Juca: faltou educação com o Santos. Foto / Francisco Ucha

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

O assunto hoje tem a ver com a imprensa brasileira, da qual eu, Wagner, e o SuperBairro fazemos parte. Tenho visto coisas muito feias na nossa imprensa, que alguns chamam de mídia, mas eu prefiro chamar só de imprensa, porque mídia envolve todo tipo de mensagem distribuída, seja notícia, seja publicidade, seja qualquer outra coisa.

Imprensa é um trabalho feito por jornalistas, gente que se preparou para levar informação de qualidade para a população. É gente que não pode misturar interesse público com interesses subalternos, sejam de empresas, governos, políticos ou até do crime organizado. Jornalista tem que ser isento, objetivo, ético e responsável.

No último dia 7 comemorou-se o Dia do Jornalista. Muita gente cumprimentou jornalistas conhecidos, muitos jornalistas se autocumprimentaram, muitos lugares-comuns foram ditos. Mas ninguém disse que nós estamos patinando para ganhar respeitabilidade neste novo universo de TV aberta com “vale tudo” e plataformas digitais nas quais as notícias são publicadas.

A semana seguinte a esta data festiva foi emblemática para mostrar que não estamos em um bom momento. Precisamos evoluir. Não adianta fazer campanha contra fake news quando a própria produção dos jornais, revistas e sites contém notícias absurdas, textos incorretos, informações apressadas e falsas.

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Show de horrores no esporte

A chamada crônica esportiva brasileira sempre teve os seus maus elementos. Mas esse segmento nunca manchou tanto a tradição dos bons jornalistas e radialistas que nos fizeram chegar até aqui como tem feito ultimamente.

A guerra sangrenta por pontos no ibope, por quantidade de “likes”, por verbas de publicidade, transformou a nossa imprensa esportiva em um terreno minado, uma terra de ninguém, por onde passeiam ex-atletas, subcelebridades, caçadores de prestígio e tudo o mais que você possa imaginar.

Tudo isto vem se agravando a cada dia. Até que um profissional que todos julgavam respeitado e equilibrado, como sempre foi o jornalista Juca Kfoury, resolve chamar o glorioso Santos F.C. de “Ninguém F.C.”. Foi um choque para quem gostava e até para quem não gostava do Juca, que se celebrizou ajudando a tirar a roupa de mulheres na revista “Playboy”, da qual foi editor.

Desde então, houve um protesto veemente do presidente do clube, houve mensagens de solidariedade de pelo menos dez outros clubes brasileiros e um tsunami de ofensas, provocações e ameaças de uma torcida calculada entre oito e dez milhões de pessoas.

O problema ocorreu no início da noite de sábado e até agora, noite de segunda-feira, o UOL, sigla do Universo On Line, portal de notícias que publicou o comentário, não se manifestou. O Juca também enfiou a viola no saco e finge que não é com ele.

O tropeço do Juca ocorre cerca de duas ou três semanas depois de um outro jornalista esportivo respeitado, Paulo Roberto Martins, conhecido como “Morsa”, ter esquecido a bola ao enfrentar o supercampeão treinador da S.E. Palmeiras, Abel Ferreira, e lhe dar um monte de botinadas que não tinham nada a ver com o futebol. O Morsa foi demitido pela emissora de rádio onde exagerou na dose. Mas o UOL não deve fazer o mesmo com o Juca. Talvez para não transformar em moda esses pedidos de cabeça.

Cadê a velha classe?

A crise na imprensa esportiva não tem a ver com a falta de talentos. Pelo contrário, o Brasil tem excelentes profissionais na área, gente tão ou mais preparada intelectualmente que os velhos repórteres, comentaristas e editores que contaram as glórias e os tropeços do nosso esporte, especialmente do futebol.

Entre os talentos antigos figuram profissionais como Mário Filho (que deu nome ao Maracanã), seu irmão Nelson Rodrigues (um dos melhores textos da história da imprensa e um dos maiores dramaturgos brasileiros), Armando Nogueira (texto primoroso), Orlando Duarte, Solange Bibas, Geraldo José de Almeida, Walter Abrahão, Fernando Solera, Fiori Gigliotti, Roberto Avallone, Alberto Helena Júnior, o joseense Juarez Soares, o garotinho Osmar Santos, o empreendedor Luciano do Valle, o “midas” Milton Neves, Paulo César (PC) Vasconcellos, PVC (Paulo Vinícius Coelho), o amadíssimo e odiadíssimo Galvão Bueno, o comentarista de arbitragem Arnaldo Cézar Coelho, o temperamental José Trajano, e somem-se mais dezenas de nomes altamente respeitáveis.

Nesta relação pode constar –ainda– o nome de Juca Kfoury. Desde que ele coloque a cabeça no lugar e perceba que os exageros e absurdos cometidos atualmente na imprensa esportiva não têm nada a ver com o seu brilhante currículo e o seu passado.

Sem “passar pano”

A gente se acostumou a praticar o tal de corporativismo quando se trata de avaliar colegas de profissão. Sendo assim, policial não critica policial, médico não critica médico, advogado não critica advogado, jornalista não critica jornalista e por aí afora.

Mas essa “passada de pano” não se justifica mais atualmente. Valia quando o perfil do jornalista era praticamente o mesmo de todos os demais jornalistas. Hoje isso é diferente. No jornalismo esportivo, do qual estamos falando hoje, tem de tudo. E os piores são maioria. Quase todos pisam no pescoço da mãe se para isso ganharem um pontinho no ibope ou uns “likes” a mais.

Prefira os clássicos

Se eu puder sugerir a você o que fazer para ser bem informado, seja no jornalismo esportivo ou no jornalismo em geral, digo o seguinte: assim como ocorre com os vinhos, o cinema, a literatura, os automóveis, as roupas… prefira os clássicos.

Fuja dos caçadores da fama efêmera, dos que vendem o almoço para comprar o jantar, dos que jogam a biografia no lixo mais próximo para não ficarem atrás dos oportunistas incompetentes e antiéticos que hoje são maioria.

Este tema da imprensa esportiva tomou o espaço que já estava reservado para uma outra crítica à imprensa atual, principalmente a digital. Se nada de mais relevante acontecer até a próxima semana, prometo dar umas boas porradas no portal UOL.

Até lá.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

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