Foto / Pedro Ribas/Prefeitura de Curitiba/SMCS

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Longe das amenidades que trago todas as semanas neste espaço, desta vez vou enfiar o pé na jaca, como se diz, para reportar assunto mais denso, mas merecedor de meia dúzia de palavras aqui.

No dia 5 de fevereiro o vereador Renato Freitas (PT), de Curitiba, invadiu a Igreja do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito, naquela cidade, para protestar contra a morte do congolês Moïse Mugenyi numa briga no Rio de Janeiro. No momento da invasão o padre celebrava missa.

Liderando um grupo de manifestantes contra o racismo, o vereador atrapalhou a celebração religiosa e discursou acusando os católicos de conivência com o sistema político vigente no país, que responsabilizou pela morte do congolês.

O grupo, que empunhava bandeiras do PT e do PC do B, xingou de racistas e fascistas os fiéis presentes na igreja e não cessou o protesto mesmo diante dos insistentes apelos do padre, que queria continuar a missa.

Agora, imagine a cena: você está numa missa ou culto, em plena intimidade com Deus, quando, de repente, um bando de anarquistas invade o local para, de forma aviltante, agredir o seu sagrado direito de professar a fé.

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A violência teve desdobramentos. No dia 10 deste mês a Comissão de Ética da Câmara Municipal de Curitiba aprovou pedido de cassação do mandato do nada nobre edil. Enquanto isso, o vídeo da invasão rola solto nas redes sociais, com respingos na candidatura de Lula.

Ao analisar o pedido para cassar o mandato do vereador, cinco integrantes da comissão votaram pela perda do mandato, um optou por uma pena de suspensão e outro votou por sua absolvição, não enxergando nada de errado no que o colega fez.

No processo, a acusação é de perturbação de culto religioso –visto que uma missa era realizada na igreja– e quebra de decoro parlamentar, caracterizado pela entrada forçada dos manifestantes e realização de ato político no interior do templo.

Junto com o seu séquito o vereador agiu como arruaceiro, interrompendo a celebração religiosa. Queria holofotes e por isso deve pagar caro. A pretexto de marcar posição contra o racismo, a barulhenta manifestação configurou intolerância religiosa, outra face obscura da nossa convivência em sociedade.

Eu fico me perguntando: se queria chamar atenção para sua causa, por que o vereador não invadiu um local de maior público, como um shopping ou o gramado do Couto Pereira em dia de Atletiba?

A pergunta é de fácil resposta. Ele preferiu invadir a igreja por um motivo simples. No shopping ou num acirrado derby o couro teria comido no vão do chifre antes que ele abrisse a boca; já na igreja o “sai capeta!” veio suave, nas formas de reza e de silêncio dos ali oprimidos.

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Aposta-se naquela casa de leis que Renato Freitas não escapa de perder o mandato, o que já alvoroça os iguais, que falam em perseguição política. Para ser cassado será preciso o voto favorável de 20 dos 38 vereadores. A Diocese de Curitiba registrou boletim de ocorrência contra o impostor, mas não se manifestou sobre um processo na Justiça.

Se for processado, o vereador pode ser incurso no artigo do Código Penal que trata dos crimes contra o sentimento religioso, cuja pena é de detenção de um mês a um ano de prisão ou pagamento de multa por vilipêndio de ato ou objeto de culto religioso ou impedir/perturbar cerimônia ou prática de culto religioso, o que foi o caso.

Para responder à expectativa da comunidade católica de Curitiba, espera-se que a Câmara Municipal passe na lâmina o mandato do petista; e que a Diocese local não se furte a recorrer aos tribunais por um corretivo para o ofensor. A medida serviria de exemplo para qualquer outro, com mandato popular ou não, que ache que pode entrar à força numa igreja e ali vomitar suas cretinices.

Protestar é um direito de todos, desde que observadas a lei e a ordem. O brasileiro tem motivos de sobra para se indignar e soltar os cachorros nas ruas e nas praças públicas, como a carestia de vida, a bandalheira dos políticos, o estupro das leis pelos tribunais superiores… mas sem imitar o vereador de Curitiba, exemplo de desrespeito e de estupidez.

 

> Carlos José Bueno é jornalista profissional (MTb nº 12.537). Aposentado e no ócio, brinca. Com os netos e as palavras.

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