Ilustração / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Faltando 12 dias para o segundo turno da eleição para prefeito de São José dos Campos, viraram moda as declarações de apoio ou de neutralidade dos candidatos derrotados e de partidos que fizeram parte de outras coligações. Mas, como se sabe, transferência de votos e obediência do eleitor não é coisa com que se possa contar integralmente.

Se o critério fosse simplesmente a soma dos votos, Eduardo Cury (PL) poderia se considerar o novo prefeito da cidade. Os 94.947 votos que recebeu no primeiro turno, somados aos 72.745 do Dr. Elton (União), que declarou apoio a ele no sábado (12), dão 167.692 votos.

Como nenhum candidato do primeiro turno declarou apoio ao prefeito Anderson Farias (PSD) na sua busca pela reeleição, ele seria derrotado com os mesmos 145.061 votos e 22.631 votos de diferença para Cury.

Usando o mesmo critério, a oposição a qualquer um dos dois candidatos, declarada por Wagner Balieiro (PT), Prof. Wilson Cabral (PDT) e Toninho Ferreira (PSTU), totaliza os 53.048 votos que os três conseguiram no primeiro turno.

Mas a gente sabe que eleição não se decide assim. A transferência de votos não é automática e o eleitor que não votou em um dos dois finalistas do segundo turno fica à vontade para decidir quem irá apoiar. É em busca desses votos que Anderson e Cury estão neste momento.

APOIO / SUPERBAIRRO

Quem apoia quem

Com exceção do apoio do Dr. Elton a Cury, que é significativo, as declarações de candidatos e partidos derrotados servem mais como um aceno deles visando posições futuras na política da cidade do que uma tentativa de interferir na decisão do próximo dia 27. Veja a manifestação de cada um.

União e Dr. Elton: previsível

É difícil estranhar o apoio do União Brasil e do candidato Dr. Elton para Eduardo Cury neste segundo turno. Ainda na formação das chapas para disputar a eleição, o médico foi buscar o apoio do PSDB para dobrar com ele, formando talvez a mesma chapa Elton/Dulce Rita, mas com a vereadora representando os tucanos. Derrotado, declarou que vai mergulhar de cabeça na campanha de Cury.

Capa da página do Dr. Elton no Facebook: entrando “de cabeça” na campanha de Cury. Foto / Facebook/Reprodução

PT e Balieiro: oposição sempre

O PT de Wagner Balieiro e das vereadoras reeleitas Amélia Naomi e Juliana Fraga também não pensou duas vezes e já reservou o seu lugar na primeira fileira da oposição ao novo prefeito, seja ele quem for. Nada mais natural. Portanto, os 42.679 eleitores do PT estão livres para votar em um dos dois, ou em nenhum dos dois.

Balieiro e a bancada com Amélia e Juliana: na primeira fila da oposição. Foto / Facebook/Reprodução

PDT e Cabral: nova oposição

O resultado do primeiro turno pode não ter sido numericamente expressivo, mas agradou ao PDT e seu candidato, o professor Wilson Cabral. Ambos viram na campanha uma possibilidade de ter presença ativa na política local nos próximos anos. Por isso, em reunião dois dias depois do resultado do primeiro turno o diretório do partido decidiu declarar o PDT como oposição aos dois candidatos, prometendo uma postura “independente e crítica, mas também propositiva”.

PSTU e Toninho: correndo por fora

Socialista até o último fio de cabelo grisalho, o sindicalista Toninho Ferreira e o seu PSTU também declararam distância dos dois candidatos que batem no peito para se dizerem de direita. O partido defende o voto nulo, argumentando que “ambos os candidatos estão comprometidos com políticas de direita, defendendo privatizações, repressão, medidas preconceituosas e autoritárias, que só aprofundam as desigualdades na cidade”.

PUBLICIDADE

PcdoB dá ‘presente de grego’

Outros partidos também já se manifestaram publicamente sobre o segundo turno. A grande surpresa ocorreu na tarde desta terça-feira (15) com a divulgação da declaração de apoio do PC do B, o Partido Comunista do Brasil, a Anderson Farias. Foi um verdadeiro Cavalo de Troia entrando no comitê do candidato à reeleição.

Depois de integrar a coligação do PT no primeiro turno, o partido se declarou “frontalmente contra a candidatura bolsonarista de Eduardo Cury” e foi categórico: “Em defesa do Estado Democrático de Direito, o PCdoB indica aos seus filiados e eleitores o voto no candidato Anderson Farias no dia 27 de outubro”.

O apoio, assinado pelo presidente municipal do partido, Luis Fabiano Costa, explodiu como uma bomba nas redes sociais. Banners com Anderson rodeado de foices e martelos, em artes com fundo vermelho berrante, passaram a povoar Instagram, Facebook e WhatsApp.

Aparentemente, a posição pública dos comunistas joseenses foi mais comemorada no comitê de Eduardo Cury do que no de Anderson.

A assessoria de campanha do prefeito divulgou a seguinte nota após o apoio do PcdoB: “A coligação São José do Jeito Certo informa que o apoio unilateral do Partido Comunista do Brasil se deu sem nenhum entendimento conosco. Nossas diferenças de gestão, valores e diferenças ideológicas não nos permitem qualquer possibilidade de diálogo. No entanto, fica claro no comunicado emitido pelo PC do B que não se trata de um apoio à coligação e sim um movimento contra o candidato do PL.”

De qualquer forma, o estrago está feito, só não se conhece a sua proporção.

Menos destrutivo, o PSB (Partido Socialista Brasileiro), através do seu presidente, Eduardo Antunes de Moura, o Dudu, divulgou mensagem liberando os candidatos a vereador e militantes a votar em Anderson ou Cury, conforme a convicção de cada um. No primeiro turno, os “socialistas moderados” apoiaram o candidato Dr. Elton.

Com os principais personagens da política joseense devidamente posicionados em relação ao segundo turno, o que se aguarda ansiosamente são as próximas pesquisas eleitorais. Elas, sim, deverão dizer quem herda votos de quem. Afinal, se a capacidade de transferir votos dos candidatos e partidos derrotados fosse tão grande, a sorte deles teria sido melhor no primeiro turno.

Que venham as pesquisas.

 

*Texto alterado e atualizado às 11h01 do dia 16/10/24.