Tudo indicava que a oposição ao presidente Jair Bolsonaro viria “mordida” para dar o troco neste domingo (12) em resposta às manifestações do dia 7 de setembro em todo o país. Porém, a temperatura política parece ter esfriado nos últimos dias, repercutindo diretamente na expectativa de presença de público nas ruas.
Um dos motivos é o recuo tático de Bolsonaro após ter avançado o sinal no dia 7. A nota que distribuiu ao país, escrita a quatro mãos com o ex-presidente Michel Temer, jogou muita água fria na fervura.
Outra razão para o esvaziamento do troco aos bolsonaristas é a falta de adesão das principais forças da esquerda, entre elas o PT, que preferiram fazer suas próprias manifestações em outubro e novembro. Sobraram partidos com menor capacidade de colocar gente na rua para se juntar ao MBL (Movimento Brasil Livre) e VPR (Vem pra Rua).
Inicialmente proposto como uma reedição da frente ampla formada no movimento das Diretas Já, em meados dos anos 80, o movimento deste domingo prevê passeatas em 15 capitais do país e o apoio dos seguintes partidos: Novo, PDT, PSB, PC do B, Cidadania, PV e Rede, além de setores do PSL, PSDB, Solidariedade, MDB, PL, Avante e Psol.
O MBL de São José dos Campos não programou nenhum ato público no município, preferindo divulgar o transporte para a manifestação da avenida Paulista, em São Paulo.
Ou seja, depois de uma terça-feira quentíssima, ao que tudo indica o domingo será um dia de paz.
DEU NA MÍDIA
Felicio elogia mobilização, mas critica conteúdo
O prefeito Felício Ramuth (PSDB) falou à rádio “Jovem Pan” na quinta-feira (9) e, perguntado pelo radialista Clemente Lemes sobre os atos do dia 7, não fugiu do assunto.
“A capacidade de mobilização de Bolsonaro é real, quase que orgânica. Mostra uma sintonia com a parte da população que o apoia”, comentou Felicio, dizendo que nesse ponto o bolsonarismo difere dos partidos de esquerda, em que os sindicatos sempre estiveram por trás da presença de público nas manifestações.
Quanto ao conteúdo dos discursos do presidente, o prefeito desaprovou “a parte de se desrespeitar as ordens da Justiça”. Lembrando das suas próprias dificuldades e discordâncias com a Justiça, disse que vai continuar cumprindo as decisões judiciais e também continuar conversando com a população e mostrando o que não concorda. “Tenho que dar satisfação à população”, explicou.
“Está muito longe dessa ruptura que foi falada, mas ele foi infeliz ao dizer que não iria respeitar ordem judicial”, concluiu Felicio.
Recado à Justiça sobre o Banhado
Ao comentar a relação entre a Prefeitura e a Justiça, Felicio Ramuth aproveitou para fazer uma cobrança. Lembrou que tramita uma ação para impedir a criação do Parque do Banhado. “Existe ação dos moradores, mas a Justiça não toma decisão. E a pior decisão judicial é aquela que não acontece”, queixou-se.
E pediu uma decisão da Justiça de primeira instância. “Seja qual for a decisão, vamos respeitar e cumprir todos os ritos legais, se tiver que recorrer a gente recorre, ou se ganhar [tudo bem], mas não concordo com o desafio a um outro poder.”
Sobrou para “parte” da Imprensa
O prefeito não poupou setores da Imprensa. “[Foi uma] decepção de parte da imprensa, que noticiou que teríamos um tiroteio, um caubói, com as pessoas armadas nas ruas. Não teve nenhuma estátua queimada, nada disso”, comentou Felicio. “Decepção para muitas frentes, desde a Imprensa, que noticiava dessa forma. Eu não acreditava nisso, acreditava que seria com ordem”. E finalizou: “Muito bacana essa liberdade democrática da população se manifestar”.
Sobrou também para o PT
Mais ou menos do nada, quando comentava a repercussão dos atos do dia 7 no Congresso Nacional, o prefeito fugiu um pouco às suas características e falou do PT de São José dos Campos.
“A gente aqui já teve a experiência de ter governo de esquerda na cidade. Foi uma grande decepção. Esse é um mal do qual o cidadão joseense está vacinado”, disparou Felicio. “Com [direito a] primeira e segunda dose, primeira com a Angela e a segunda com o Carlinhos Almeida. Aqui o cidadão já sabe o quanto mal faz um governo do PT.”
E terminou descrevendo alguns métodos que caracterizam o “jeito petista de governar”.
Veja [aqui] o vídeo contendo a entrevista do prefeito.
PONTO A PONTO
Itapemirim & Itapemirim
Tudo caminha para que a Prefeitura de São José dos Campos admita o Grupo Itapemirim como único responsável pela operação de todos os veículos do transporte coletivo em São José dos Campos.
Depois de vencer o lote 1, ter a vitória contestada pelo sindicato dos condutores da cidade, entrar em um entendimento com a entidade mediado pela própria Prefeitura e, finalmente ser contratado no final do mês de agosto, o Itapemirim foi além e disputou o lote 2, mesmo com a proibição da prática de monopólio segundo a legislação municipal.
Na sexta-feira (10), falando à rádio “CBN Vale”, o prefeito Felicio Ramuth deixou aberta a possibilidade de o Itapemirim ser admitido como vencedor do lote 2, o que faria do grupo o único operador do transporte nas ruas.
Na entrevista, o prefeito disse que o município está adotando um novo modelo no sistema de transporte, alegando que a concessão foi dividida em quatro licitações –operacional, frota, gestão de dados do sistema e gerenciamento do bilhete único. Isto caracterizaria a inexistência de monopólio.
O sindicato dos condutores já disse que não concorda com essa interpretação e estuda entrar na Justiça caso o Grupo Itapemirim seja contratado para operar os dois lotes.
O monopólio do transporte coletivo em São José foi quebrado no início de 2008, no governo do prefeito Eduardo Cury (PSDB), quando três empresas venceram a concorrência pública e foram contratadas. Na época, o secretário de Transportes, Alfredo de Freitas Almeida, declarou que o resultado do processo era “um acontecimento histórico para a cidade”.
Um novo Código Eleitoral
Em plena crise, o Brasil pode ganhar novas regras para o povo escolher seus candidatos. A Câmara dos Deputados aprovou na quinta-feira (9) o texto-base do novo Código Eleitoral com 378 votos a favor, 80 contrários e duas abstenções. A ideia é que seus quase 900 artigos unifiquem toda a legislação eleitoral que hoje provém de várias fontes.
Uma das alterações mais sensíveis é a proibição de divulgação de pesquisas eleitorais nos dois dias anteriores à eleição. Além disso, os institutos terão que divulgar o percentual de acerto de suas pesquisas nas cinco eleições anteriores.
A proposta aprovada também prevê maior liberalidade na fiscalização das contas dos partidos políticos durante as campanhas eleitorais, permitindo que elas sejam analisadas apenas de forma administrativa e não mais de forma judicial. Para piorar, o Fundo Eleitoral passa a ser usado para uma variedade mais ampla de despesas.
O texto aprovado segue agora para o Senado Federal, onde será votado. Caso os senadores façam alterações, a proposta volta para a Câmara. Por tudo isto, talvez nada de novo aconteça na eleição de 2022 caso a lei do novo código não seja aprovada até o início de outubro, ou seja, um ano antes da eleição presidencial, o que transferiria as mudanças para a eleição seguinte, em 2024.
TOQUE FINAL
“Bolsonaro é risco à democracia, e Lula é risco à economia.”
Frase do economista Edmar Bacha, um dos responsáveis pela elaboração do Plano Real, em entrevista à “Folha de S. Paulo”. “Não tem jeito, não. A gente tem de focar na construção de uma alternativa melhor, que esse país merece”, acrescentou, dizendo ainda estar 100% focado na busca de uma alternativa política aos dois nomes. Bacha disse também que a gestão Bolsonaro/Paulo Guedes coloca em risco o legado do Plano Real e que as ameaças golpistas do presidente são parte dos problemas econômicos do país.