O Brasil está mergulhado em plena campanha eleitoral para renovar –ou manter– o presidente da República, governadores de estados, senadores, deputados federais e deputados estaduais. Tem gente que acha esse período “um saco”, mas é bom lembrar que é pouco mais de um mês e meio de contato entre candidatos e eleitores para definir os próximos quatro anos, ou oito, no caso dos senadores.
Mas o motivo desta conversa com você não é exatamente a campanha eleitoral que corre solta por aí. Quero propor uma reflexão sobre o que a esmagadora maioria da população define como “baixo nível dos políticos brasileiros”, que geram péssimos governantes no Executivo e um verdadeiro caos no Legislativo.
É até óbvio o que eu vou dizer agora, mas o fato é que são os eleitores que colocam os candidatos nos cargos. Portanto, os eleitos são produto do que pensa e de como se comporta o conjunto dos eleitores. Por mais corrupto e mal-intencionado que seja um candidato, ele não consegue ganhar um mandato se não tiver os votos necessários. E quem dá esses votos é o eleitor.
Mas aí você vai dizer: “Ah, mas eu não votei no Tiririca!”. E eu vou responder: Verdade, não votou, mas nesse caso o seu voto é apenas um no conjunto dos eleitores. Ou seja, você não votou no Tiririca, mas houve quem votou e elegeu o cara. O Tiririca não chegou na política sozinho, foi levado até ela em um processo democrático e sem fraudes –não me venha com o papo de que urna eletrônica não é confiável, pelo amor de Deus!–, graças ao número de votos que recebeu.
Baixo nível
É lamentável ter que dizer isso, mas o baixo nível da política brasileira tem tudo a ver com o baixo nível da sociedade brasileira. Você é capaz de dizer: “Pô, além de tudo vai me culpar pelos péssimos políticos que nós temos?”. Respondo: Talvez você não seja culpado individualmente, não votou nos piores, mas não deixa de ser responsável porque faz parte do todo. Se a maioria votou mal, você se deu mal junto com ela.
Então quer dizer que não adianta votar bem porque, se a maioria votar mal, os piores serão eleitos? Infelizmente é um pouco isso. Enquanto a maioria da população não praticar o voto consciente, não fugir do voto de cabresto, deixar de votar em busca de vantagens pessoais, estaremos sujeitos a uma minoria de bons políticos eleitos e a uma maioria que não vai honrar os votos que recebeu nas urnas.
É isso: se elegemos maus políticos é porque temos mais maus eleitores do que bons eleitores. Eu sei que esta é uma conclusão cruel e polêmica. Mas não tem como ser diferente, desculpe.
Como melhorar o nível?
Passemos à fase seguinte. Como mudar esse quadro e melhorar o nível da política praticada no Brasil? Sinto ter que dizer que a tarefa não é fácil e nem rápida. É preciso remar muito para chegarmos lá. Mas desde que estejamos remando na direção certa, cada remada vai representar um avanço, ainda que pequeno, na direção da democracia e do país que queremos ter.
Disto isso, seguem algumas sugestões para quem pretende votar bem no próximo dia 2 de outubro:
– Você tem que participar – Como? O ideal é se aproximar do partido e do(s) candidato(s) de sua preferência e perguntar como você pode ajudar na conquista dos votos necessários, já que, como se viu, só o seu voto não basta. Retire alguns panfletos e entregue aos amigos, parentes e vizinhos. Sem discussão, é claro, só mostre em quem você vai votar e por que confia nesses candidatos.
– Não generalize – Muitos eleitores ficam desestimulados de participar do processo democrático porque são convencidos por alguém de que a política só tem ladrões, ninguém presta e não é possível fazer nada para mudar isso. A generalização é um erro, coloca bons e maus no mesmo saco e, muitas vezes, elege os maus porque os bons se desestimulam de participar.
– Eleição não é campeonato – Ainda tem muito eleitor que não admite “perder o voto”, ou seja, votar em um candidato que não será eleito. Então ele prefere se somar ao time que está ganhando. Nada mais errado. O voto deve ser dado no candidato que o eleitor considera o melhor. Se ele não ganhar nesta eleição, poderá ganhar na próxima.
– Política não é só eleição – A campanha eleitoral e o dia da eleição são a parte mais rápida –e muitas vezes a mais enganadora– do processo democrático. Depois de votar conscientemente, acompanhe os seus candidatos. Se foram eleitos, cobre deles um bom desempenho, sem radicalismo, mas com firmeza. Se não foram eleitos, veja se continuam participando da vida política, fiscalizando, criticando e propondo soluções. O verdadeiro líder comunitário e político não surge de quatro em quatro anos e volta a se esconder, tem que quer ser político 24 horas por dia, permanentemente.
– Para exigir seriedade, seja sério – Pense bem, vote com seriedade. Analise as propostas, o passado, a coerência e a honestidade dos seus candidatos. Esses são os critérios. Se o candidato é seu parente, se é jogador de futebol, artista de televisão, bilionário, bonito, feio, se já te deu tapinha nas costas lá na feira livre, ou te entregou um panfleto no semáforo com um sorrisão, nada disso é importante.
– Não acredite em tudo o que dizem – Da mesma forma que tem político que ganha aura de salvador da pátria, fazedor de obra, imbatível nas urnas, tem também o que é massacrado como ladrão, corrupto, safado, analfabeto e outras “qualidades” mais. Antes de acreditar em tudo o que ouve, para o bem ou para o mal, procure raciocinar, pesquise no Google, fale com quem sabe mais. Depois de reunir o máximo de informações sobre o candidato, aí sim tire a sua conclusão. Ah, e não espalhe boatos sobre o que não tem certeza.
Faça a sua parte
Após esses e outros cuidados, você está pronto para participar de uma eleição. E quanto mais gente pensar e agir como você, melhores serão os candidatos eleitos. No dia em que os bons forem maioria, aí sim a sua cidade, o seu estado e o Brasil poderão progredir com mais rapidez e melhorar as condições de vida de todos.
Não pense que quando falo em um bom nível do eleitor brasileiro estou falando de classe social, renda, grau de instrução, gênero, idade, religião, se mora na cidade ou no campo etc. Os dois primeiros itens não querem dizer nada e o nível de escolaridade ajuda, mas não molda o caráter e as boas intenções de ninguém. Para mudar, é preciso querer, é preciso ter consciência política e vontade de participar da mudança.
Finalmente, o que eu quero dizer, caro(a) leitor(a), é: vote com consciência, dê o seu melhor como eleitor. Feito isso, que Deus nos ajude!
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.