Outro dia, tia Filoca me interpelou, de súbito, como é seu costume:
− Então, Zezinho, você não vai escrever nada sobre sua mãe? O dia das mães está logo aí. Ela não era joseense, mas faleceu aqui e participou também da vida da cidade.
Respondi vagamente, já confuso com o roldão emocional ocasionado pela lembrança, dolorosa e boa ao mesmo tempo: minha mãe Jandira Fourniol Rebello. Relembrei o quanto é importante a figura da mãe para todos nós, às vezes postiças, outras tantas emprestadas, ou adotadas em adulto, no entanto, sempre esta doce e essencial palavra: mãe. Resolvi escrever.
De fato, ela morreu menos de dois anos depois de ter vindo morar nesta querida cidade. Deus a levou em 1965, deixando filhos desolados, mas acolhidos pela população joseense. Era formada com louvor em letras neolatinas e com pós-graduação em grego, além de biblioteconomia −isso na década de 1930! Da Faculdade de Filosofia da USP, veio transferida para a Faculdade de Odontologia estadual daqui, hoje da Unesp, onde exerceu a função de bibliotecária até ser vencida pela doença.
Não era joseense, mas se tornou uma das valorosas mães de São José dos Campos, como são minha mulher e minhas filhas, nascidas na cidade, somando-se às milhares de genitoras de todo o país que para cá vieram construir esta metrópole regional.
A todas, porém, igualmente, rendo minhas homenagens, pois sei –pela experiência de vida– o quanto é difícil “sofrer no paraíso”. Paraíso, nem tanto, pois não está nada fácil criar filhos agora. Tarefa por demais heroica num país sem rumo, concorrendo com indefectíveis celulares, videogames, tabletes, tevês, essa parafernália toda, que trazem em si o bem e o mal. Além do bombardeamento das mídias, do mundo econômico e dos fanáticos políticos de todo tipo −a parecer que voltaram impunes do inferno.
Conheci em São José dos Campos muitas valorosas mães –como minha saudosa sogra, Cida Penha (Leite Machado), de profícuo trabalho em prol dos pobres. Recordo-me, talvez com alguma imprecisão, das genitoras da cidade, as mais antigas −para não cometer injustiça com milhares de mães, mais jovens, notórias ou não.
Logo me vem à mente Dona Nica Veneziani, bem como sua filha, a médica Dra. Teresinha, pessoas notáveis, de grande valor. Em seguida, assinalo as mães da família Cury, representadas pela sempre gentil dona Marreb, com prole de relevo. Mães dedicadas se destacaram na área do ensino, entre tantas, as professoras Jandira Palma e Cleyde Calazans Camargo, a professora Berling de Macedo, além de Norma Simão.
Vale citar a doce mestre Aparecida Madureira Ramos, minha colega no direito, que me remete às filhas do saudoso professor Everardo Passos, Sonia e Ana, conhecidas pela sua luta por educação de qualidade. Da mesma maneira, as irmãs Ricci. Para não delongar, a cientista Ângela Savastano, ilustre na área da cultura e do folclore.
Essas recordações são para estimular no leitor a iniciativa de trazer a público o seu testemunho a respeito de outras numerosas mães que merecem ver sua trajetória conhecida.
Estava neste passo quando, novamente, vem a tia Filoca com seu palpite final:
− Escreve aí, Zezinho: não se esqueça de exaltar também aquelas muitas mães anônimas, as mais humildes e desconhecidas da sociedade, mas que são heroínas no seu trabalho na família, muitas vezes debaixo de carências e sofrimentos. A elas, a cidade deve muito.
> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.