Cartola, um dos melhores letristas da música brasileira. Foto / Divulgação.

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Nunca fui de prestar atenção em letras de músicas. Sempre fui da melodia, da harmonia, do som. Pode parecer estranho, mas sempre fui assim. Tudo bem, vai… Algumas do Chico e do Caetano me pegaram pela inteligência, pelo lirismo, pelo jogo de palavras. Mas, no geral, é a música que me atrai. Tanto que participo como baixista de três grupos de música instrumental –Benoit Jazz Quartet, Raul de Sá Trio e a Virtual Jam Band, novo projeto citado na minha coluna de estreia no SuperBairro.

Abordo esse tema pois fiquei tocado por um artigo publicado no livro Música com Z (Editora 34) do jornalista e crítico de música Zuza Homem de Mello, um dos maiores especialistas em MPB e jazz de nosso país. Estou devorando o livro, obra fundamental para quem curte música neste país maltratado pela atual produção musical que bombardeia nossos ouvidos. Ok, há exceções, mas são poucas.

Zuza abre o artigo, originalmente publicado na revista Época em abril de 2000, com a seguinte indagação: como selecionar os quinze versos mais bonitos da música popular brasileira? E é uma atrás da outra! Aldir Blanc: “Eu hoje me embriagando/ de whisky com guaraná (…) e a ponta de um torturante band-aid no calcanhar”. Genial!

Ou esses dois versos de Noel Rosa em Feitio de Oração: “Quem acha vive se perdendo”; e “Batuque é um privilégio/ ninguém aprende samba no colégio”. O que dizer?

O grande Vinícius de Moraes tem lugar cativo na lista com essa pérola da canção “A felicidade”, dele em parceria com Tom Jobim. “A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor/ brilha tranquila, depois, de leve oscila/ e cai como uma lágrima de amor”.

E segue com Paulinho da Viola: ”Foi um rio que passou em minha vida/ e o meu coração se deixou levar”; Cartola, em “As rosas não falam”, 1976: ”Queixo-me às rosas/ mas que bobagem, as rosas não falam/ simplesmente as rosas exalam/ o perfume que roubam de ti”.

E nessa época que estamos vivenciando, de tristeza e, às vezes, até desesperança, é sempre bom lembrar Lenine nos versos da música Paciência.

“Enquanto todo mundo espera a cura do mal/

E a loucura finge que isso tudo é normal/

Eu finjo ter paciência

…. Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma/

Eu sei, a vida não para/

A vida não para não…”

 

> Henrique Macedo é jornalista profissional e músico. Mora há 40 anos na Vila Ema.