Foto / Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Olhar pra cima é uma das coisas que eu mais faço. Gosto de ver pássaros voando, apreciar a lua em suas diversas fases e, em noites com mais tempo livre e boas condições atmosféricas, ver estrelas. Fico a divagar, imaginando o que teria acontecido com as tantas estrelas que nos brindam com seu brilho de passado na escuridão. Que fim teriam levado?

Com esse amor pelo espaço que deveria ter feito de mim uma astrônoma, assistir ao filme “Não Olhe para Cima”, o quanto antes, era quase compulsório. E lá fui eu conferir o blockbuster da Netflix. Fique tranquilo, não há spoilers suficientes para estragar o filme. Também não considere minhas considerações como crítica autorizada; entendo nadica de cinema, mas se algo mexe com os meus tico e teco eu venho aqui falar com vocês, rs.

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A primeira coisa que me incomodou ao assistir “Não Olhe para Cima” foi a velocidade da edição dos acontecimentos. Leva um átimo de tempo entre a geleia na torrada, o dedo seguindo um risco na tela e a comemoração da descoberta de um asteroide.

E é assim que tudo continua filme afora; no ritmo alucinante das redes sociais, da superficialidade das emoções, da desvalorização das relações, do sério transformado em meme irresponsável, das gargalhadas plásticas formatadas para as telas. O mundo pode até acabar, mas a maquiagem e a iluminação precisam estar em ordem.

Um filme feito para a geração que já nasceu conectada, mas que, talvez, só possa ser compreendido totalmente em sua ironia pela velha guarda fã de “Armageddon”. Qualquer um que ama cinema não esquece a tensão e emoção vividas nas quase duas horas e meia desse filme épico.

Eu nem sou muito simpática ao estilo americano de ter heróis de plantão para salvar o mundo, mas “Armageddon” é uma ótima história e bem contada. Do tempo em que Bruce Willis ainda era duro de matar.

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Nesta nova versão do iminente fim do mundo o tema é o mesmo: um asteroide enorme em rota de colisão com a Terra pode extinguir a vida. A diferença é a forma como a notícia bate nos ouvidos da Casa Branca e da mídia em “Não Olhe para Cima”.

Entre likes, índices de campanha eleitoral e memes, a gravidade da extinção desaparece completamente. Impossível não traçar paralelos com o tratamento que tem sido reservado às tragédias naturais que impomos ao pedregulho espacial que habitamos.

É curioso também ver Meryl Streep, Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence e outros astros “pagando mico” em papéis histriônicos, apesar do nobre propósito de despertar reflexões.

Me chamou atenção ainda a ideia de mandar um único homem para o sacrifício na tentativa de destruir o asteroide, enquanto em “Armageddon” o personagem de Bruce Willis faz questão de montar sua própria equipe com pessoas nas quais confia. Ele até pode ser o herói da história, mas sabe que não chega até esse ponto sozinho. Nem aceita ser mandado e desmandado por desejos políticos de terceiros.

Ok, isso é meio irreal, mas é reconfortante pensar que alguém pode peitar os malucos no poder e fazer as coisas por um viés que prioriza a vida e a nobreza de caráter.

No fim das contas, o que sobrou em mim após o filme é que não precisamos mesmo olhar pra cima. Asteroide pra que, se ignoramos o aquecimento global, negamos uma pandemia, consideramos likes mais importantes que a verdade ou um abraço. O armagedom já está entre nós.

E você, pra onde tem olhado?

 

> Maria D’Arc Hoyer é jornalista (MTb nº 23.310) há 28 anos, pós-graduada em Comunicação Empresarial. Mora na região sudeste de São José dos Campos. É autora do blog recortesurbanos.com.br.

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