Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Fulano morreu. Comoção nacional. Eta sujeito bom! Conhecidíssimo desde priscas eras, já era parte da família brasileira, ídolo, personagem importante da história. Mas como era bom! Generoso, gentil, humilde, justo. Todas as qualidades possíveis.

Fiquei matutando. Será que era tudo isso? Depois de morto, virou santo. Ninguém se lembra dos defeitos. Generoso? Nem tanto, não rasgava dinheiro, certamente. Gentil? Parece que esqueceram modos rudes e grosserias ocasionais. Humilde? Muito pouco. Justo? À sua maneira.

Tinha, obviamente, boas qualidades, que justamente o levaram à fama, inegável. Porém –gente− não vamos exagerar. A mídia fica martelando meias verdades, inflando a quota de qualidades do defunto. Absolvendo antecipadamente o bruto, que quase nada terá de ruim no balanço geral frente a São Pedro.

Não só este. Outros também. Basta morrer que a mídia já tem prontinha uma enxurrada de elogios. Tudo indica que a morte alivia, senão apaga os vícios. Oba, posso ficar tranquilo e ir desta para melhor, com a bagagem aliviada. Como dizia o poeta, na morte a gente esquece…

Outro dia mesmo, não faz muito tempo, morreu figura bem conhecida em São José dos Campos. Não acreditei o quanto encheram de elogios o perfeito cidadão. Bom, honesto, generoso, excelente profissional. Fiquei confuso: será que se trata da mesma pessoa? Porque a que conheci não era lá muito bom, nem honesto, nem verdadeiramente generoso, nem profissional de brilho. Como a morte faz melhorar as pessoas. Sorte delas, só não sei se engana o velhinho.

APOIO / SUPERBAIRRO

Verdade é que não há quem não tenha seus defeitos, seus vícios. Qualidades e virtudes coexistem em todos, resta saber o que prevalece. Para a imprensa, vale o lado bom inteiramente. Eu acredito que é preciso ter misericórdia, no entanto, sem esquecimento.

O problema é que nem todo mundo engole esse incenso desmedido para alguém que bateu as botas. Caso da tia Filoca, que não deixa escapar nada nem ninguém:

− Pare com isso. Esse cara aí não era o que estão dizendo. Parece que virou santo! Melhor avisar o papa. Todo mundo sabe que não era bem assim. O bendito era egoísta, presunçoso, pensava que o mundo girava em torno dele. Fez o bem? Conversa, tudo no seu interesse. O pilantra não me engana não. Peste!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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