O tsunami de informações que nos afoga todos os dias, vez ou outra traz alguma coisa que me leva à reflexão. Aquela paradinha mental pra fazer conexões de ideias, avaliar situações, nossa condição humana etc. e tal. Quem nunca, né?
Minhas conexões foram ativadas recentemente com uma reportagem sobre a destruição de imagens em uma igreja de Osasco, na Grande São Paulo. Dia 3 de maio, à noite, um grupo de jovens vândalos invadiu a Igreja Nossa Senhora dos Remédios para depredar imagens de santos.
A história é que os padres acordaram e os jovens conseguiram fugir, mas já deixando um grande estrago para trás. Como a imagem de Santo Ubaldo, trazido da Itália há mais de seis décadas, destruída.
E aí, chegamos na parte que considero boa nessa história de confusão tão humana.
Ontem, após uma semana da invasão, ouvi nova reportagem sobre o assunto; dessa vez falando sobre a restauração das imagens. Restauradores do Museu de Arte Sacra de São Paulo é que vão assumir a missão prevista pra durar um ano.
Algumas partes são grandes. Outras ficaram esmigalhadas, mas foram recolhidas em uma caixa para serem remontadas como um quebra-cabeças, partícula por partícula.
E já que estarão lá sendo remontadas, também passarão por uma recuperação da paleta de cores original. Um processo minucioso e delicado de retirada das camadas de tinta que receberam sem a supervisão de restauradores.
Você pode estar se perguntando. Ah, pessoa, o que tem demais nisso? Alguns quebraram, outros vão consertar e fim da história.
Fim da história mais ou menos. Reparou como o trabalho de reconstruir é demorado e como exige dedicação e especialização?
Os restauradores terão que empenhar pelo menos um ano de trabalho para consertar o estrago que os vândalos fizeram em poucos minutos. Ao recuperar as imagens mais antigas, esses trabalhadores vão resgatar valores artísticos que foram se perdendo com o passar dos anos.
No processo, eles estarão contribuindo para restaurar também a alegria daqueles que professam a religião católica. E, claro, o ponto aqui não é religião. Muitos ficarão alegres ao ver seu local de oração completo outra vez.
O retorno das imagens à igreja será motivo de festejos (esperamos que já em um mundo com maioria vacinada). E festejar é sempre bom para renovar a alegria, criar oportunidade de encontros.
Conseguiu embarcar na minha viagem? Se a gente parar e descer um pouco além da superfície de quase todas as situações, dá pra encontrar motivo de seguir acreditando nos seres humanos, com todas as suas falhas e sua eterna busca de redenção.
Restaurando, reconstruindo, consertando, insistindo em usar mesmo os mínimos pedaços para fazer lindos mosaicos.
> Maria D’Arc Hoyer é jornalista (MTb nº 23.310) há 28 anos, pós-graduada em Comunicação Empresarial. Mora na região sudeste de São José dos Campos. É autora do blog recortesurbanos.com.br.