Foto / Cássia Lahoz / Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Chegaram os números do censo do IBGE de 2022. Desde então, imprensa, políticos, especialistas em crescimento demográfico e planejamento urbano fazem todo tipo de leitura dos resultados obtidos pelo respeitado Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

A cada censo populacional que é divulgado, alguns municípios comemoram enquanto outros choram e esperneiam contra os recenseadores, que estariam fazendo seu trabalho errado. Explico o porquê: a liberação de recursos públicos do governo federal para os governos municipais depende da população de cada cidade.

Segundo o novo censo, 2.397 municípios brasileiros registraram queda no número de habitantes. E o que é pior, 770 deles vão perder dinheiro do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que é calculado com base na população. Sortudos, 249 municípios vão receber mais dinheiro porque passaram a ter mais moradores.

Se nesses casos o número de habitantes mexe com os cofres das cidades, em outros casos o crescimento é visto como um fator de qualidade de vida. Cidade muito povoada pode perder o controle das necessidades de infraestrutura e de outros equipamentos urbanos e o resultado vai ser uma piora na vida das pessoas.

Quando cheguei em São José dos Campos, no final de 1977, creio que a cidade tinha cerca de 270 mil habitantes –estou estimando aqui, só consultei a minha memória. Digo isto com base em um recorte do antigo jornal “Agora” que encontrei em uma rede social. Segundo a notícia, em 1974 a população joseense era estimada em 250 mil habitantes.

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Os números do crescimento de São José começaram a explodir a partir do início dos anos 70 com a instalação de grandes empresas, como a Embraer, e a consolidação de outras, como General Motors, Johnson & Johnson, Kodak, Rhodia, Alpargatas, Ericsson, Engesa, Avibrás etc. etc. Era gente que precisava morar, se deslocar em ônibus e automóveis, comprar no comércio, estudar, ser atendida nos hospitais…

Dava um frio na espinha pensar na necessidade de investimentos públicos para que a cidade suportasse o crescimento. E as carências eram muitas. Para você ter uma ideia, naquele final de 1977 não havia o Anel Viário –só o projeto, que era do ex-prefeito Sobral–; para ir do Centro até a região sul o único jeito era seguir pela rodovia dos Tamoios e descer por uma rua estreita margeando a represa do CTA; para os poucos moradores do Jardim das Indústrias irem do Centro até o bairro, a única via era a congestionada e perigosa Dutra. Sim, você adivinhou, a avenida Cassiano Ricardo não existia, muito menos o Jardim Aquarius, que ainda era uma fazenda abandonada.

Os tempos eram tão bicudos e o Brasil estava tão mal de grana que os mais antigos irão se lembrar do “viaduto abandonado” sobre a Dutra. Onde hoje o Anel Viário atravessa a rodovia ligando a região central ao Parque Industrial, com um total de quase 10 faixas de trânsito nos dois sentidos, o Brasil falido dos anos 80 iniciou um viadutozinho modesto, mas não houve dinheiro para terminar a obra. Somente quando o Anel Viário foi finalmente inaugurado, no governo da petista Angela Guadagnin (1993 – 1996), o viaduto que levava “do nada a lugar nenhum” deixou de ser um monumento ao fracasso e passou a ter utilidade.

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O fato é que as previsões catastróficas sobre a transformação de São José em uma cidade inviável e superpopulosa, péssima de se viver, começaram a mudar depois da Constituição de 1988, que favoreceu a participação dos municípios em relação aos estados e à União. De lá para cá, os prefeitos que se sucederam –Angela, Emanuel Fernandes, Eduardo Cury, Carlinhos Almeida, Felicio Ramuth e o atual, Anderson Farias– conseguiram, uns com mais competência e outros com menos, dar uma direção ao crescimento da cidade.

Grandes obras foram planejadas e, o que é mais importante, executadas; tem havido uma continuidade administrativa que livra a população de grandes sustos; projetos de planejamento urbano são concebidos com uma visão das necessidades para os próximos 20 ou 30 anos. Esta tem sido a receita para que São José dos Campos seja uma cidade elogiada pelos visitantes e amada pela população nos dias de hoje.

Por tudo isto, o anúncio de que a “Capital do Vale do Paraíba” chegou aos 697.428 habitantes em 2022 foi encarado com muita tranquilidade. A cidade está crescendo forte e saudável, com uma qualidade de vida invejável. Para embasar esta visão otimista, basta um número: a densidade demográfica. Enquanto 634,37 habitantes se espalham por quilômetro quadrado na área total de 1.099,409 km2 do município, imagine o caso de Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, que precisa colocar toda a sua população, de 1.291.784 habitantes, em um território de 318,675 km2.

O resultado é uma densidade demográfica de 4.053,61 moradores por Km2 em Guarulhos. Isto mesmo: uma densidade 6,38 vezes maior que a de São José dos Campos. Com todo o respeito a Guarulhos, a população de lá deve se sentir em uma lata de sardinhas enquanto nós aqui temos espaço de sobra para viver bem.

Estamos voando em céu de brigadeiro quando se trata de qualidade de vida. Não é à toa que o mote “bom, bom mesmo é viver em São José dos Campos” foi bem aceito pela maioria da população. Mas é preciso muita atenção para que nossos governantes não percam o controle. É por isso que não basta morar bem em São José, é preciso participar, fiscalizar e ajudar a manter a cidade como uma das melhores do país para se viver.

E que venham os próximos censos do IBGE…

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 22 anos.

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