosso instituiu o tal “vale-peru” no valor de R$ 10 mil aos seus servidores e magistrados no último mês de dezembro. Cobrado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu que a dinheirama é legal e cumpre a função de “assegurar a cobertura das necessidades nutricionais diárias da pessoa humana”. Que nojo, que asco…
Mas o próprio STF não fica atrás –talvez fique até muito à frente– na festança com o dinheiro público. E o pior: sem ter que prestar contas a ninguém. Um exemplo recente foi dado pelo ministro Dias Toffoli, aquele que foi reprovado duas vezes no concurso para simples juiz de primeira instância. O ex-advogado do PT teve o desplante de livrar o réu-confesso Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda e homem-forte de Lula, de toda a roubalheira que o próprio Palocci confessou ter cometido, na forma de delação premiada.

O pior de tudo, repito, é que o Poder Judiciário é a última instância da República e só pode ser julgado por Deus, se é que o Altíssimo tenha intestinos para mexer com essa nojeira.
Dito tudo isto, você vai, provavelmente, concordar comigo: não existe solução à vista para os problemas do Brasil. O Executivo é chantageado, o Legislativo chantageia e o Judiciário se locupleta e fecha os olhos.
Este quadro dantesco explica bastante a descrença do cidadão brasileiro na política do país. E desta descrença, para uma postura radical, o caminho é curto. Ou seja, muitos desses acusados de pregar um golpe de Estado –refiro-me aos cidadãos, não aos golpistas profissionais– podem ter assumido essa postura por absoluta falta de confiança nos que deveriam governar o país com lisura, ética e responsabilidade.
Mas isto não se consegue comendo 10 mil reais em peru ou o que quer que seja. E o pior é que só os bocós vão para a cadeia, enquanto os espertos enchem o bucho e fica tudo por isso mesmo.
Pobre Brasil com sua maldita elite.
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 49 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 24 anos.