Domingo marquei presença na festa de aniversário da Otávia, que carinhosamente chamo de Tavinha por seu jeito doce e meigo e sua estatura.
Um festão, reputou o Wandeco, pertinente. Teve música ao vivo, fartura de comida e bebida e muitos amigos. Alguns eu não via há anos. A comilança foi no Clube de Campo Santa Rita, de onde matei saudade do tempo em que oferecia meus préstimos para a Associação Esportiva São José, a gloriosa Vermelhinha.
Com 60 anos, Tavinha é uma das mais novas do grupo do cachimbo incandescente, que compareceu em peso, exceto Nenê e Alzira, impedidos por compromisso em Conceição dos Ouros, onde moram.
Cheguei animado com a possibilidade de encontrar um contemporâneo do clube. Nada! Mas topei com o Paulo, irmão do ex-vereador Cristóvão Gonçalves, que disse ser meu aficionado aqui. Fiquei feliz.
Na véspera, num coquetel, tinha encontrado o seu outro irmão, Donizetti, que me sugeriu reunir minhas crônicas numa antologia, o que já me passou pela cabeça.
A festa seguia animada no amplo quiosque 18. Em dado momento, a mesa da veiarada ficou vazia dos homens. O Manuel tinha saído num rolê com a neta; o Laércio foi na captura de uma breja; o Assis, marido da Tavinha, anfitrionava; eu fui relembrar com um amigo os tempos de futebol de salão na quadra da Vila Vicentina; e o Wan dançava leve e solto, de molhar a camisa, chamando mais atenção na pista de dança do que o pixuleco na Paulista.
Foi quando, entre as luluzinhas, surgiu a ideia de trocar o cardápio do próximo encontro da turma, convencionado anteriormente no sítio Providência. Em vez de churrasco, comida de boteco, com mandioca frita, carne de sol, torresmo, moela…
Retomada a conversa depois, argumentei que, nos nossos encontros, a preocupação é sempre deixar as mulheres com menos afazeres possível; que esses petiscos são gostosos, mas a mulherada teria que esquentar o umbigo no fogão; além do que poderia acontecer de alguém torcer o nariz para um ou outro tira-gosto.
Disse que, se fizessem questão, a gente poderia marcar de se encontrar um dia no bar do Mané ou do Fumaça, especialistas nesse tipo de comida; e propus trocar a moela e etcetera por um filé-mignon sapecado no disco de arado, com arroz branco quentinho, vinagrete ou maionese, prato simples, fácil e do agrado de todos os paladares. Laércio meneou a cabeça em aprovação.
Quando dei de amparar os motivos da sugestão, ajuntou-se os convivas para cantar o tradicional parabéns, sendo que em seguida foi servido o bolo. Era o fim da festa.
Um pouco antes, Bruna, sete anos de pura sapequice, neta do casal Margarida e Manuel, aproximou-se para mostrar uma foto minha que ela tinha capturado do celular. Expandiu a imagem com os minúsculos dedos polegar e indicador e exibiu-a próxima do meu rosto.
–– Tio, você estava dormindo?, perguntou. Pego de surpresa, inventei que tinha fechado os olhos porque, de tão boa, estava rezando para a festa não acabar.
–– Rezaaando!!! Tá querendo me enganar, é? –retrucou, abrindo um sorriso banguela. E saiu serelepe para mostrar a foto para a avó que, mais do que ninguém, sabia que eu não dormia, nem rezava; e a festa não estava acabando. Só seria pausada para continuar no próximo final de semana com comida de boteco, filé-mignon na chapa ou até churrasco, como antes combinado, mas com boa prosa, cerveja e muita alegria.
> Carlos José Bueno é jornalista profissional (MTb nº 12.537). Aposentado e no ócio, brinca. Com os netos e as palavras.