Foto / SuperBairro

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

A matéria da semana passada aqui no SuperBairro sobre a verticalização da Vila Ema e adjacências me fez lembrar uma historinha interessante. Minha mãe trabalhava no colégio Olavo Bilac, década de 70. A escola tinha pretensão de sair do centro, o trânsito ficava complicado todos os dias na Francisco Paes e arredores. E ela foi incumbida de tentar achar alguma área mais distante, tranquila.

Nessas andanças (eu e meu irmão mais novo quase sempre no banco de trás da Variant), fomos parar na Vila Ema, rua José Francisco Alves. Naquela época, um bairro simples, quase sem comércio. Estacionamos em frente a um grande muro com tijolos aparentes, um portão que escondia uma casa rodeada por um bosque imenso.

Minha mãe pediu para falar com o proprietário. Veio nos atender um senhor já de cabelos brancos. Era o dr. Eduardo Etzel, um dos médicos pioneiros da cirurgia de pulmão no Brasil, que havia trabalhado muitos anos no então Sanatório Vicentina Aranha.

Minha mãe perguntou se ele tinha interesse em vender uma grande área que ficava ao lado da casa e ia até o fim da rua. Cordial, disse: “Gostei da senhora, pode tocar isso adiante”. E assim foi. Ela informou a direção do Bilac sobre o terreno. Não se interessaram.

Minha mãe então se uniu a um corretor de imóveis que fez todo o trâmite para lotear a área. Ficamos com um terreno, onde meu pai construiu nossa casa em 1979, e parentes e amigos acabaram comprando os outros.

Décadas depois, a própria casa do dr. Etzel se transformou num prédio com parte do lindo bosque preservado.

Voltemos a 2021. Nova lei de zoneamento permitirá prédios na Vila Ema. Adensamento, haverá infraestrutura suficiente? Enquete entre moradores aponta descontentamento e temor. “Vai virar um Aquarius”, reclama um morador. Outro disse que é “a favor da modernidade, mas deve haver limites”.

Acredito que a verticalização, baseada nos limites da lei, vai ocorrer, mas não da maneira absurda e desenfreada como ocorreu no Aquarius, por exemplo. Vamos ficar atentos para a nossa querida Vila Ema continuar a ser um local com qualidade de vida.

 

> Henrique Macedo é jornalista (MTb nº 29.028) e músico. Mora há 40 anos na Vila Ema.