Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Encontrei ontem, no Calçadão de São José dos Campos, um conhecido, bem mais moço, que foi logo lamentando:

− Esse calor me deixa louco, estou com uma bendita dor no joelho que me mata! Já não posso mais nem caminhar direito. Estou também com aquela dorzinha de cabeça. Você acredita que ela voltou, depois desses anos todos?

Após desfiar, aos borbotões, um rosário de queixas, resolveu mudar de assunto:

− Mas o senhor está bem, doutor, não mudou quase nada, só cabelo branco e careca. Um jeitinho meio cansado. Deixe adivinhar: passou dos sessenta. Que bom! Está agora na melhor idade.

Não aguentei a contradição, despedi-me rapidamente e voltei à caminhada. Não sei qual foi o bajulador que inventou essa história de melhor idade ao tratar de idosos. Substituíram a indefectível “terceira idade” para uma expressão também eufemística, entretanto sem sentido. Aliás, a legislação trata essas pessoas simplesmente como idosas.  Porém, “melhor idade” ninguém merece. Não adianta ficar dourando a pílula de pessoas que passaram dos sessenta anos. Somos idosos, mas não somos bobos.

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A minha implicância –e fico à vontade porque já estou bem entrado nos setenta– é contra a expressão “melhor idade”. Melhor no que, meu Deus? Só pode ser puxassaquismo, os tais de politicamente corretos ou pessoas com objetivos meramente comerciais.

Melhor?  Quase nada é melhor para quem já começou −digamos− a carreira da velhice. Dói aqui, dói ali; é joelho que mata, dor no cangote –tem até a tal dor na “escadeira” como diz o caipira. Dor ciática, câimbras, hemorroidas, reumatismo, dor no cóccix, na coluna, nas juntas, nas mãos, pernas, cabeça, até no olho, enfim, para abreviar, um pacote de incômodos para todos os gostos.

De resto, estou a escrever isto porque estou num dia especial de condor. A ave altiva? Não, com dor mesmo, mas não as de um velho rezingueiro.

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Neste momento pode vir um sabido me lembrar de que o intuito é não estigmatizar os idosos, chamando-os de velhos. Admito, chamar alguém de velho é o despeito de quem na verdade desconfia que não chega até lá!

Mas afirmo que os idosos querem respeito, não bajulação e falsidade. Não cabe nem a expressão terceira idade. Os idosos hoje são em grande número e os progressos na área da saúde estão empurrando o homo sapiens para uma vida cada vez mais longa. Já se tem um sem número de centenários, ter oitenta anos não surpreende ninguém.  E no primeiro mundo, idoso é só quem tem mais de setenta e cinco anos.

Para arrematar, estou me lembrando da temeridade de ter dito à minha muito idosa tia Filoca que ela estava na terceira idade. Pior, querendo consertar, diante de sua fúria, falei na expressão condescendente “melhor idade”, tentando explicar essas modernidades. Não adiantou e tive de ouvir:

− Pode parar, seu doutorzinho! Eu não estou nem na terceira, nem na quarta, nem na quinta idade. Muito menos nessa idiotice de melhor idade. Eu vou é lançar uma praga nesses chatos e desavisados, para que eles vivam o bastante para sofrer essas melhores dores de um idoso! Mais respeito, velhacos!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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