A frase é atribuída a um certo Hiram Johnson, senador norte-americano morto em agosto de 1945, justamente no período em que terminava a 2ª Guerra Mundial, o maior conflito armado de toda a História.
Johnson acertou na mosca. Como ocorreu naqueles tempos e tem ocorrido com requintes de especialização a cada dia maiores, textos, áudios e vídeos são armas às vezes até mais importantes que as bombas, mísseis, granadas, fuzis e metralhadoras.
Neste conflito entre Rússia e Ucrânia, a informação –e a desinformação– têm sido, até o momento, as armas mais usadas, menos pela Ucrânia e mais pela Rússia e pelas potências mundiais, como Estados Unidos, China, Inglaterra, França e Alemanha.
Cada um tem usado a sua “verdade” no roteiro do conflito. Como mero observador dos acontecimentos, o que chega para mim é mais ou menos o seguinte:
– Rússia – Perdeu o status de potência rival dos Estados Unidos no cenário mundial após a dissolução da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Transformou-se em uma potência comum, embora nuclear, enquanto Estados Unidos e China são as protagonistas. A situação da Rússia ficou difícil. Além de perder a aliança do Pacto de Varsóvia, que reunia os países satélites da União Soviética no leste europeu, região que era chamada de “Cortina de Ferro”, começou a perceber o avanço das forças da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que apesar do fim da Guerra Fria, longe de também se dissolver, vem ganhando novos membros. A Rússia se sente cercada e sufocada, inclusive por falta de acesso amplo ao mar em seu território ocidental. Detalhe: a Rússia é a agressora da Ucrânia.
– Ucrânia – País com amplas e históricas relações com Rússia, URSS e novamente Rússia, parece que “cochilou” enquanto Letônia, Lituânia e Bielorrússia se desvencilharam de Moscou e se aproximaram da União Europeia, inclusive aderindo à Otan. Com parte de seu território convulsionado por movimentos separatistas, apoiados pela Rússia, o país viu-se impedido de seguir seus vizinhos. Agora, é apenas um refém dos interesses das potências envolvidas na crise. Detalhe: A Ucrânia foi agredida e invadida pela Rússia.
– Estados Unidos – Em um mundo sem Guerra Fria, age como se estivesse no auge dela. Seu presidente Joe Biden passou quase um mês anunciando que a Rússia iria invadir a Ucrânia. Até que invadiu mesmo. É bom lembrar que a Rússia não é mais um regime socialista como era a União Soviética. Pelo contrário, tem um governo populista e autoritário que, depois de permitir uma abertura para o mais escancarado neoliberalismo, viu o país mergulhar na corrupção e no poder das máfias do crime organizado. Agora tenta reorganizar o poder estatal tendo à frente o “czar” Putin. Parece que aos Estados Unidos interessa enfraquecer ao máximo a posição da Rússia entre as potências.
– China – De vento em popa com sua economia centralizada e Estado forte, a China joga de socialismo na política e de capitalismo na economia. E tem dado certo. É inevitável que ocupe cada vez mais o papel da antiga URSS no antagonismo com os Estados Unidos e outras potências ocidentais.
– França – Faz o papel de mediadora no conflito. Seu presidente Macron, movido também por interesses eleitorais em seu país, faz um jogo no qual possivelmente nem ele acredita.
– Alemanha – Assim como Inglaterra e outros países importantes da Europa, age como bombeiro no conflito. Mas, nos últimos dias, deu sinais de que irá abandonar a sua renúncia à força armada –um dos castigos recebidos com a derrota na 2º Guerra Mundial– e anuncia investimentos em sua Defesa.
A arma da informação
Você deve achar que eu sou um analista de geopolítica e de estratégias de guerra, não é? Calma, não mesmo. Só um observador muito distante. E o gênero de crônica, que eu procuro praticar aqui neste espaço, me permite esses voos sobre os mais diversos assuntos. Porém, deixando claro que são apenas visões recebidas a partir da leitura dos sites, jornais e revistas.
E aí voltamos ao começo, à frase do senador dos EUA: “Na guerra, a primeira vítima é sempre a verdade”. Nestes dias, o mundo inteiro está sendo bombardeado por projéteis em forma de notas oficiais, comentários, declarações, fofocas, “buxixos”, fake news e tudo o mais que se possa imaginar. E quase tudo vira notícia.
Existe notícia para todos os gostos e ideologias. Tem notícia condenando e outras defendendo a Rússia; condenando e defendendo os Estados Unidos; condenando e defendendo a Otan; condenando e defendendo a China. Cada um escolhe o que prefere. E é aí que mora o perigo…
Tão importantes quanto os generais envolvidos nesta guerra, são os repórteres, correspondentes de guerra e editores de notícias do Exterior. São eles os encarregados de separar o joio do trigo, ou seja, tentar distinguir a verdade da mentira. E publicar, é claro, a verdade.
Mesmo assim, você leitor deve saber encarar com visão crítica o que chega até os seus olhos e ouvidos. Leu algo que não cheira bem? Consulte outra fonte de informação e veja o que ela diz. No final, é possível fazer um filtro eliminando os exageros. Mesmo assim, não se iluda, tudo pode mudar a qualquer momento. Porque a guerra, como eu disse, também é diplomática e, nesse campo, a troca de tiros acontece com informações e, muitas vezes, com desinformações.
‘SuperBairro’ e a guerra
Encontrei nesse final de semana um dos meus leitores-amigos –ou será um dos meus amigos-leitores?–, que me cobrou como se eu fosse um dos Mesquitas do “Estadão”:
–– E o SuperBairro, não dá nada sobre a guerra?
Primeiro agradeci ao mais amigo que leitor a importância que deu ao nosso SuperBairro. Depois, lhe expliquei mais ou menos o seguinte. Quer saber qual é o papel do SuperBairro na comunicação? Pela ordem:
– Cobrir muito bem a região central e parte da região oeste de São José dos Campos, que por terem características semelhantes, resolvemos tratar como uma cidade dentro da cidade, com o nome de SuperBairro.
– Depois, cobrir com competência os assuntos de interesse para toda a população de São José dos Campos: vacinação, obras, opções de lazer, mudanças no trânsito, oportunidades de empregos, cursos etc.
– Bem mais além, nosso papel é prestar serviço com informações úteis sobre a região do Vale do Paraíba, o estado de São Paulo, o Brasil e o mundo. Somente em pinceladas, mais para alertar os leitores do que para tentar esgotar o assunto.
Afinal, informação é coisa séria. Se pretendesse fazer uma cobertura completa da guerra entre Rússia e Ucrânia, as opções do SuperBairro seriam as seguintes: assinar uma agência internacional de notícias, como Reuters, AP (Associated Press) ou AFP (France-Presse), que mantêm jornalistas no mundo todo cobrindo esses e outros assuntos e distribuindo-os a tevês, jornais, revistas, rádios e sites que assinam seus serviços.
Depois, pela assinatura dos serviços de agências nacionais, como Agência Estado, Folhapress e Agência O Globo, que por sua vez já compraram os serviços das agências internacionais acima e os complementam com o trabalho de enviados especiais, comentaristas e analistas especializados.
Ou seja: um noticiário de guerra no SuperBairro seria uma espécie de terceira divisão do jornalismo. Então, em nome do profissionalismo e da honestidade, é melhor a gente não se meter em briga de cachorro grande.
É claro que isso não implica renunciar a falar do assunto, mas fazemos isso usando o espaço do nosso time de colunistas, que tem toda a liberdade de opinar, interpretar e até de tentar analisar, porém com o cuidado de não desinformar na tentativa de informar.
Onde se informar?
Quer informação de qualidade a respeito desta guerra? Vou fazer a você a mesma sugestão que fiz ao meu amigo. Leia o portal de notícias “UOL”, os jornais “Folha de S. Paulo”, “Estadão” e “O Globo” e, ainda, a revista “Veja”. Se tiver acesso, consulte o site do jornal espanhol “El País”. E se for fluente em inglês, escolha os dois melhores jornais dos Estados Unidos e da Inglaterra. Pronto, resolvido.
E aí você poderá perguntar se eu não esqueci as tevês. Sinceramente? Acho que a cobertura das tevês não acrescenta muito em matéria de informação. Elas abrem mão de informação mais aprofundada para transformar a notícia em espetáculo. Quanto maior a carga dramática, melhor para elas. Nesse caso, o espectador fica emocionado com as imagens e chamadas dramatizadas, mas perde muito em informação de qualidade.
É isso. Desejo que você faça uma boa seleção do que é joio e do que é trigo nesta guerra paralela que os países movem para ganhar corações e mentes através da informação. E leia só o trigo.
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.