"Meu Pai": mais um desempenho excepcional de Anthony Hopkins. Foto / Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

A demência senil causa dores; não físicas, mas na alma do idoso e de quem dele se circunda. Por vezes ela se aproxima lentamente, parece regredir, pega atalhos, transita entre a desconfiança e a injustiça, a sanidade e a raiva, o amor e a compaixão. Um mal que não avisa “se” nem “quando” chegará, gera ansiedade, apavora e entristece a qualquer tempo.

O escritor e roteirista francês Florian Zeller é o autor da obra original (peça teatral “Le Père”) e dirige magistralmente “Meu Pai” (Father), filme que nos mostra de modo magnífico, sob o ponto de vista do paciente, a ruína da memória e seus labirintos. No papel principal, a melhor das escolhas: o brilhante Anthony Hopkins (“O Silêncio dos Inocentes”, “Encontro Marcado”, “A Máscara do Zorro”, dentre dezenas de outros filmes), cuja atuação lhe valeu o Oscar de Melhor Ator em 2021.

Olivia Colman (Filme “A Favorita” e séries “The Crown”, “The Night Manager”, “Broadchurch”) é Anne, amorosa filha que tenta, concomitantemente, administrar sua vida pessoal e contornar os problemas oriundos da confusão mental do pai, buscando soluções e a todo instante chamando-o à realidade –ciente de que se trata de uma luta inglória.

O personagem Anthony tem suas manias, que se enraízam com o envelhecimento e afloramento da demência; ele se prende às horas do relógio de pulso e, repetidamente, a uma ária da ópera de Georges Bizet (“Os Pescadores de Pérola”, escolhida por Hopkins), mas se desconecta de fatos traumáticos, como a ausência da filha caçula. O diretor utiliza o esvaziamento da casa em mudança para nos escancarar as peças faltantes no quebra-cabeças de uma memória que se esvai –cena marcante e uma das mais impactantes analogias de um mal que se assemelha ao Alzheimer.

Sem dúvida, uma obra-prima que nos conduz a uma profunda imersão. Disponível no Now e streaming Amazon.

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> Série

YOUR HONOR

A Paramount e o streaming Amazon nos disponibilizam essa série que mistura drama e suspense na dose certa. Com os olhos colados à tela, conhecemos o juiz Michael (Bryan Cranston: séries “Breaking Bed”, “Sneaky Pete”, “Modern Family”), viúvo que mora com o filho adolescente Adam (Hunter Doohan: séries “Dilema”, “Truth be Told”), emocionalmente perturbado desde a trágica morte da mãe. O caráter de homem pacífico, ético e justo da cidade norte-americana de New Orleans começa a desmoronar quando Michael inicia uma longa e perigosa jornada para acobertar um crime cometido pelo filho.

Sucessivos fatos e mentiras, criados para apagar os vestígios do crime, vão tecendo uma grande rede que envolve pai, filho e outras pessoas, inclusive de seu ambiente profissional. Chama a atenção a crise de consciência de Adam, beirando o desespero ao saber que um inocente foi para a prisão em seu lugar. A tradução de “Your Honor” é “Excelência”, a forma de tratamento para magistrados no idioma inglês. Com tensos episódios de aproximadamente 60 minutos, esse é um bom programa apenas para adultos.

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> Tila Pinski é jornalista (MTb 13.418/SP), atua como redatora e revisora de textos, coordenadora editorial e roteirista. Cinéfila, reside há nove anos na Vila Ema.

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