Foi-se o tempo em que a falta de novidades marcava a rotina dos brasileiros. Mas alguns anos são mais “emocionantes” do que outros. É o caso de 2022. Um bom título para este ano é o do filme australiano produzido em 1982, estrelado por Mel Gibson e Sigourney Weaver: “O Ano em Que Vivemos em Perigo” parece retratar fielmente esses 12 meses que estão custando a passar.
Desde janeiro, o país carregou, vinda de anos anteriores, a tragédia da covid-19. Um drama que não poupou ricos nem pobres, pretos nem brancos, sulistas nem nordestinos. Foi uma tragédia completa, na saúde pública, na economia e na política.
Um brasileiro assustado foi superando, aos poucos, o medo e a crise. Alguns nunca irão se recuperar, porque morreram; outros terão muita dificuldade porque faliram seus negócios ou perderam seus empregos. Chegamos ao ponto de, nesta semana, a imprensa divulgar que 80% das famílias do país estão tecnicamente no grupo das endividadas.
À medida que os meses foram passando surgiram alguns motivos para comemorar. As mutações das cepas do coronavírus foram aliviando a gravidade das infecções e doenças que as acompanham, o número de mortes vem caindo progressivamente e a Organização Mundial da Saúde (OMS) já vislumbra o dia em que poderá decretar o fim da pandemia e atestar que a covid passa a ser uma endemia, com formas cada vez mais eficazes de controle.
Também na geração de empregos e em alguns indicadores econômicos estamos tendo alguns motivos para nos tranquilizar, embora sejam necessárias muitas notícias boas na economia para retomarmos o rumo.
E assim terminamos o primeiro semestre. Ufa… que alívio. Mas ninguém disse que o segundo seria sossegado. O próprio calendário de eventos nacionais sinalizava isso. Tanto é que vieram –e continuam vindo– emoções e mais emoções para não decepcionar a quem gosta de viver perigosamente.
No mundo, tivemos a deflagração da guerra entre Rússia e Ucrânia. O que parecia ser suficiente um fim de semana prolongado para os russos vencerem, está mostrando que a Ucrânia pode ser o novo Vietnã dos anos 60 e 70, onde os poderosos Estados Unidos foram derrotados e de onde saíram pela porta dos fundos.
O que torna este 2022 dramático para o mundo é o fato de ninguém saber se Vladimir Putin está se conformando em perder a guerra –ou sair dela com um “empate” igualmente humilhante–, ou vai tentar usar armas nucleares contra os inimigos. Tenso, não é?
Eleições e Copa
Voltemos ao nosso país tropical e abençoado por Deus. Mal estamos saindo do sobressalto da covid-19, veio o sobressalto de uma eleição atípica para presidente da República que, após uma campanha sangrenta –literalmente, em vários casos–, promete emoções fortíssimas para o próximo dia 30. Dois candidatos controvertidos disputam o poder e, não importa quem ganhe, o resultado de 2022 ficará marcado como o início de uma nova fase de grandes crises, desafios, decepções e poucas esperanças para os próximos anos.
Nas próximas semanas, como somos brasileiros, sairemos das urnas eletrônicas e mergulharemos diretamente nos campos de futebol plantados como oásis provisórios no deserto do Catar, no continente asiático. Entre 20 de novembro e 18 de dezembro, a cada vez mais distante Seleção Brasileira tentará conquistar o sexto título mundial, o que não acontece desde 2002, há 20 anos.
Não sei se teremos gás para suportar os narradores que berrarão como se estivéssemos em uma guerra de verdade, os repórteres e comentaristas que se repetirão o tempo todo e os convidados e convidadas especiais que tentarão fazer humor e “causar” durante a competição. Só espero que todos os jogadores do Brasil ainda se lembrem de falar em português. Sugestão: chega dessa história de que a Seleção é “a pátria de chuteiras”. Se ganhar ótimo; se não ganhar, paciência.
Enfim, sete dias depois de, quem sabe, o Brasil estar disputando a final da Copa, estaremos recebendo a visita do Papai Noel em nossas casas, descendo pelas nossas chaminés. [Aqui não se brinca com o significado cristão da data, antes que alguém queira me chamar a atenção.]
Depois de um ano tão zicado, o que se espera é que a passagem do bom velhinho seja tranquila, sem colisão de trenó, sem piripaque em renas, para entrarmos zerados em um 2023 que seja bem mais tranquilo.
Ninguém merece um novo 2022, o ano em que estamos vivendo em perigo…
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.