Talvez as palavras a seguir fossem mais adequadas para definir antigos ditados como “chover no molhado” e “mais velho do que andar pra frente”. Porém, nunca é demais bater no bumbo da crença de que o mundo seria melhor se cada um fosse mais gentil e generoso com o seu semelhante, os animais e a natureza. Deixar avivar o ser empático que existe dentro de cada um para distribuir talentos e recebê-los adiante, a torto e a direito.
A vida não está fácil para ninguém! O mundo estressante e agitado torna áspero o convívio social, já com pouca liga e até incivilizado. Mesmo assim, as pessoas continuam precisando se conectar com as outras por laços de empatia. Só não se dão conta totalmente disso por causa dessa loucura diária, e acabam represando as gentilezas.
Diz-se que burro velho não pega marcha, mas, quanto a mim, ando mais atento para essa carência. O que me faz compreender melhor antiga reprimenda de uma cozinheira que tive tempos atrás no restaurante Tia Nastácia.
Vai receber os clientes com a testa franzida?, perguntava, durona, antes de eu abrir as portas para o almoço. Sobrava-lhe razão. Até hoje tenho o mau hábito de franzir o cenho sem motivo aparente. Mas me policio mais e me esforço para ser o oposto do que pareço.
A empatia é uma inclinação que pode ser treinada. Tal como fazer embaixadinhas. Por isso, não custa se esforçar um pouco. Não se trata nem de praticar ações do arco-da-velha, espantosas; mas de distribuí-las em conta-gotas, conforme as habilidades de cada um, como mostram as ilustrações a seguir. Duas, retiradas do campo fértil do Facebook; outra, do cotidiano. Vamos a elas.
Imagine a cena de um homem bem-apessoado, vestido socialmente, atendendo uma pessoa na fila do banco, só que sentado no chão. Não é usual, convenhamos! Pois aconteceu em Volta Redonda, e a imagem viralizou na internet. O atendente, gerente do banco; o atendido, um cliente deficiente físico.
Óbvio que fisicamente um não é igual ao outro, mas, socialmente, não havia diferença. Não para aquele gerente! Somos todos iguais, não sou melhor que ninguém. Posso ser, talvez, pior –disse, com um sorriso no rosto, para a professora que fez e divulgou a foto nas redes sociais. E enfatizou não ter visto nada de extraordinário no que fez.
Outro dia apareceu (mais) uma diarista no Face. Oferecia os seus préstimos com um texto ruim, eivado de erros gramaticais a exporem sua precária instrução. E a chave destinada a abrir, acabava fechando as portas.
Até que um professor, de cujo rol de amigos a mulher nem constava, tomou a iniciativa de lhe fazer um bem-bolado cartão de visitas dizendo, com boa escrita e tino propagandístico, que ela sabia passar, lavar, secar e limpar, por um preço justo.
Na semana passada peguei o ônibus no Bosque dos Eucaliptos, onde moro, com destino ao Poupatempo, na região oeste da cidade. Ônibus cheio, dei de cara com um espertalhão de uns 20 anos, sentado no banco reservado aos passageiros especiais.
Em pé, uma senhora, arcada pelo peso da idade, se segurava como podia ante os sacolejos. Tive o ímpeto de interpelar o moço, mas recuei, remoendo. Vai que naquele coração more uma peçonha!, pensei.
Na viagem de volta, a compensação foi protagonizada pelo condutor, marcante antítese do que tinha visto na ida. Ônibus quase vazio e eu na janelinha do Romário. Em certo momento, na avenida Andrômeda, cerca de 200 metros antes do cruzamento com a Iguape, o motorista simplesmente parou o busão quase na transversal, de modo que quem viesse atrás também era obrigado a parar.
Fiquei pasmo! E só fui entender o motivo daquela parada atravessada quando vi passar na frente do ônibus, andar capenga, um simpático casal de idosos. Uma gentileza do tamanho do busão. Não tive dúvida em parabenizar o motorista pela atitude, tomada com habilidade e cuidado, se precavendo de qualquer acidente.
De minha parte, vou continuar me esforçando para imitar gente como o gerente do banco, o professor e o motorista; sendo amável e gentil com o mundo à minha volta, tão necessitado de menos espertezas e mais gentilezas. Começando por agradecer, de coração, ao(à) leitor(a) por chegar até aqui na leitura desta crônica.
> Carlos José Bueno é jornalista profissional (MTb nº 12.537). Aposentado e no ócio, brinca. Com os netos e as palavras.