Torço pelo Santos Futebol Clube desde 1968, ano em que a grande maioria dos meus leitores ainda não era nascida. Mas não precisa parar de ler por aqui, porque, acima de tudo, eu gosto de futebol.
Foi isso –além de adorar uma cerveja “Império” puro malte supergelada– que me levou uma noite dessas ao Chaparral da Villa, restaurante e bar que presenteia a região do SuperBairro com comida e bebida da melhor qualidade, mas sobretudo com garçons que adoram o que fazem.
Depois dessa publicidade totalmente gratuita, vamos ao que interessa. Naquela noite, ouvi o grande Peleco cantar Gil, Caetano, Cazuza e outros seus prediletos, assisti a dois festejos de aniversariantes e, nas quatro ou cinco telas do Chaparral, estavam as imagens do jogo Grêmio x Palmeiras pelo Brasileirão.
Como disse já na primeira linha desta crônica, sou santista. Mas isso não impede que eu goste de futebol de um modo geral. Portanto, resolvi ver gaúchos e paulistas se enfrentando. E confesso que foi um jogo interessante.
Porém, à medida que a partida era transmitida pela TV, algumas cenas me deixaram incomodado. Quase todas levavam ao treinador do Palmeiras, um português chamado Abel Ferreira. Sei que o dito cujo é useiro e vezeiro de reclamar de tudo, seja da arbitragem, do estado dos gramados, das viagens longas etc. etc.
No entanto, mais do que as reclamações habituais do “portuga”, me chamaram atenção os gestos do “patrício”, que pareciam dizer que ele era mais do que todos nós. Todos nós, quem? –você vai perguntar. E eu vou arriscar a dizer: todos nós brasileiros.
Qual é a minha base para tal conclusão? Ora, é a própria trajetória do gajo. Ele tem sido conhecido por reações despropositadas, como se viesse de um tal “primeiro mundo” e caísse de repente em um terceiro mundo no qual ele fosse absolutamente superior.
Mas o Abelão não é o único. Há poucos dias, um outro treinador de futebol português, o Vítor Pereira, que passou pelo Corinthians e pelo Flamengo, falou em uma espécie de “falta de educação” no futebol brasileiro. Não vamos aqui nem mencionar histórias de sogras e outras mumunhas do rapaz.
O fato é que, de alguns anos para cá, virou moda a contratação pelos clubes brasileiros de treinadores estrangeiros, com predileção pelos lusitanos. Até aí, tudo perfeito, o Brasil sempre se notabilizou por ser um país aberto a todas as pessoas, vindas de todas as partes do planeta.
O que incomoda –e até revolta– é ver essa gente nos tratar como um país de segunda classe. Acham que podem vir aqui e dizer que nós somos isto e aquilo, e nós, cabisbaixos, deveríamos pedir perdão pelo que nem fizemos.
O time desse moço, o Palmeiras, acabou sendo derrotado por 1 a 0 pelo Grêmio, um clube que já foi campeão mundial de clubes, em 1983, com o hoje treinador Renato Gaúcho comandando a vitória contra o alemão Hamburgo. Porém, o “portuga” Abel Ferreira não respeitou o jogo em andamento e foi para o vestiário antes do apito final.
Confesso que essa atitude mexeu comigo. Até seria normal em um treinador que fosse também normal, mas não em Abel Ferreira, que, junto com Vítor Pereira, parecem achar que Portugal tem muito a ensinar ao Brasil, algo como o rabo balançando o cachorro, uma vez que o Brasil, como país, é um dos protagonistas do planeta, enquanto Portugal é um mero coadjuvante.
Se a questão é nos situarmos apenas nas quatro linhas do futebol, tudo bem, vamos lá. O “pobre” Brasil tem cinco títulos mundiais, enquanto Portugal não tem nenhum; os clubes brasileiros são amplamente mais vitoriosos que os “portugas”; o Brasil tem mais de uma dezena de jogadores entre os melhores do mundo na história de futebol enquanto o país que divide a Península Ibérica com a Espanha tem somente dois grandes destaques, Eusébio e Cristiano Ronaldo.
Concluindo esta crônica meio extemporânea, quero dizer que o Brasil tem muitos defeitos, o país precisa se desenvolver muito mais, o povo deve evoluir muito mais, mas, por favor, nunca queiram menosprezar o nosso país e o nosso povo. Antes disso, que os críticos olhem para si próprios .
Vou finalizar com uma frase muito conhecida, mas nem por isso quero que ela seja interpretada como uma manifestação xenofóbica. Que fique apenas como um protesto e um alerta:
“A porta da rua é a serventia da casa.”
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 22 anos.