Imagine que você está numa praia, tomando uma cerveja geladinha, sentado numa confortável cadeira, olhando para aquele mar lindo, e de repente vê um alvoroço de pessoas na beira da praia, vai até lá e só ouve a palavra: tubarão, tubarão, tubarão… repetidas vezes.
Ou então imagine que você está nessa mesma praia, com a mesma cervejinha gelada e quando você olha para aquele marzão lindo dá de cara com um bicho enorme, gordo, saindo das águas e se arrastando desengonçado pela areia, vindo em sua direção.
Imaginou? Melhor nem pensar nisso, né? Pois saiba que essas cenas estão acontecendo em Ubatuba –distante 130 quilômetros de São José dos Campos–desde novembro do ano passado, quando foram registrados dois ataques de tubarão na praia do Lamberto e na Praia Grande.
Em fevereiro desse ano, um outro tubarão, com mais de dois metros, foi visto na praia Ubatumirim e agora, em março, um elefante-marinho de mais de quatro metros de comprimento, pesando cerca de duas toneladas, anda frequentando algumas praias da cidade para simplesmente descansar nas areias quentes.
Fala a verdade se não está sendo só emoção frequentar as praias de Ubatuba nos últimos meses?
No caso do elefante-marinho, ele tem cara de fofo e é um fofo mesmo. Ele só quer ficar em paz nas areias da praia, deitadão, fazendo a troca de pelos e pele, segundo os biólogos do Instituto Argonauta para a Conservação e Costeira Marítima, que estão monitorando o grandalhão desde que ele chegou, no dia 4.
Só neste mês ele já visitou três praias em Ubatuba. Ele chega e fica lá de boa. De vez em quando joga areia úmida nas costas para regular a sua temperatura e, com suas nadadeiras, coça o sovaco e a cabeça, parece até que está pensando na vida. Como sei disso? Simplesmente porque as redes sociais foram inundadas de fotos e vídeos sobre a visita desse animal marinho às praias de Paraty e Ubatuba.
Isso é normal?
Os banhistas ficaram encantados por aquele “bolo fofo” e, mesmo diante da visita inusitada, mantiveram a distância necessária, conforme foi solicitado pelos profissionais do Instituto, que toda vez que o bichão aparecia se dirigiam até o local para monitorar sua saúde.
Foi assim que se descobriu tratar-se de um elefante-marinho jovem, macho, sul-americano e, por isso mesmo, da espécie Mirounga leonina. Os elefantes-marinhos do Norte são da espécie Mirounga angustirostris.
Não é a primeira vez que um elefante-marinho aparece nas praias de Ubatuba. O fato já aconteceu em 2004. Segundo os biólogos, os elefantes-marinhos migram bastante, então eventualmente escolhem algum “ponto de parada” meio que aleatório.
Eles percorrem longas distâncias em todo o hemisfério Sul e não têm preferência por um local específico em terra porque a maior parte da sua vida é na água. Eles podem parar para fazer a troca de pelos e pele (como aconteceu com o animal que apareceu em Ubatuba) ou para reproduzir-se. A última vez que o elefante-marinho foi visto em Ubatuba, foi no dia 15 de março, na praia da Almada, encantando alguns banhistas e assustando outros.
E os tubarões?
Pois é, enquanto todo mundo morre de amores pelo elefante-marinho, os tubarões conseguiram assustar os banhistas das praias de Ubatuba. Também não é pra menos. No último ataque (15 de novembro passado), uma idosa de 79 anos que se banhava na Praia Grande foi atacada por um deles e sofreu um corte na perna de 25 cm. Antes disso, um turista francês também foi abocanhado na perna, na Praia de Lamberto.
Os biólogos, entretanto, saem em defesa dos tubarões alegando que, primeiramente, toda a costa brasileira é repleta desses animais, portanto essa é a casa deles, nós é que estamos invadindo o seu território –no que eu concordo totalmente.
Uma das hipóteses levantadas para esses animais aparecerem por lá é o enorme investimento em empreendimentos imobiliários e o pouco (ou quase nada) investimento em saneamento, sendo que fezes e urina, assim como sangue, atraem os tubarões.
Além disso, os ataques aconteceram em feriados prolongados, quando as praias estavam lotadas, o que também pode ter chamado a atenção desses animais. Mas que fique bem claro, de acordo com os biólogos os tubarões não caçam humanos.
Na verdade, pesquisando sobre o assunto, descobri que as pessoas não têm noção de quantas vezes dividiram o mesmo espaço com tubarões sem sequer perceberem a presença deles, principalmente os surfistas de altas ondas.
Mesmo sabendo que os tubarões não têm preferência pela nossa “carninha”, prefiro não arriscar. Se tem algo que eu respeito nesse mundo é o mar. Apesar de amar os animais, Deus me livre de “trombar” com um tubarão no mar. Mas adoraria ter visto o elefante-marinho. Certeza de que eu iria fazer parte daquelas trocentas mil pessoas que tiraram fotos, fizeram vídeos e selfies. Sim, porque sou dessas!
Adote
> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles
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