Semana passada estava fazendo as unhas em um salão quando de repente o assunto começou a girar em torno dos bichos de estimação. Assunto esse que muito me interessa.
Duas mulheres começaram a falar sobre o absurdo das pessoas morrerem de amor pelos animais a ponto de colocá-los para dormir na própria cama. Senti que a conversa não era a que eu gostaria de ouvir ou participar.
Outra cliente entrou na conversa e disse que na casa dos pais dela tinha cachorro, mas que ele vivia no quintal e que hoje, depois de casada, ela não tinha a menor vontade de ter qualquer bicho.
E as três continuaram atacando a forma como as pessoas tratam seus animais nos dias de hoje, como se fizessem parte da família. Sendo que eles são apenas bichos, disse uma delas. Bichos que não entendem nada, soltam pelos, fedem, uma coisa absurda toda essa frescurada com eles, completou a outra.
A louca
Nesse exato momento lembrei da música da Pablo Vittar: “meu anjo, me diz em que planeta que você está?”. E ri comigo mesma, porque além de não concordar com nada daquilo ainda estava me lembrando de uma música da Pablo. Se ouvissem meus pensamentos naquele momento, teriam me expulsado de lá com toda a certeza. Fora daqui sua doida…
E a conversa continuou rasgando as costas das pessoas que se dedicavam a amar um bichinho: dão mais valor para o bicho do que para uma pessoa; preferem ter cachorro do que ter filhos; tem dono de loja que deixa os cachorros entrarem, acho isso um desrespeito com o cliente, e por aí foi a danada da conversa.
Até que ela me alcançou. Mesmo eu disfarçando, me fazendo de distraída, ainda assim, a pergunta fatídica: Você não concorda? Eu, com um sorriso nos olhos, porque a boca estava tampada com a máscara, respondi calmamente: Claro que não.
A doçura da voz e os olhos sorridentes deixaram as senhoras um tanto quanto perdidas a ponto de perguntarem novamente de uma outra forma: Você acha isso normal?
Tem coisa mais chata do que você expor a sua opinião para uma plateia que é totalmente do contra? Deu preguiça, mas lá fui eu.
Acho normal as pessoas sentirem amor pelos animais, tratarem bem seus bichos de estimação e, principalmente, entenderem que aquele é um ser vivo completamente dependente dela, que não vive só de água e comida, precisa de atenção, carinho, respeito. Isso tudo eu acho normal e acho até que é uma evolução do ser humano. Mas –tratei de dizer para não ser a chata–, tem quem não goste e eu respeito. Só não respeito quem não gosta e maltrata.
E lá veio outra pergunta: Ah, mas se você tivesse um cachorro você deixaria ele dormir na sua cama? Eu tenho um cachorro –respondi. E ele dorme na cama comigo e com meu marido, que, aliás, não suportava cachorro, mas o convívio o fez ver como eles são maravilhosos.
Um silêncio invadiu o salão, cortado pela voz de uma outra cliente que estava num canto mexendo no celular que disparou: eu também amo os animais e tem situações que eu acho que eles têm mais amor do que nós, seres humanos.
Ooo… mulher disgranhenta, onde você estava que não disse isso antes?
Climão de novo no recinto.
Mas você tem cachorro? Perguntaram para a recém-chegada à conversa.
–– Não, eu tenho dois gatos–, respondeu a moça, que complementou: e faço questão de dar o melhor para eles. Só quem tem bicho de estimação sabe o amor que a gente sente por eles.
Quanta bobagem…
Nisso, uma das mulheres do time “sou contra animais de estimação” vira pra mim e pergunta, assim, do nada: você ficaria de luto se o seu cachorro morresse?
Oi? Juro que não entendi a pergunta e a refiz: como assim ficaria de luto?
Você ia chorar, ficar triste, como se fosse uma pessoa? Devolveu a bela senhora.
Com certeza –respondi, meio atordoada. Já perdi outros animais e chorei muito. O que eu tive antes desse, quando morreu, chorei meses, e me lembro dele até hoje.
A reação de duas delas foi a melhor: se entreolharam e abanaram a cabeça como que reprovando a minha atitude diante da morte do meu cachorro. Acho que pensaram assim: quanta bobagem, pra que chorar por um bicho. É só um bicho.
Daí eu senti foi pena mesmo daquelas pessoas que ainda não haviam experimentado um dos amores mais sensacionais que Deus colocou nessa terra, que é o amor dos animais de estimação. Seja ele cachorro, gato, peixe, coelhinho da índia, sapo voador, cobra albina…
Porque não se trata só de receber o amor dos bichos que convivem com a gente (que é o que eles fazem de melhor), é uma questão de enxergar além, ser mais humano, um humano capaz de se doar, amar e respeitar um animal. Porque, se esse ser é capaz de fazer isso por um bicho, imagina por uma pessoa?
E num tom irônico uma delas virou-se pra mim e disse: é, você gosta mesmo de bicho.
Gosto tanto –respondi– que tenho uma coluna num portal de notícias que só fala de animais de estimação e convido vocês a lerem, quem sabe vocês possam entender um pouco mais sobre esse amor entre os pets e seus tutores.
Uma das senhoras nem perdeu tempo para responder: Acho muito difícil nessa altura do campeonato eu começar a gostar de cachorro, gato então, Deus me livre!
De volta ao normal
E como em todo salão que se preze, do nada a prosa mudou de rumo e começaram a falar sobre o vulcão das Ilhas Canárias que entrava em erupção, do aniversário de dois anos dos gêmeos de uma das clientes e das cores de esmaltes.
Ufa! Que bom que tudo voltou ao normal no que diz respeito a um salão.
Mas essa situação me fez pensar, porque eu que amo tanto os animais (eu e aquela cliente quietinha no celular…) acho muito estranho alguém, nos dias de hoje, se referir com tanto desdém ao amor que as pessoas sentem por seus bichinhos de estimação.
Tirando os exageros –que por sinal não são legais em nenhuma situação– acho tudo mais do que normal; e me espantei ao ver que existem pessoas que não suportam animais de estimação, que não querem nem passar perto, que acham que bicho é bicho e, como tal, deve ser cozido com batatas e ponto final.
É difícil de entender, mas é minha obrigação ter respeito por suas opiniões. Aliás, respeito e tolerância são dois sentimentos que estão muito em falta hoje em dia.
Não precisa muito para perdermos o respeito pelas opiniões contrárias às nossas e, em menos de um minuto, a nossa tolerância vai a zero se nos deparamos com qualquer atitude que não esteja de acordo com a nossa ou com o que queríamos.
Enquanto isso, os animais vão dando um show de respeito e amor por outros animais ou pelos seres humanos. Basta rolarmos o feed de notícias das redes sociais para nos depararmos com vídeos fofos mostrando animais fofos, fazendo coisas fofas, como respeitar e amar.
Adote
> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.