Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Faz parte do meu trabalho dar um “passeio” várias vezes por dia pela internet. Mais precisamente, pelos sites dos veículos de comunicação que publicam suas notícias, comentários, opiniões, enfim, que mostram o que está acontecendo na cidade, no Brasil e no mundo.

Nos últimos dias, tenho notado uma overdose de notícias sobre abusos de todos os tipos contra crianças e adolescentes de todas as idades. Não sei se o olhar dos jornalistas ficou mais aguçado em cima dos pequenos depois dos crimes tenebrosos cometidos nas escolas de São Paulo e de Blumenau. Só sei que tudo o que vi aconteceu de fato, nenhum sinal de fake news.

E o que aconteceu nos últimos dias? Notícias repugnantes de crianças abusadas, mortas e maltratadas. Só para ficar no Brasil –e me atendo à simples memória–, posso citar…

– Um bebê morreu e seus jovens pais foram acusados de matá-lo. Sabe por quê? Porque ele chorava muito.

– Uma criança em torno de quatro anos foi morta e, após investigações, ficou constatado que foi estuprada. O padrasto é o suspeito. O casal foi detido.

– No Rio de Janeiro, uma adolescente de 14 anos foi abusada por um pastor evangélico, que alegava que ela estaria doente e necessitava de “cura pelo sexo”.

– Na Paraíba, um menino de três anos morreu ao sofrer uma descarga elétrica brincando com um celular que estava sendo carregado na energia elétrica. Negligência dos cuidadores?

– Em Sarutaiá, cidadezinha de meros 3.623 moradores no interior de São Paulo, uma menina de 13 anos foi morta. O padrasto confessou que agrediu a menina com um pedaço de madeira e abusou sexualmente dela. Mãe e padrasto foram presos.

– Em Anápolis, estado de Goiás, um homem de 56 anos foi preso depois de descoberto por ter estuprado e engravidado a filha, de 26 anos, que vive em estado vegetativo. Ainda mais indefesa que uma criança, não acha?

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É preciso mais? Quer ir vomitar um pouco antes de voltar ao texto? Você vai dizer que eu pesquisei a internet durante meses até encontrar esses casos escabrosos. Nada disso. Quase todos esses relatos são de ocorrências fresquíssimas, dos últimos dois ou três dias.

Aí a gente junta esses casos em que as crianças são vítimas de quem mais deveria protegê-las, seus pais e responsáveis, ou seus guias religiosos, e se pergunta: onde nós vamos parar? Em que se transformaram muitos lares? Em que se transformaram muitos pais, mães, tios, tias?

Faço a ligação desta tragédia da vida moderna, em que crianças e adolescentes são vítimas indefesas, e proponho uma ligação com um outro lado da questão, com crianças e adolescentes que estão crescendo sem orientação, sem freios, sem conselhos, sem exemplos positivos. O que será feito –ou já está sendo– desses ingênuos e despreparados? A quais perigos eles estarão expostos ou exporão a sociedade?

Um desses perigos, talvez dos mais graves, é o acesso ao lado sujo e podre da internet. Não preciso repetir os exemplos de onde tudo isto termina, basta recordar os últimos ataques a escolas brasileiras. Sem contar o inferno que têm vivido educadores e policiais para lidar com os inúmeros trotes sobre novos ataques.

Aqui mesmo em São José dos Campos isto tem ocorrido mais do que você imagina. E o melhor que se faz é dar o mínimo de publicidade a esses debiloides porque, como se sabe, um dos maiores prazeres que eles buscam é justamente a notoriedade, aparecer ou ter seus “feitos” repercutindo para depois posarem de bacanas nas redes sociais –ou seriam redes antissociais?

Pior ainda é quando novos casos acontecem de verdade. Foi o que ocorreu na manhã desta terça-feira em que escrevo esta crônica/artigo/desabafo. Um menino de 13 anos –que idade fatídica!– esfaqueou três estudantes em uma escola na cidade de Santa Tereza de Goiás, no norte daquele estado. Por sorte, as vítimas não sofreram ferimentos graves e o adolescente acabou apreendido.

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Mas desta vez a notícia não termina por aí. Acontece que o governador goiano, o conhecido Ronaldo Caiado, do partido União Brasil, não deixou por menos: mandou “prender” os pais do garoto. Uso aspas na palavra “prender” porque tenho dúvidas se o governador pode dar esse tipo de ordem para a sua polícia militar. E mais: também não sei se os pais, que não participaram do ataque, podem ser presos.

Vou imaginar que eles tenham sido chamados na delegacia para prestar esclarecimentos. Como educam seu filho? Como acompanham a vida e os hábitos dele? Conhecem as suas amizades? Sabem o que ele faz no celular ou no computador? Convenhamos, nenhuma dessas perguntas é fora de propósito.

Vão dizer que o governador Caiado é estourado, direitista ou que quer surfar na onda dos últimos acontecimentos de violência nas escolas. Porém, a verdade é que nem o governador aguentou ficar parado diante do que está acontecendo com a infância e a juventude brasileira. Teve, pelo menos, uma atitude diante desta rotina de ataques, ameaças, porte de armas, desrespeito, loucura que está tomando conta de quem deveria estar sob a proteção dos seus responsáveis.

Quem sabe um dos caminhos, daqui por diante, seja vigiar e cobrar dos pais e de quem convive com essas crianças e adolescentes? Afinal, quem poderia saber melhor da vida dessas criaturas inocentes do que eles? E quem mais deveria ser responsabilizado por tudo de ruim que acontece com elas?

Vamos pensar no assunto?

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 22 anos.

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