É difícil esquecer a conversa tensa que tive com minha mãe, uma senhora de 85 anos, que me dizia que não ia conseguir ficar fechada em casa, usando máscara e todo o aparato que vinha junto com as restrições naquele início de pandemia de covid-19.
Era fevereiro ou março de 2020, tinha 83 anos. Disse a ela o que estava lendo na Imprensa –na melhor Imprensa–, que aquilo iria durar uns três meses e depois as restrições iriam sendo suavizadas até a vida voltar ao normal.
Que nada. A cada dois ou três meses, lá ia eu conversar de novo com a dona Aparecida, pedindo que tomasse o máximo cuidado só por mais um tempo, que as vacinas estavam chegando. Realmente, vieram as vacinas, a primeira dose, a segunda dose… mas o número de mortes, internações em UTIs e novos casos continuava preocupante.
Mas, como dizem os antigos, “não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe”. Com o aumento da cobertura vacinal, o pior dos números, o de mortes, foi caindo de forma sustentada. A maioria das pessoas vacinadas que contraíam a infecção pelo coronavírus já não sentia os seus efeitos mais graves.
Nos últimos dias, finalmente, começaram a aparecer números dignos de comemoração, de soltar fogos de artifício, de fazer buzinaço pelas ruas, de sair sambando em um Carnaval antecipado.
Na tarde da segunda-feira (8), o portal UOL publicou um texto anunciando que, nas últimas 24 horas, o Brasil havia registrado 118 mortes por covid-19. Quem poderia esquecer as mais de 3 mil mortes a cada 24 horas em alguns dias do mês de abril?
E disse mais: pela primeira vez, desde o início da pandemia, o estado de São Paulo não teve nenhuma morte. Também ficaram sem mortes os estados do Acre, Amapá, Goiás, Minas Gerais, Rondônia, Roraima e Sergipe.
Em São José dos Campos, mais notícias pra tomar um porre no bar mais próximo (com moderação): no mês de outubro ocorreram 12 mortes por covid no município, um alívio perto das 165 registradas em janeiro deste ano, embora fiquem aqui os meus sentimentos às famílias dessas 12 vítimas.
E tudo indica que à medida que a vacinação chega a todas as pessoas –ou pelo menos àquelas que querem receber suas doses– o Brasil vai se livrando de uma das maiores tragédias sanitárias de sua história, que já consumiu mais de 600 mil vidas. Vidas preciosas, vidas que fazem falta para as famílias e amigos, para a economia, para o país.
Mas vamos caminhando para o final desta crônica relembrando a primeira parte do título –“Não há mal que sempre dure,”– e chegando à segunda parte: “nem bem que nunca se acabe”. Isso é uma realidade. Por isso, recorro a mais uma expressão muito usada por nós: “todo o cuidado é pouco”.
Vamos torcer para que, quando for a hora deste “bem” se acabar, o número de casos de covid, se houver, possa ser contado nos dedos de uma das mãos e, o de mortes, sem nenhum dedo para ser contado.
Para isso, é preciso que você incorpore aos seus hábitos os reforços de vacina que virão, que continue evitando excessos de aglomerações e contatos em ambientes sem ventilação e que, principalmente, confie nos verdadeiros cientistas que continuam trabalhando para transformar a covid em um monstro sob controle.
Nunca se esqueça que a maioria das mortes que estão ocorrendo no país recai sobre pessoas não vacinadas. Portanto, vacina é vida. Não só contra a covid, mas contra todas as outras doenças para as quais existem imunizantes disponíveis.
Espero que, em fevereiro ou março do ano que vem, dois anos depois de nossas tensas conversas em 2020, minha mãe e eu possamos gritar juntos, no melhor estilo de Galvão Bueno: “Acaboooou!”
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.