Mario Benedetti
Não te salves
Não fiques parado
a beira do caminho,
não congeles o júbilo,
não queiras sem vontade,
não te salves agora
nem nunca
Não te salves
Não te enchas de calma,
não reserves do mundo,
apenas um rincão tranquilo
não deixes cair as pálpebras
pesadas como juízos,
não fiques sem lábios,
não fiques sem sonhos,
não penses sem sangue,
não te julgues sem tempo.
Mas se
apesar de tudo,
não pode evitar;
e congelas o júbilo,
e queres sem vontade,
e te salvas agora,
e te enches de calma,
e reservas do mundo,
apenas um rincão tranquilo,
e deixas cair as pálpebras
pesadas como juízos,
e te secas os lábios,
e dormes sem sonho,
e pensas sem sangue,
e te julgas sem tempo,
e ficas parado
à beira do caminho,
e te salvas;
então
não fiques comigo.
Mario Benedetti nasceu em Paso de los Toros (Uruguai) em1920 e faleceu em Montevidéu em 2009. Considerado o maior poeta uruguaio e um dos mais influentes da língua hispânica, foi poeta, escritor e ensaísta. Escreveu mais de 80 livros em sua trajetória. Foi jornalista por um longo período em sua vida.
Júlio Ottoboni é jornalista (MTb nº 22.118) desde 1985. Tem pós-graduação em jornalismo científico e atuou nos principais jornais e revistas do eixo São Paulo, Rio e Paraná. Nascido em São José dos Campos, estuda a obra e vida do poeta Cassiano Ricardo. É autor do livro “A Flauta Que Me Roubaram” e tem seus textos publicados em mais de uma dezena de livros, inclusive coletâneas internacionais.