Nosso primeiro encontro aconteceu durante as férias escolares na casa da tia Nina em São Paulo, a um mês de completar 12 anos de idade. Ela me foi apresentada pelo meu primo Marco Aurélio Pimenta, que à época devia ter uns vinte e poucos anos. A preço de ocasião ele havia adquirido ampliador, tanques de revelação, reveladores, fixadores, interruptores, luzes de segurança, caixas e caixas de papel fotográfico, enfim toda parafernália óptica e “alquímica” da fotografia.
Num laboratório improvisado no banheiro, tecido negro cobrindo a janela, toalha na fresta da porta, luz vermelha pendurada no teto, vi pela primeira vez surgir na cuba do revelador a imagem em preto e branco da cena que naquela mesma manhã vira em cores no Horto Florestal.
Como mágica, tons cinzentos surgiam no branco do papel Kodak e, suavemente, iam ganhando força e se tornavam negros profundos, revelando a imagem de um cisne no lago. Meus olhos de criança, maravilhados, foram se arregalando enquanto minha boca se abria de espanto. Inesquecível! Era a luz que se tornava sonho.
Essa primeira foto já não mais a tenho, mas permanece como que tatuada na memória. Uma paixão que nasceu na fria noite daquele inverno de 74 e por muito tempo permaneceu adormecida. Somente no final da década de 80 voltei a fotografar, de forma amadora, como bem sugere o termo: à maneira de quem ama.
Não tinha sequer uma câmera, usava câmeras emprestadas ou câmeras descartáveis (isso um dia existiu). Em 1989 participei de um curso de fotojornalismo e a partir desse curso fui convidado a trabalhar no jornal “O ValeParaibano”, onde tive minha primeira oportunidade como repórter fotográfico.
Após essa primeira experiência várias outras vieram, estúdio Supra Color (SJCampos), jornal “Folha de S.Paulo”, “Diário do Grande ABC” (Santo André/SP), Agência Estado e Rede Anhangüera de Comunicação (Campinas), montei estúdio, participei de projetos e exposições. Em 1992 voltei à universidade, não ao curso de veterinária que havia abandonado em 1988, mas, estimulado pela atuação no movimento ambientalista e pelas paisagens que fotografava, escolhi estudar as teorias do espaço graduei-me Geógrafo, persisti nos estudos e conclui mestrado, e outro tanto mais e me tornei Doutor em Geografia.
Nesse tempo, fotografando principalmente notícias e eventos, sempre que possível escolhia um destino de natureza e voltava minhas objetivas ao meu tema predileto, a paisagem. São dias de muita caminhada, suor, horas de espera por uma luz melhor, momentos em que me sinto realizado, vivo e feliz por ter uma câmera fotográfica para me expressar.
Nesta coluna, que por essa apresentação inauguro, vou me dedicar, não exclusivamente à fotografia, mas às artes em geral. Espero que gostem, que seja estimulante e prazeroso para vocês lerem e verem como será para mim pesquisar, entrevistar, escrever e interagir.
> Mário Lúcio Sapucahy é este que se apresentou no texto acima.