Foto / São José dos Micuins/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

De vez em quando dou umas viajadas. Quando era jovem, as viajadas eram físicas. Já fui parar no Rio, de manhãzinha, depois de beber várias aqui e pegar um “busão” da Cometa na Dutra, de madrugada. Como não tinha nada para fazer no Rio, quando acordei lá, comprei passagem de volta para São José.

A maturidade –aliada à tecnologia– muda muitos hábitos. Já faz muitos anos, décadas, que as minhas viajadas são somente virtuais. Dá para fazer uma volta ao mundo em poucas horas. E eu normalmente escolho os temas. Tipo as melhores praias, a arquitetura do Brasil colonial, os habitantes da Mantiqueira sob a lente do Chico Abelha, as melhores receitas de frango caipira, enfim… os temas são inesgotáveis.

E têm as viajadas jornalísticas, é óbvio. Lembro de uma que foi incomparável, deliciosa, inesquecível e, melhor ainda, presencial. Acho que estava ali no final dos anos 70. Morava em Caçapava e, de vez em quando, fugia até Taubaté para ver alguns prédios e comer porcaria salgada na Rodoviária.

Nesses dias, vagava meio sem querer pelas ruas do centro de Taubaté, prestando atenção em tudo. Até que, em uma esquina da Dr. Souza Alves… não, não era a Souza Alves, era a paralela acima, por onde se chegava por uma viela meio colonial… encontrei um casarão maravilhoso de se admirar. Mas quando olhei em uma plaqueta discreta, vi que a arquitetura era o de menos, o conteúdo foi um achado.

Encontrei, “sem querer querendo”, o Museu Histórico Professor Paulo Camilher Florençano. História regional, coisa antiga, tradições, tudo o que eu valorizava naqueles tempos –e ainda hoje. E fui babando em tudo, babando, babando, até que cheguei em uma sala modesta onde, já à distância, percebi quer havia várias coleções de jornais antigos, da cidade e da região.

Entrei de manhã, por volta de umas 10h, sei lá. Mas só saí quando fechou, talvez, 17h ou 18h, também não me lembro. Só sei que não saí nem para comer porcaria na Rodoviária. Mas as horas que passei ali, folheando coleções de jornais que circularam na região desde os primeiros anos do século 20, nunca mais vou esquecer.

Detalhe: babei na coleção do jornal Correio do Vale, que circulava em Taubaté quando a cidade era uma das mais importantes do interior do país, acho que comparável a uma Campinas. Ao folhear o jornal, percebi que era coisa de primeiro mundo, tinha qualidade comparável a um “Estadão”, a uma “Folha”, em plena época da segunda guerra mundial.

Nesta quinta-feira (20 de maio de 2021), resolvi dar uma viajada desse tipo, mas a tecnologia me ajudou. Viajei pelos sites (ou portais) de internet de algumas das empresas jornalísticas mais tradicionais do estado de São Paulo fora da capital.

Só para você ter uma ideia, dei uma olhada nos sites (ou portais) do Diário do Grande ABC (Santo André), Cruzeiro do Sul (Sorocaba), Correio Popular (Campinas) e A Tribuna (Santos), entre outros.

Sabe qual foi a minha conclusão? Juro, a viajada me mostrou uma verdade inquestionável. Nós, aqui do Vale do Paraíba, sabemos fazer jornalismo. Sério, não é bairrismo. Nós temos mão e cérebro para isso. Sabemos fazer conteúdo de qualidade, isento, correto, sem sensacionalismo. (Com exceções, é claro.) E sabemos produzir fotos de altíssima qualidade e dar um leiaute (ou layout) de bom gosto, bem profissional para esse conteúdo.

Por que isso acontece? Por que somos bons nisso? Vou arriscar, com grande chance de errar, que é por causa da nossa situação geográfica entre os dois maiores centros culturais e econômicos do país; ou porque o Vale do Paraíba tem no seu DNA a riqueza também cultural e econômica dos tempos áureos da lavoura cafeeira; ou ainda porque sempre recebemos excelentes profissionais vindos de várias regiões do país. E outras “explicações” podem ser dadas. Só mesmo os acadêmicos que se dedicarem ao tema poderão responder a essas questões e encontrar as causas desta nossa vocação.

Parabéns a todos que formam hoje o que as pessoas definem, para o bem ou para o mal, como “a mídia”. Nós temos uma missão importante: resgatar o respeito da sociedade brasileira com as empresas, os profissionais e o conteúdo produzido pela área da comunicação.

Mas você pode ter certeza: São José dos Campos e o Vale do Paraíba são um grande criatório de “feras” do jornalismo, do radialismo, da mídia digital. É gente que trabalha todos os dias para você ser bem informado.

Alguma dúvida? Faça a mesma viagem que eu fiz. Dessa vez sem “busão”, sem carona, sem ficar sem almoço, tudo na tranquilidade do computador ou do celular. E o que é melhor: sem ressaca.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.