Morei bom tempo no Jardim Paulista. Lá, por mais de uma década, todo dia 24 de dezembro eu e o dileto Wanderley Mira fazíamos uma turnê pela casa dos amigos e outras pessoas do nosso relacionamento.
Para nós, esse périplo era sagrado. A gente saía de casa em casa, alegre, ávida por um amplexo e uma boa prosa, finalizada com as felicitações de Natal.
Nossa visita era rápida, como a do beija-flor na ipomeia rubra. O bastante para ratificar a estima cultivada no ano. Um sentimento dedicado aos donos da casa e aos membros da família, que conhecíamos de lugares como escola ou igreja.
Eu saía por volta de 19 horas e ia de carro para a casa do companheiro de exitosa bateção de perna. De lá saíamos para a visitação levando o roteiro na cabeça, sem esquecer de ninguém, dos mais distantes aos mais próximos, radicados no bairro e adjacências.
A estada não demorava para não atrapalhar o corre-corre das famílias visitadas, entre dez e quinze. Sabíamos que naquele horário todos se aperreavam com o preparo da ceia natalina, que na ocasião acontecia depois da tradicional Missa do Galo.
Não sei precisar quando, mas num certo ano inovamos. E a visita, de natureza simples, ganhou ares de boniteza quando resolvemos dar para a dona da casa uma rosa, mimo símbolo do nosso carinho e amizade.
A ideia da rosa foi do Mira. E o feito antes esperado, no ano seguinte passou a ser ansiado. Para aquela gente, nossa visita meteórica pouco antes da chegada do menino Jesus era como um presente, acrescido da beleza e do odor da flor.
Na recepção, não faltavam calor humano e emoção. E como gratificava ver o brilho de felicidade nos olhos daquelas pessoas, algumas de idade; de sentir no abraço apertado o coração acelerado!
Feitas todas as visitas, por volta de 22 horas corríamos nos aprontar também para a missa na igreja São Judas Tadeu, que apinhava de gente. Ao fim da celebração todos voltavam a pé para as suas casas em pequenos grupos e animada conversa.
E como tudo nessa vida passa, esse tempo também passou, deixando boas recordações. Até hoje, muitos remanescentes atinam para a singeleza daquele gesto.
Depois, para cumprir o script, passei a ligar para as pessoas próximas e familiares, desejando-lhes boas festas. Hoje, com o advento do Whatsapp e do Facebook, e as restrições ainda impostas pela pandemia, recorro a esses avanços tecnológicos para abraçar a todos por aqui, a exemplo do amigo e da amiga que me visitam neste espaço.
Como antigamente, a rosa que encima este texto é um mimo meu para você, leitor(a). É virtual, eu sei, mas a intenção é verdadeira. Só vou ficar lhe devendo o abraço.
Boas Festas e um Ano Novo de esperança.
> Carlos José Bueno é jornalista profissional (MTb nº 12.537). Aposentado e no ócio, brinca. Com os netos e as palavras.