Começaram as Paralimpíadas de Paris. De quarta-feira (28) até o dia 8 de setembro, 4.400 atletas com os mais diversos tipos e graus de deficiência estão em busca de medalhas para seus países, dando sequência aos Jogos Olímpicos realizados entre julho e agosto.
Eu disse “em busca de medalhas para seus países”? Nada disso, por favor, apague. O mais correto é dizer que eles estão em busca da superação das suas limitações físicas para ganhar mais saúde e qualidade de vida. Este é o verdadeiro prêmio dos Jogos Paralímpicos. Medalhas, embora simbólicas desse esforço, são secundárias.
Isto me faz lembrar que, em se tratando de Paralimpíadas, o Brasil já conquistou o status de potência, ficando entre os sete ou oito primeiros no quadro de medalhas das últimas edições. Isto não é pouca coisa quando se sabe que o Brasil anda meio estacionado por volta da 20ª posição dos Jogos Olímpicos tradicionais.
O Brasil paralímpico é tão eficiente que, já no primeiro dia de competições, conquistou três medalhas, sendo uma de ouro, uma de prata e outra de bronze. Na classificação geral, é o sétimo colocado. E se tudo correr conforme o previsto, vão entrar na nossa bagagem medalhas e mais medalhas, todos os dias, várias por dia.
A previsão para estes Jogos é que o país supere as 72 medalhas de Tóquio em 2020 e chegue a 75 pódios. Mas há até quem ache que os brasileiros podem mais, quem sabe até 90 medalhas, sendo umas 20 de ouro.
O Brasil já conquistou 373 medalhas na história dos Jogos Paralímpicos, sendo 109 de ouro, 132 de prata e 132 de bronze. Antes dos 72 pódios de Tóquio, o país ganhou também 72 nos Jogos do Rio em 2016.
Para quem não sabe –assim como eu não sabia–, as Paralimpíadas foram criadas em 1960 como estímulo à utilização do esporte como ferramenta para reabilitação de pessoas com deficiência. O Brasil disputou a competição pela primeira vez só em 1972 e, acredite, conquistou a primeira medalha apenas em 1976.
Uma das primeiras imagens que me vieram aos olhos desses Jogos que estão acontecendo em Paris foi a de um joseense que tem sido destaque no esporte paralímpico, o Kelvin Bakos, que é bastante ligado ao goalball, o futebol para atletas com deficiência visual. Ele está lá em Paris, creio que como chefe da delegação de goalball.
Conheci o Kelvin e colegas seus de trabalho no esporte paralímpico, como o Juliano, sempre de alto astral, em duas coberturas que fiz para a Prefeitura de São José, nos Jogos Regionais de São Sebastião/Ilhabela e nos Jogos Abertos do Interior de Marília, ambos no ano de 2019.
Eles comandam o Instituto Athlon, que mantém as equipes paralímpicas da cidade e possui vínculo com um grande número de atletas com deficiência, entre eles alguns que ocupam posição de destaque nos rankings brasileiro e sul-americano de suas modalidades.
A minha prova de fogo nessa cobertura, me lembro até hoje, foi dividir o ônibus com a equipe que foi disputar a competição de atletismo, que saiu de Ilhabela, onde toda a delegação joseense estava hospedada, e viajou até um estádio distante em São Sebastião.
Achava, na minha ignorância, que encontraria uma gente meio triste, meio ressentida com a sua situação, enfim, gente pouco feliz. Como eu estava enganado. Logo depois de embarcar no ônibus, fui envolvido em um clima de brincadeiras, camaradagem e simpatia. Ou seja, era gente exatamente como todas as outras gentes que praticam esporte.
E quer saber como eles lidam com o que nós achamos que é uma deficiência séria? Um corredor, de renome nacional, que estava sentado na primeira fileira de poltronas, de repente tirou a prótese que completava uma de suas pernas do joelho para baixo e, displicentemente, me pediu que a segurasse.
Tomei um choque, mas consegui levar na esportiva. Afinal, estava entre atletas. Depois descobri que se tratava de uma espécie de trote que atletas com deficiência aplicam em quem talvez julgue que eles são frágeis e tristonhos. Acho que passei no teste.
É muito bom saber que todos os dias, em todo o país –em São José dos Campos também–, gente sai de casa com seu uniforme e material esportivo para mais um dia de vitórias e conquistas. De medalhas? Não, de vida.
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 23 anos.
*Texto atualizado às 10h06 do dia 30/8/24 para revisão ortográfica e de estilo.