Rua Padre Rodolfo: primeiro alvo da verticalização após a nova lei de zoneamento. Foto / SuperBairro

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

WAGNER MATHEUS

O SuperBairro ouviu moradores da Vila Ema sobre a nova lei de zoneamento, que permite a construção de edifícios verticais no bairro. A maioria reconhece que o progresso é inevitável, mas defende limites na lei para que a verticalização não comprometa a infraestrutura e a qualidade de vida hoje existentes.

A lei de zoneamento foi elaborada pela Prefeitura de São José dos Campos e apresentada à população em audiências públicas realizadas em todas as regiões do município. Aprovada pela Câmara Municipal, passou a vigorar em 9 de outubro de 2019.

A lei permite a volta dos prédios de apartamentos à Vila Ema e a alguns bairros vizinhos, como a Vila Adyana. Considerado o bairro “zona mista 2”, autoriza a construção de prédios residenciais verticais com até 80 unidades.

A legislação anterior, que definia o uso e ocupação do solo, vigorou entre 2010 e 8 de outubro de 2019 e impedia a construção de prédios no bairro. Eram permitidos os usos residencial unifamiliar e multifamiliar horizontal, comercial, de serviço e institucional. A lei ainda exigia que a ocupação tivesse “nível de interferência urbano-ambiental desprezível”.

A mudança da lei já está produzindo efeitos. Na rua Padre Rodolfo, foi instalado na semana passada o estande de uma construtora para dar início à fase de pré-lançamento de um edifício com 21 andares e 72 apartamentos. Dois outros terrenos na mesma rua comportam a construção de edifícios.

 

Ouvidos pelo SuperBairro

Foto / SuperBairro

“Nada contra prédios de apartamentos. O que preocupa é a infraestrutura. Corremos risco, por exemplo, de falta d’água. Água e esgoto é coisa séria. Acho que se fossem no máximo cinco a sete andares não tiraria a liberdade dos moradores das casas. Fui criado nesta rua, vivo aqui há uns 20 anos, meus pais vieram muito antes. O bairro é excelente, sempre foi muito tranquilo, até a chegada do supermercado, na época era Emaserv. Sou a favor da modernidade, mas deve haver limites.”

Lauro Marengo, advogado, mora na rua Padre Rodolfo

Foto / SuperBairro

“Moro há seis anos aqui no bairro, gosto muito daqui, é um lugar que ainda preserva moradores antigos. A vantagem [da construção de prédios] é que atende a quem quer vir morar aqui, mas a desvantagem é a perda do lado bucólico do bairro. Vai quebrar um pouco as características do lugar. É uma pena. Tenho clínica no Jardim Maringá, ali as residências estão acabando para dar lugar ao comércio. Acho que tem que haver o progresso, mas é preciso ter muito cuidado com a qualidade de vida, ter controle do crescimento, resolver os problemas do trânsito. É preciso evitar que se repita o que aconteceu com o [Jardim] Aquarius.”

Mariana Rodrigues, dentista, mora na rua Madre Paula de São José

Foto / SuperBairro

“Moro aqui há cerca de 15 anos. Acho ruim ter muito prédio. Aqui é muito característico de casas, daqui a pouco pode ficar tomado de prédios, virar uma selva de concreto. Se isso acontecer, os moradores perdem a privacidade. Deveríamos manter o padrão de casas que o bairro ainda tem hoje. Por isso, acho importante revisar a lei para colocarem um limite na construção de prédios.”

Milene Munhoz, dentista, mora na Travessa Jamir David

Foto / SuperBairro

“Trabalho há cinco anos aqui no bairro, na lavanderia [em frente à sede da Paróquia Sagrada Família, na rua Padre Rodolfo] e na Naturavale [loja de produtos naturais na rua Madre Paula de São José]. Acho que a construção de prédios é uma tendência, não tem por onde fugir. O bairro vai ser cada vez mais vertical. O resultado é que isso aumenta o trânsito no bairro, mas por outro lado melhora o comércio.”

Ciro da Silva trabalha na Vila Ema e mora no Parque Industrial, região sul

 

Opiniões nas redes sociais*

“Serão prédios de 18 andares!!!”

Lia Moura

“É mesmo? Que loucura é essa? E a barulheira está fora dos ponteiros…”

Carmen Lucia Letra

“Eu passei por lá hoje e fiquei assustada! Tinham casas lindas lá e tudo derribado!”

Mônica Costure-se

“É lamentável! Gostaria de saber se de fato a população do bairro foi consultada sobre essa mudança na lei de zoneamento e se concordou com a instalação de prédios altos no bairro. O Vila Ema é uma área residencial antiga que, com novos prédios, poderá ter sérios problemas de ordem sanitária e de mobilidade. Será que a prefeitura vai aprovar sem compensações que promovam melhorias na infraestrutura do bairro?”

Fabíola de Oliveira

“Nada a comemorar! Perda da ventilação, sombreamento de casas, problemas com trânsito de veículos, redução de áreas verdes, concentração de calor. Na contramão das melhores cidades do mundo!”

Wilson Cabral

“Como moradora da Vila Ema há quase 20 anos, estou indignada, pra dizer o mínimo. O bairro não comporta essas torres de apartamentos. Nem sua malha viária, nem sua rede de esgoto vão dar conta. É a ganância falando mais alto do que o bom senso.”

Edna Petri

“Infelizmente, no Brasil os moradores nunca são consultados nesse sentido… somente a prefeitura tem poder sobre essas decisões… mas é péssimo… Simplesmente destroem com a nossa vida e pronto.”

Natália Hernandes

“Puxa vida, que coisa triste transformar a Vila Ema num paliteiro igual ao Aquarius. O dinheiro fala mais alto mesmo. As construtoras são muito respeitadas em nosso país.”

Gisela Natal

“Estão previstas três torres na Rua Padre Rodolfo, que já tem muito trânsito por conta da igreja e da escola. Vai virar o caos e as ruas estreitas da Vila Ema serão vielas com o mar de carros. Além disso, a verticalização reduzirá a ventilação e cobrirá mais os terrenos de concreto. (…) As três ruas em tempos sem pandemia vão ter hora do rush, duas escolas, inúmeros prédios, comércio… Vou-me embora pra “Pasárgada”! Descaso do Município, da atual administração, logo a lógica do Aquarius se perpetuará na Vila Ema. E o Esplanada é o próximo passo, observem. Às construtoras tudo, à população nada! Até quando?”

Pedro Luís S. Escada

“Ao aprovar tais projetos, os órgãos públicos responsáveis deveriam se ater também à captação de esgoto. Moro na Heitor e o fedor de esgoto em alguns trechos é insuportável, no-jen-to! Pelos comentários fica óbvio que a população simplesmente não sabe nada do que acontece na cidade ou até mesmo no seu bairro. Como pagadores de impostos, deveríamos ser consultados sobre essas mudanças impactantes. Coisa mais cafona e antiga meia dúzia decidindo na ‘calada da noite’.”

Bernardete Anabel

“Sem dúvidas, a valorização na Zona Oeste é evidente, espero que agregue a região, terá impacto massivo no Alvorada e Jardim das Indústrias. Mas consultaram, só não consultaram a nós, por que você acha que vai ter limitação nos andares nas construções verticais? Foi feita uma consulta para quem acham relevante ouvir. No caso, ouviram o Aquarius, que seria afetado pela visão horizontal do Banhado. (…) O restante creio que não ligariam para a opinião pública, agora faz sentido a obra do bolinho caipira, porque ali vai aumentar consideravelmente o fluxo. (…) Terreno particular, não há muito que opinar, só acho que os bairros da Zona Oeste, previsão de uma creche, não temos esse suporte da prefeitura. (…) Creio que tem que analisar o Banhado, tem situações ilegais que poderiam ser vistas também. Mas a região está recebendo muitas mudanças, espero que o verde ainda seja predominante.”

Rodrigo Rodrigues

 

*O SuperBairro revisou a ortografia e a pontuação, mantendo o conteúdo integral das postagens.